São Paulo, domingo, 18 de março de 2001

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FRANÇA

Segundo turno de pleitos municipais é termômetro para eleições gerais de 2002, quando serão escolhidos premiê e presidente

Paris define embate entre esquerda e direita


CLAUDIA ASSEF
DE PARIS

Além de eleger os novos prefeitos da França, a votação do segundo turno das eleições municipais, que se realiza hoje, servirá como termômetro para um embate ainda maior: as eleições gerais de 2002, quando serão escolhidos os novos presidente e primeiro-ministro.
O foco da briga entre os partidos de direita e de esquerda deverá se concentrar nas eleições de Paris. Administrada por prefeitos de direita desde 1977, a cidade poderá passar para as mãos da esquerda com a votação de hoje.
Depois de conseguir 31% dos votos do primeiro turno, o candidato do PS (Partido Socialista), Bertrand Delanoë, conta agora com o apoio dos Verdes na disputa -que obtiveram 12% do total de votos no domingo passado.
Uma vitória de Delanoë fortaleceria o premiê francês, Lionel Jospin, figura forte do PS e padrinho político de Delanoë, na marcha para as eleições gerais de 2002.
Ao contrário do que vinham prevendo os institutos de pesquisa de opinião, o candidato do partido de direita (RPR) não fez feio nas urnas. Philippe Séguin, representante do partido do presidente Jacques Chirac, conseguiu 25,7% dos votos dos parisienses.
"Paris é uma cidade historicamente de direita, era mesmo de se estranhar que seus eleitores mudassem radicalmente de idéia, como anunciaram alguns institutos de pesquisa de opinião", avalia o cientista político Henry Rey, do Cevipof (Centro de Estudos da Vida Política Francesa).
Até o atual prefeito de Paris, Jean Tiberi, dissidente do RPR que era dado como "morto" em sua tentativa de reeleição, conseguiu expressivos 14% dos votos.
"Por causa das pesquisas, que falavam numa ampla vantagem para o PS, a votação de primeiro turno em Paris foi uma boa surpresa para a direita e uma decepção para a esquerda", disse Henry Rey à Folha.
Segundo ele, a cidade vem ensaiando uma mudança de orientação política desde que o então prefeito Jacques Chirac deixou a administração de Paris, em 1995.
"Em Paris, a classe trabalhadora, com maior tendência a votar nos candidatos de esquerda, é formada por estrangeiros, gente que não tem direito ao voto", diz Rey. "Porém, sentimos que cada vez mais classes sociais começam a flertar com as propostas da esquerda", avalia o cientista político.
A perspectiva de chegar ao segundo turno com fôlego fez Séguin deixar para trás uma antiga rixa política.
Na sexta-feira, o candidato do RPR anunciou que estava pronto para se encontrar com o prefeito Jean Tiberi. Durante a campanha eleitoral, Séguin se recusou diversas vezes a aparecer ao lado de Tiberi, inclusive durante debates.
"É preciso unir forças para não deixar a cidade escapar das nossas mãos", disse Séguin na TV, colocando-se no mesmo saco que seu ex-inimigo Tiberi.
Séguin disse ainda que, apesar de ter passado por um momento desfavorável antes do primeiro turno, os eleitores poderiam apostar num "sprint final" da direita hoje. "A massa demorou a dar o ponto de liga, mas não desandou", disse ainda.
Da parte de Tiberi, as desavenças com Séguin também parecem ser coisa do passado. Em entrevista a um jornal francês, o prefeito de Paris disse que fará "qualquer coisa para derrotar a esquerda".
Levando-se em conta as alianças feitas depois do primeiro turno, esquerda e direita começam o dia de hoje em Paris em pé de igualdade.
No primeiro turno, a direita -de Séguin, Tiberi- somou 44,3% dos votos, enquanto a esquerda -de Delanoë e dos Verdes- conseguiu 43,7% dos votos. Os institutos de pesquisa não divulgaram pesquisas de boca-de-urna para o segundo turno.
Apontado como favorito antes do primeiro turno, o socialista Delanoë disse em seu último comício, na quinta à noite, que contava, unicamente, "com o bom senso da população".

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