São Paulo, quarta-feira, 18 de abril de 2007

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Compatriotas temem retaliação violenta

Presidente se diz "chocado" com massacre; alunos coreanos consideram abandonar universidade temendo perseguição

País asiático é o primeiro em universitários estrangeiros nos EUA, com 93 mil alunos; para imprensa local, Cho era "distante da comunidade"

DA REDAÇÃO

Revelada a identidade do homem que matou 32 pessoas anteontem em uma universidade na Virgínia, o temor de retaliações alarmou o governo em Seul e a comunidade sul-coreana nos EUA, dominando de manchetes de jornais locais a fóruns na internet.
"O que aconteceu na segunda-feira, se é que aconteceu, não tem volta. Mas nós (coreanos) podemos passar a ser desdenhados como assassinos malucos. Podia acontecer com qualquer raça", escreveu o internauta mnm744 no webfórum do jornal "Korean Herald". Era parte de uma longa discussão sobre o peso da nacionalidade no massacre, considerado o pior do gênero nos EUA.
No início do dia, quando o nome de Cho Seung-hui -um sul-coreano de 23 anos que desde os oito vivia nos EUA- veio à tona como autor do crime, o presidente da Coréia do Sul, Roh Moo-hyun, declarou-se "sem palavras" para explicar seu choque. A imprensa destacou declarações do governo no sentido de preservar suas relações diplomáticas com os EUA, de quem é um dos maiores parceiros na região, e a Chancelaria citou o caso como "incidente totalmente isolado".
Jornais e sites locais desvincularam Cho da comunidade, descrevendo-o como um jovem isolado e pouco ligado a suas raízes, que nunca freqüentava eventos e festas de sul-coreanos e que tinha poucos amigos. Na maior parte dos textos, a motivação atribuída ao crime -ainda não confirmada pela polícia- eram "problemas amorosos" do estudante.

Prevenção
"Comunidades coreanas atentas e preocupadas com ataques racistas e xenófobos contra coreanos", estampou o jornal "Joins", um dos principais do país, em seu website. No texto, depoimentos de estudantes do Virginia Tech que cogitavam voltar à Coréia do Sul temendo perseguição devido à sua nacionalidade. Relatos semelhantes foram reproduzidos pelo Daun.net, portal bastante popular no país.
A Chancelaria disse estar trabalhando com "missões diplomáticas e associações locais de coreanos residentes [nos EUA] para nos prevenirmos de eventuais desdobramentos".
Segundo dados de Seul, há cerca de 2 milhões de sul-coreanos nos EUA -a maior comunidade fora do país hoje, formada basicamente a partir da Guerra da Coréia (1950-53). Só de universitários são 93,7 mil, a maior comunidade estudantil estrangeira nos EUA.
A Associação dos Estudantes Coreanos do Virginia Tech convocou uma reunião de emergência em que criou uma força-tarefa para lidar com possíveis casos de racismo e retaliações após o episódio, informou o "Joins". Entre outras coisas, planeja compilar queixas de violência e intimidação para ações na Justiça.
O presidente da associação, Seung Woon Li, 35, disse ao Joins temer que o ocorrido "mande por água a baixo" a boa imagem dos sul-coreanos no país e alertou para o risco de retaliação também contra estudantes chineses: "Para os americanos, chineses e coreanos são muito parecidos".
O jornal lembra que o Virginia Tech tem uma comunidade asiática numerosa -cerca de 1.600 alunos, ou pouco mais de 6% de seu corpo discente- por conta de sua boa reputação em cursos de ciências exatas, como engenharia, e pela anualidade considerada barata para os padrões americanos -US$ 19 mil (cerca de R$ 39 mil).


Com agências internacionais


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