São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2004

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IRAQUE OCUPADO

EUA dizem que atentado tem marca de grupos terroristas islâmicos; estrangeiros estão entre os hóspedes

Ataque destrói hotel e mata 27 em Bagdá

DA REDAÇÃO

Pelo menos 27 pessoas morreram e 41 foram feridas em um novo atentado em Bagdá, que atingiu um hotel residencial no centro da cidade três dias antes do primeiro aniversário da Guerra do Iraque. Entre os hóspedes havia americanos, britânicos e egípcios.
Para o comando americano, o ataque de ontem -que, segundo informações preliminares, foi realizado com um carro-bomba- tem a marca de redes terroristas islâmicas como o Ansar al Islam e a organização de Abu Musab al Zarqawi, supostamente ligados à Al Qaeda, a rede responsável pelo 11 de Setembro.
"A bomba tinha 460 quilos de explosivo plástico e projéteis de artilharia misturados a outros explosivos, para ferir mais", disse o coronel Ralph Baker, chefe da 1ª Divisão Blindada. "Isso se encaixa no perfil das organizações terroristas islâmicas que estamos combatendo nos últimos 12 meses."
O hotel Monte Líbano era habitado por americanos, britânicos, egípcios e jordanianos. Pelo menos dois britânicos foram feridos.
O general Mark Hertling, vice-comandante da mesma divisão, afirmou não crer que os executores do ataque sejam simpatizantes do ex-ditador Saddam Hussein (1979-2003), cujo alvo preferencial são as forças de ocupação.
Logo após a explosão, dois soldados dos EUA haviam sido veementemente rechaçados pela multidão de iraquianos ao tentarem retirar alguns corpos. Horas após depois do atentado, ocorrido por volta das 20h, equipes iraquianas, auxiliadas por militares americanos, procuravam vítimas em meio aos escombros.
A maior parte das vítimas estava em casas e lojas vizinhas ao Monte Líbano, que fica no bairro de Karrada. Perto dali estão o Hotel Palestine, atingido pelos EUA durante a guerra, e a praça Al Firdos, celebrizada pela derrubada da estátua de Saddam, em abril.
Os cinco andares do hotel vieram abaixo com a explosão, que abriu na rua uma cratera de 2,5 metros de largura por 3 metros de profundidade. Com o calor e o impacto, oito carros pegaram fogo -um deles foi jogado contra a fachada de uma loja. Tijolos, pedaços de metal e aparelhos de ar-condicionado foram arremessados a centenas de metros do local.
"Só pode ter sido um carro-bomba. Nenhum foguete causaria tamanho estrago", disse o soldado Heath Balick. Não se sabe ainda se a explosão foi detonada remotamente ou por um suicida.

Alvos vulneráveis
O ataque ao Monte Líbano confirma a tendência da insurgência iraquiana, que, em seus últimos ataques, tem visado os chamados "soft targets" (alvos vulneráveis).
O hotel -como acontece com a maioria das delegacias iraquianas- não conta com barreiras protetoras de concreto e outras medidas de segurança que protegem, por exemplo, instalações da coalizão liderada pelos EUA.
"Toda vez que acham um alvo vulnerável cheio de gente, eles aproveitam para aumentar as baixas", disse o líder sunita Adnan Pachachi, membro do Conselho de Governo Iraquiano. "Não há nenhuma defesa contra esse tipo de ataque", acrescentou. Outro membro do conselho, o xiita Mowaffak al Rubaie, disse que os atentados visam interromper o processo político no país.
Com a aproximação da devolução da soberania iraquiana, marcada para 30 de junho próximo, os militares americanos já advertiram que o número de ataques deve crescer -expectativa reforçada ante o aniversário da guerra.
Washington ofereceu condolências às vítimas, mas disse que os ataques não mudarão sua política para o país. "A democracia está criando raízes no Iraque, não há como reverter esse processo", disse o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan. "É um momento de provação, mas os terroristas não vão prevalecer."


Com agências internacionais

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