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COMENTÁRIO
Espanhóis não baixaram a cabeça diante do terrorismo
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
A seriedade dos fatos ocorridos
na Espanha tem suscitado intenso
debate e muita confusão. Pode ser
útil clarear alguns pontos.
Em primeiro lugar, parte dos espanhóis mudou seu voto na última hora porque o governo de José
María Aznar foi irresponsável ao
culpar rapidamente o ETA -e
persistir no erro-, quando, pouco depois, surgiram indícios de
que os atentados provavelmente
foram cometidos pela Al Qaeda
ou por extremistas ligados à rede.
Ainda que o governo não tenha
agido inteiramente de má-fé,
mostrou-se despreparado. Isso ficou claríssimo quando o candidato a premiê conservador, Mariano
Rajoy, disse à rede BBC ter "convicção moral" de que o ETA era o
autor. Como eleger um premiê
com tal "convicção moral"?
É difícil saber qual seria o impacto dos ataques na eleição caso
o governo Aznar tivesse admitido, desde o início, a hipótese de
uma ação da Al Qaeda e houvesse
apresentado uma defesa firme de
sua política de alinhamento aos
EUA. Teria havido um sério debate, mas a credibilidade do governo
não teria sido tão abalada.
Em segundo lugar, não é verdadeiro dizer que a maioria dos espanhóis votou com medo do terrorismo e por uma política menos
incisiva de combate ao terror islâmico, como se pretendesse fugir
da "guerra contra o terrorismo".
Nenhum governo de nenhum
país perderá votos por combater
energicamente o terrorismo, pois
essa é uma questão de vida ou
morte. Essa maioria mostrou que
acredita que a guerra contra o terrorismo não tem -ou melhor,
não tinha- nada a ver com a
Guerra do Iraque, apesar do presidente George W. Bush tê-la vendido, com apoio de Aznar, como
estando na "linha de frente" do
combate ao terror islâmico.
O regime de Saddam Hussein
era condenável e merecia ser contido, mas, pelas evidências disponíveis, não possuía ligações com a
Al Qaeda. Segundo alguns dos
mais sérios estudiosos do tema, a
invasão do Iraque foi uma distração que não trouxe avanços no
combate ao terror, pois complicou as coisas ao atiçar o sentimento antiamericano e antiocidental.
Uma ressalva: agora não é possível abandonar o Iraque. O máximo que pode ser feito é aumentar
o papel da ONU no pós-guerra.
A mensagem da maioria na Espanha foi simples: ela quer -ainda que, de certa forma, simbolicamente- separar a guerra contra
o terrorismo da Guerra do Iraque.
Mas, de maneira alguma, baixou a
cabeça diante da Al Qaeda e dos
extremistas islâmicos ou se rendeu a seus métodos terroristas.
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