São Paulo, domingo, 18 de março de 2001

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REFUGIADOS

Guerras e seca forçaram centenas de milhares de pessoas a deixar suas casas à procura de melhores condições de vida

Sem ajuda, afegãos fogem para o Paquistão

ALEX RIBEIRO
EDITOR DE FOTOGRAFIA

DO "AGORA SÃO PAULO"
Ao pisar no Paquistão, a imagem de mulheres com os rostos cobertos e homens com turbantes coloridos revelava o que seria essa viagem pelo interior do país em busca da dignidade dos refugiados afegãos.
Expulsas de seu país e vivendo aprisionadas às próprias roupas sem ter nenhum direito, as pessoas deixaram para trás histórias de famílias inteiras chacinadas em praça pública para recomeçar a vida nos campos de refugiados do Paquistão.
Além de sucessivas guerras, a seca gravíssima que atinge o Afeganistão há dois anos forçou centenas de milhares de pessoas a deixar suas casas à procura de melhores condições de vida. Além disso, segundo a ONU, mais de 150 pessoas morreram de frio em fevereiro, na região de Herat (oeste do Afeganistão). Nessa região, há seis campos de refugiados, nos quais vivem mais de 100 mil pessoas.
Em setembro do ano passado, descobri na Internet um site com histórias de mulheres que se organizaram para lutar contra a intransigência do Taleban, o grupo extremista islâmico que atualmente controla mais de 90% do Afeganistão.
Após rápida passagem por Islamabad, a capital do Paquistão, percorri 170 km durante três horas até a cidade de Peshawar.
Ali já pude deparar com alguns refugiados, principalmente mulheres, facilmente identificadas pela burga -pano que cobre totalmente o rosto.
Após o encontro com a Rawa -a Associação das Mulheres Revolucionárias do Afeganistão, que me fez o convite para esta viagem-, fui levado para o campo de refugiados de Hyuan, situado no deserto a 25 km de Peshawar e 50 km da fronteira com o Afeganistão.
Fiquei em Hyuan durante dez dias e de lá visitei outros campos numa ambulância para não despertar suspeitas.
Erguido após a guerra entre a Rússia e o Afeganistão (1979-1989), Hyuan é um campo antigo que abriga cerca de 3.000 refugiados. Parece um forte, cercado por quatro guaritas com vigias armados. Professores e alunos se revezam na vigilância. Hyuan é um campo "moderno": possui duas escolas, posto médico e produz e vende tapetes, roupas e cobertores. O dia-a-dia em Hyuan é muito duro. Nas olarias, crianças trabalham de sol a sol, fazendo tijolos para ganhar R$ 3 por dia.


Alex Ribeiro viajou ao Paquistão a convite da Rawa (Associação das Mulheres Revolucionárias do Afeganistão). O site da organização, com sede no Paquistão, é www.rawa.org

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