São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2004

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Kerry e Cheney trocam acusações por Iraque

DAVID STOUT
DO "NEW YORK TIMES"

O senador americano John Kerry, virtual candidato democrata às eleições presidenciais de novembro, criticou ontem a política do presidente George W. Bush no Iraque, afirmando que as decisões de Bush deixaram os EUA mais isolados e menos seguros. Mas o vice-presidente Dick Cheney disse que Kerry não possui capacidade de liderança e que Bush provou ser um comandante-em-chefe consistente e dotado de clareza de visão.
"Ainda estamos atolados no Iraque, e a administração se apega obstinadamente a políticas unilaterais fracassadas que afastam de nós aliados potenciais, significativos, importantes e de longa data", declarou Kerry em palestra em Washington. "O que temos visto é uma sucessão constante de vidas perdidas e um custo crescente em dólares para o contribuinte americano, sem final à vista."
Quase ao mesmo tempo, Dick Cheney estava defendendo Bush e, por implicação, criticando Kerry, num discurso que fez na Biblioteca Presidencial Ronald Reagan, na Califórnia.
"A população americana terá uma opção clara a fazer na eleição de 2004, pelo menos tão clara quanto qualquer uma desde a eleição de 1984", disse Cheney, referindo-se ao pleito em que Ronald Reagan ganhou um segundo mandato presidencial, derrotando por maioria avassaladora o democrata Walter Mondale.
"A política americana precisa ser clara e consistente em seus objetivos", continuou Cheney. ""E os líderes americanos, sobretudo o comandante-em-chefe, precisam confiar na causa de nosso país e não hesitar até que o perigo para a nossa população seja eliminado completamente."
Cheney disse que Kerry tem atuado no Senado de maneira inconsistente e de forma indecisa. "Não é um histórico impressionante para alguém que deseja se tornar comandante-em-chefe neste momento de grande desafio para nosso país. O presidente sempre dá o voto decisivo, e o senador já nos ofereceu amplos motivos para duvidar de seu julgamento e da atitude que ele aplica em relação a questões vitais de segurança nacional."
A troca de críticas a longa distância ocorreu enquanto equipes de resgate em Bagdá procuravam vítimas de atentado terrorista.
As visões opostas sobre a eficácia e a moralidade da Guerra do Iraque e os esforços para impor a paz no país foram expressas pouco menos de um ano após o início da campanha militar que tirou Saddam Hussein do poder.
Kerry evocou a data tanto para elogiar a bravura dos militares americanos, homens e mulheres, quanto para criticar seus líderes atuais, que, afirmou, não lhes deram o devido apoio. "Um ano atrás, numa demonstração extraordinária de poderio e eficiência militar americanos, nossos soldados atravessaram o deserto a caminho de Bagdá", disse o senador. "Dez meses atrás, George W. Bush, sobre um porta-aviões, proclamou que a missão tinha sido cumprida. Hoje, porém, sabemos que a missão não foi concluída, que as hostilidades não terminaram. Fomos induzidos ao erro com relação às armas de destruição em massa", disse Kerry, aludindo ao argumento principal usado para justificar a guerra. "E fomos induzidos ao erro, em termos muito específicos, sobre a evidência que nos foi mostrada dentro dos relatos ao Congresso dos Estados Unidos. Estamos sendo induzidos ao erro agora, quando os custos do Iraque nem sequer são contabilizados no orçamento do presidente."
Kerry disse que os Estados Unidos precisam afastar-se das "políticas arrogantes" que alienaram alguns de seus aliados de longa data. "A resposta correta para um fracasso não consiste em continuar com a mesma coisa", disse ele. "Em lugar disso, precisamos retornar de fato à comunidade internacional e compartilhar a autoridade, compartilhar os ônus com outros países."


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