São Paulo, sábado, 18 de abril de 2009

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Aceno de Raúl aparece na TV controlada; Obama, não

FLÁVIA MARREIRO

DA REPORTAGEM LOCAL

O principal canal de TV cubano, estatal, transmitiu ontem à noite a cerimônia na Venezuela na qual o líder máximo do país, Raúl Castro, se disse disposto a conversar "sobre tudo", de direitos humanos a prisioneiros políticos, com os EUA. A cobrança de Barack Obama para que o regime aja em resposta a seu "ato de boa-fé" de liberar as viagens e remessas de cubanos-americanos à ilha, porém, não apareceu no noticiário.
"Poderia falar de muito mais coisas. Podemos estar equivocados. Admitimos isso, somos seres humanos. Estamos dispostos a sentar e a discutir quando queiram", disse Raúl anteontem durante a cúpula da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas). A longa reunião foi transmitida na íntegra pela TV. O ex-ditador convalescente Fidel Castro, que tem escrito freneticamente nos últimos dias em sites oficiais, não havia comentado até o fechamento desta edição.
Diante da troca de declarações mais conciliatórias em décadas, estudiosos e observadores da relação Havana-Washington se perguntam o que significa "tudo" para Raúl.
Ao mesmo tempo em que se diz disposto, o Castro mais novo diz que já há liberdade de expressão e política na ilha. Voltou a propor que os EUA soltem os cinco cubanos condenados na Flórida por espionagem em troca de liberar os presos políticos. Analistas dizem que a proposta de Raúl pode travar a evolução da aproximação, uma vez que presos de consciência, estimados em 210 pessoas, dificilmente serão equiparáveis aos cinco cubanos, e preveem enorme grita dos cubano-americanos em Miami caso Obama a cogite.
"Se uma mudança em direitos humanos é uma precondição para conversar, então essas palavras e ofertas continuam onde estão. Mas, se Obama deseja começar o diálogo, Raúl está claramente disposto a ouvir a crítica dos EUA", escreveu em seu blog Phil Peters, especialista do Lexington Institute.

Fases do contato
Peters e outros recomendam reiniciar os contatos com Havana por temas como imigração e tráfico de drogas, e, no cara a cara e sem a mídia, falar de direitos humanos e liberdades democráticas. Essa também é a visão do Brasil, que prega a nomeação pela Casa Branca de um "enviado" para Cuba.
De todo modo, Obama conseguiu jogar a pressão para o regime. Uma resposta dura à Casa Branca, ainda que a ilha não tenha acesso a todo o balé de declarações, trará ônus para Raúl, em meio a uma situação econômica cada dia pior.
"Cuba não pode optar por dar as costas para Obama", disse à Folha Alejandro Armengol, colunista do "El Nuevo Herald", de Miami. Após liberar as viagens à ilha, "Obama deve estar com a popularidade nas nuvens em Cuba". Segundo ele, o cálculo do regime deve ser "tentar repetir o processo que levam a cabo com a União Europeia, que é dilatar o mais possível os compromissos enquanto obtêm algumas vantagens. Na prática, é possível que tentem aproximação com mudanças na área econômica".


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