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Aceno de Raúl aparece na TV controlada; Obama, não
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
O principal canal de TV cubano, estatal, transmitiu ontem à
noite a cerimônia na Venezuela
na qual o líder máximo do país,
Raúl Castro, se disse disposto a
conversar "sobre tudo", de direitos humanos a prisioneiros
políticos, com os EUA. A cobrança de Barack Obama para
que o regime aja em resposta a
seu "ato de boa-fé" de liberar as
viagens e remessas de cubanos-americanos à ilha, porém, não
apareceu no noticiário.
"Poderia falar de muito mais
coisas. Podemos estar equivocados. Admitimos isso, somos
seres humanos. Estamos dispostos a sentar e a discutir
quando queiram", disse Raúl
anteontem durante a cúpula da
Alba (Alternativa Bolivariana
para as Américas). A longa reunião foi transmitida na íntegra
pela TV. O ex-ditador convalescente Fidel Castro, que tem escrito freneticamente nos últimos dias em sites oficiais, não
havia comentado até o fechamento desta edição.
Diante da troca de declarações mais conciliatórias em décadas, estudiosos e observadores da relação Havana-Washington se perguntam o que
significa "tudo" para Raúl.
Ao mesmo tempo em que se
diz disposto, o Castro mais novo diz que já há liberdade de expressão e política na ilha. Voltou a propor que os EUA soltem
os cinco cubanos condenados
na Flórida por espionagem em
troca de liberar os presos políticos. Analistas dizem que a proposta de Raúl pode travar a evolução da aproximação, uma vez
que presos de consciência, estimados em 210 pessoas, dificilmente serão equiparáveis aos
cinco cubanos, e preveem enorme grita dos cubano-americanos em Miami caso Obama a
cogite.
"Se uma mudança em direitos humanos é uma precondição para conversar, então essas
palavras e ofertas continuam
onde estão. Mas, se Obama deseja começar o diálogo, Raúl está claramente disposto a ouvir a
crítica dos EUA", escreveu em
seu blog Phil Peters, especialista do Lexington Institute.
Fases do contato
Peters e outros recomendam
reiniciar os contatos com Havana por temas como imigração e tráfico de drogas, e, no cara a cara e sem a mídia, falar de
direitos humanos e liberdades
democráticas. Essa também é a
visão do Brasil, que prega a nomeação pela Casa Branca de
um "enviado" para Cuba.
De todo modo, Obama conseguiu jogar a pressão para o regime. Uma resposta dura à Casa Branca, ainda que a ilha não
tenha acesso a todo o balé de
declarações, trará ônus para
Raúl, em meio a uma situação
econômica cada dia pior.
"Cuba não pode optar por dar
as costas para Obama", disse à
Folha Alejandro Armengol, colunista do "El Nuevo Herald",
de Miami. Após liberar as viagens à ilha, "Obama deve estar
com a popularidade nas nuvens
em Cuba". Segundo ele, o cálculo do regime deve ser "tentar
repetir o processo que levam a
cabo com a União Europeia,
que é dilatar o mais possível os
compromissos enquanto obtêm algumas vantagens. Na
prática, é possível que tentem
aproximação com mudanças
na área econômica".
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