|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Kerry e Cheney trocam acusações por Iraque
DAVID STOUT
DO "NEW YORK TIMES"
O senador americano John
Kerry, virtual candidato democrata às eleições presidenciais de
novembro, criticou ontem a política do presidente George W.
Bush no Iraque, afirmando que as
decisões de Bush deixaram os
EUA mais isolados e menos seguros. Mas o vice-presidente Dick
Cheney disse que Kerry não possui capacidade de liderança e que
Bush provou ser um comandante-em-chefe consistente e dotado
de clareza de visão.
"Ainda estamos atolados no
Iraque, e a administração se apega
obstinadamente a políticas unilaterais fracassadas que afastam de
nós aliados potenciais, significativos, importantes e de longa data",
declarou Kerry em palestra em
Washington. "O que temos visto é
uma sucessão constante de vidas
perdidas e um custo crescente em
dólares para o contribuinte americano, sem final à vista."
Quase ao mesmo tempo, Dick
Cheney estava defendendo Bush
e, por implicação, criticando
Kerry, num discurso que fez na
Biblioteca Presidencial Ronald
Reagan, na Califórnia.
"A população americana terá
uma opção clara a fazer na eleição
de 2004, pelo menos tão clara
quanto qualquer uma desde a
eleição de 1984", disse Cheney, referindo-se ao pleito em que Ronald Reagan ganhou um segundo
mandato presidencial, derrotando por maioria avassaladora o democrata Walter Mondale.
"A política americana precisa
ser clara e consistente em seus objetivos", continuou Cheney. ""E os
líderes americanos, sobretudo o
comandante-em-chefe, precisam
confiar na causa de nosso país e
não hesitar até que o perigo para a
nossa população seja eliminado
completamente."
Cheney disse que Kerry tem
atuado no Senado de maneira inconsistente e de forma indecisa.
"Não é um histórico impressionante para alguém que deseja se
tornar comandante-em-chefe
neste momento de grande desafio
para nosso país. O presidente
sempre dá o voto decisivo, e o senador já nos ofereceu amplos motivos para duvidar de seu julgamento e da atitude que ele aplica
em relação a questões vitais de segurança nacional."
A troca de críticas a longa distância ocorreu enquanto equipes
de resgate em Bagdá procuravam
vítimas de atentado terrorista.
As visões opostas sobre a eficácia e a moralidade da Guerra do
Iraque e os esforços para impor a
paz no país foram expressas pouco menos de um ano após o início
da campanha militar que tirou
Saddam Hussein do poder.
Kerry evocou a data tanto para
elogiar a bravura dos militares
americanos, homens e mulheres,
quanto para criticar seus líderes
atuais, que, afirmou, não lhes deram o devido apoio. "Um ano
atrás, numa demonstração extraordinária de poderio e eficiência militar americanos, nossos
soldados atravessaram o deserto a
caminho de Bagdá", disse o senador. "Dez meses atrás, George W.
Bush, sobre um porta-aviões,
proclamou que a missão tinha sido cumprida. Hoje, porém, sabemos que a missão não foi concluída, que as hostilidades não terminaram. Fomos induzidos ao erro
com relação às armas de destruição em massa", disse Kerry, aludindo ao argumento principal
usado para justificar a guerra. "E
fomos induzidos ao erro, em termos muito específicos, sobre a
evidência que nos foi mostrada
dentro dos relatos ao Congresso
dos Estados Unidos. Estamos
sendo induzidos ao erro agora,
quando os custos do Iraque nem
sequer são contabilizados no orçamento do presidente."
Kerry disse que os Estados Unidos precisam afastar-se das "políticas arrogantes" que alienaram
alguns de seus aliados de longa
data. "A resposta correta para um
fracasso não consiste em continuar com a mesma coisa", disse
ele. "Em lugar disso, precisamos
retornar de fato à comunidade internacional e compartilhar a autoridade, compartilhar os ônus
com outros países."
Texto Anterior: Iraque ocupado: Ataque destrói hotel e mata 27 em Bagdá Próximo Texto: Análise: Terrorismo islâmico não se resume à Al Qaeda Índice
|