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Atrás de barricada, estudante vive momento "mais assustador"
DO ENVIADO A BLACKSBURG
Até segunda, a referência que
Ruiqi Zhang tinha de uma arma
vinha dos filmes. Estudante do
primeiro ano de engenharia da
computação do Virginia Tech, o
aluno de origem chinesa tem
uma rotina tranqüila. Anteontem, poucos minutos depois
das 9h da manhã, viu um sujeito apontar uma arma em sua direção e disparar duas vezes. Era
o sul-coreano Cho Seung-hui,
segundo saberia depois, em sua
terceira tentativa de entrar numa sala. As outras deixaram dezenas de mortos.
Aos poucos, conforme os fatos são confirmados, e as pessoas que estavam no segundo
andar do prédio de engenharia
da universidade são identificadas, é possível ter uma noção
mais clara do que aconteceu.
Três salas pareciam ser o alvo
de Cho; em duas delas, ele entrou e matou os professores,
um sobrevivente do Holocausto de 76 anos e um assistente de
alemão de 35 anos.
Barricada com mesa
Mataria também um número
ainda não divulgado de alunos.
Tentou entrar na terceira sala,
a número 205. Foi barrado pelo
estudante Zeke Petzewick e
por seu colega, Ruiqi Zhang,
que a Folha localizou em
Blacksburg. Depois de ouvirem
barulhos de disparos nas salas
ao lado, os dois armaram uma
barricada improvisada com
uma mesa. Ao passar pela porta
e enxergar que havia pessoas
dentro, Cho disparou.
Os tiros passaram por Ruiqi
e por Petzewick. Uma bala varou a janela. A outra cruzou em
direção a outra sala, sem ferir
ninguém. "Foi quando ele viu
que não conseguiria entrar na
sala que disparou", segundo
Ruiqi, que define o momento
como "o mais assustador" de
sua vida. "Eu ainda estou tentando entender o que aconteceu naquela manhã, e só ver o
dia passar já é algo bastante difícil", escreveu o estudante em
e-mail à Folha.
Cidade pequena
Apesar da quantidade de alunos, cerca de 26 mil, o Virginia
Tech fica numa cidade pequena, que vive em torno da universidade.
"De certa maneira, todo
mundo se conhece", disse Yasuo Miyazaki, professor de estatística que lecionava no prédio ao lado durante o tiroteio e
que na tarde de ontem levava a
mulher e duas filhas à homenagem às vítimas no campus. "De
certa maneira, também, todo
mundo foi afetado pelo crime,
direta ou indiretamente."
Nascido no Japão há 48 anos
e morando há quatro nos EUA,
Miyazaki não conhecia Cho,
mas era amigo de um dos professores mortos por ele, G.V.
Loganathan.
O indiano de 51 anos dava aulas de engenharia civil e de
meio ambiente. Estava no segundo andar do prédio durante
o tiroteio. "Minha mulher viu
um parente de Loganathan telefonar para a Índia para avisar
os outros familiares", disse Miyazaki. "Ela disse que foi o telefonema mais longo e duro de
ser feito que já presenciou."
(SÉRGIO DÁVILA)
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