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entrevista
Para analista, notoriedade motiva ação
DENYSE GODOY
DE NOVA YORK
Intrigada com a série de
ataques com armas de fogo em escolas dos EUA no
final da década de 90, a socióloga Katherine Newman, da Universidade
Princeton, fez uma pesquisa na qual conversou
com 163 jornalistas, estudantes, professores e familiares dos envolvidos e
formulou uma teoria. O
trabalho originou o livro
"Rampage: the Social
Roots of School Shootings" (surto: as raízes sociais dos tiroteios nas escolas).
Leia a seguir trechos da
entrevista que ela concedeu à Folha:
FOLHA - Existe alguma explicação para uma tragédia como
essa do Virginia Tech?
KATHERINE NEWMAN - O perfil de quem faz algo assim
é: homens jovens, que têm
problemas de relacionamento social e dificuldade
para serem aceitos por
seus pares. Podem até se
destacar em algumas
áreas, mas não são bons
em esportes, não fazem
sucesso com as garotas. Ficam deprimidos e sentem
que precisam tomar uma
atitude para mudar o conceito que as pessoas têm
deles de "perdedores". Infelizmente, há outras imagens disponíveis que eles
podem adotar, como a de
pessoa violenta, perigosa.
FOLHA - Mesmo se eles vão
morrer ao final da ação, sem
presenciar a sua repercussão?
NEWMAN - Alguns, como
esse do Virginia Tech, planejam o suicídio ou têm
consciência de que podem
ser mortos por um policial. Porém outros, mais
novos, acham que realmente vão conseguir ser
mais populares. Eles percebem que atirar nas pessoas funciona, que a sociedade passa a prestar atenção. É perverso.
FOLHA - A senhora vê uma
escalada da violência entre jovens nos EUA?
NEWMAN - Episódios de tiroteio tendem a ocorrer
justamente em locais pacíficos, não em cidades
grandes. Em parte porque
uma pessoa que não se
sente socialmente aceita
em uma pequena localidade não encontra ali muitas
opções mais de amizade.
FOLHA - Quais traços da cultura americana podem facilitar o surgimento de criminosos assim?
NEWMAN - Temos milhões
de jovens que se sentem
pressionados e pouquíssimos se transformam em
atiradores. Não podemos
forçar a ligação entre uma
coisa e outra. São vários os
fatores que concorrem.
FOLHA - Existe alguma maneira de evitar esse tipo de
acontecimento?
NEWMAN - A principal medida a ser tomada é dar, a
quem desconfia de algo errado, oportunidade de comunicar a uma pessoa de
confiança. Muitos estudantes não falam nada por
medo de serem apontados
como delatores. Nas escolas que eu analisei, não era
difícil achar redações violentas escritas pelos atiradores, como as do assassino do Virginia Tech, mas
os professores não mostraram para ninguém.
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