São Paulo, quarta-feira, 18 de abril de 2007

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Atrás de barricada, estudante vive momento "mais assustador"

DO ENVIADO A BLACKSBURG

Até segunda, a referência que Ruiqi Zhang tinha de uma arma vinha dos filmes. Estudante do primeiro ano de engenharia da computação do Virginia Tech, o aluno de origem chinesa tem uma rotina tranqüila. Anteontem, poucos minutos depois das 9h da manhã, viu um sujeito apontar uma arma em sua direção e disparar duas vezes. Era o sul-coreano Cho Seung-hui, segundo saberia depois, em sua terceira tentativa de entrar numa sala. As outras deixaram dezenas de mortos.
Aos poucos, conforme os fatos são confirmados, e as pessoas que estavam no segundo andar do prédio de engenharia da universidade são identificadas, é possível ter uma noção mais clara do que aconteceu. Três salas pareciam ser o alvo de Cho; em duas delas, ele entrou e matou os professores, um sobrevivente do Holocausto de 76 anos e um assistente de alemão de 35 anos.

Barricada com mesa
Mataria também um número ainda não divulgado de alunos. Tentou entrar na terceira sala, a número 205. Foi barrado pelo estudante Zeke Petzewick e por seu colega, Ruiqi Zhang, que a Folha localizou em Blacksburg. Depois de ouvirem barulhos de disparos nas salas ao lado, os dois armaram uma barricada improvisada com uma mesa. Ao passar pela porta e enxergar que havia pessoas dentro, Cho disparou.
Os tiros passaram por Ruiqi e por Petzewick. Uma bala varou a janela. A outra cruzou em direção a outra sala, sem ferir ninguém. "Foi quando ele viu que não conseguiria entrar na sala que disparou", segundo Ruiqi, que define o momento como "o mais assustador" de sua vida. "Eu ainda estou tentando entender o que aconteceu naquela manhã, e só ver o dia passar já é algo bastante difícil", escreveu o estudante em e-mail à Folha.

Cidade pequena
Apesar da quantidade de alunos, cerca de 26 mil, o Virginia Tech fica numa cidade pequena, que vive em torno da universidade.
"De certa maneira, todo mundo se conhece", disse Yasuo Miyazaki, professor de estatística que lecionava no prédio ao lado durante o tiroteio e que na tarde de ontem levava a mulher e duas filhas à homenagem às vítimas no campus. "De certa maneira, também, todo mundo foi afetado pelo crime, direta ou indiretamente."
Nascido no Japão há 48 anos e morando há quatro nos EUA, Miyazaki não conhecia Cho, mas era amigo de um dos professores mortos por ele, G.V. Loganathan.
O indiano de 51 anos dava aulas de engenharia civil e de meio ambiente. Estava no segundo andar do prédio durante o tiroteio. "Minha mulher viu um parente de Loganathan telefonar para a Índia para avisar os outros familiares", disse Miyazaki. "Ela disse que foi o telefonema mais longo e duro de ser feito que já presenciou." (SÉRGIO DÁVILA)


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