São Paulo, segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÃO AMERICANA /SUPERDELEGADOS

Visado, Gore opta por neutralidade

Prêmio Nobel e outros superdelegados tentam protelar endosso até etapa final para evitar divisão de democratas

Apoio de ex-vice-presidente poderia definir corrida entre Hillary e Obama, a qual adia decisão sobre candidatura e poderá enfraquecer partido

DON VAN NATTA JR.
JO BECKER
DO "NEW YORK TIMES"

Para manter aberta a chance de mediarem uma decisão sobre o nome que o Partido Democrata lançará à Presidência, o ex-vice-presidente Al Gore e outras figuras-chaves na legenda vão se manter neutros por ora, disseram membros da agremiação na última sexta.
Há temores de que, com a disputa acirrada entre Barack Obama e Hillary Clinton, o processo se alongue até a convenção partidária, no fim de agosto, e acabe nas mãos dos chamados "superdelegados". Esses são 796 membros graduados do partido, em um universo de 4.049 votos, que decidem em quem votar independentemente dos resultados das prévias.
Os sinais de que os líderes do partido estão pensando se -e como- vão intervir reflete a preocupação de alguns democratas de não correr o risco de uma batalha interna, que os enfraqueceria ante os republicanos. Gore manteve reuniões com correligionários de peso na última semana, incluindo a presidente da Câmara, Nancy Pelosi.
Nenhum deles já endossou um candidato, embora Pelosi tenha dado declarações na sexta que foram interpretadas por muitos como sinal de apoio a Obama, ao falar do processo que o partido deve empregar para escolher seu candidato.
Poucas pessoas estão sendo observadas com mais atenção do que Gore. Alçado à condição de estrela pop pela campanha contra o aquecimento global que lhe rendeu o Nobel da Paz do ano passado, o político vem sendo alvo de lobby intenso de Hillary e de Obama.

Ressentimentos
Aliados de Gore afirmam com amargura que, em 2000, o então popular presidente Bill Clinton foi mais ativo na disputa da mulher por uma vaga no Senado do que na campanha presidencial de seu vice, que concorria com George W. Bush.
Kalee Kreider, diretora de comunicações do ex-vice-presidente, disse que ele ainda "não tem planos de apoiar um candidato". Mas quatro aliados próximos do Nobel da Paz disseram que altos funcionários do partido o consultaram para ouvir seus conselhos sobre o que os superdelegados devem fazer se, após a última prévia democrata, que terá lugar em Porto Rico em 7 de junho, nem Obama, nem Hillary acumularem os 2.025 delegados necessários para a candidatura.
As campanhas de Hillary e Obama estão fazendo lobby ativo pelos superdelegados. É uma batalha que ganhou mais atenção depois de o deputado John Lewis, da Geórgia, que tinha endossado Hillary, ter anunciado na quinta que, se a batalha pela indicação chegar à convenção, daria seu voto de superdelegado a Obama.
Bill Clinton vem fazendo ligações freqüentes para pedir votos para a mulher, e os representantes de Obama estão pressionando para que os superdelegados dos Estados em que ele venceu as prévias declarem apoio ao senador. O papel dos superdelegados é tema de discussão. A campanha de Hillary, que está perdendo na contagem de delegados comuns, defende que eles devem ser livres para escolher o candidato. Já a de Obama defende que sigam a vontade dos eleitores, demonstrada nas prévias.
Num jantar reservado, o ex-candidato John Edwards falou que conversara recentemente com Gore sobre os benefícios da neutralidade.
Um assessor do ex-vice-presidente disse que representantes de Hillary e Obama tentaram obter seu endosso. Mas ele continua a negar-se a dar o menor indício de quem favorecerá. A eleição presidencial nos EUA será em 4 de novembro.


Tradução de CLARA ALLAIN


Texto Anterior: Artigo: Os EUA e o monstro
Próximo Texto: Americanas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.