São Paulo, domingo, 18 de abril de 2010 |
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"Reiteração de heróis do passado ocorre porque há crise de futuro" DE CARACAS O historiador e antropólogo venezuelano Fernando Coronil, professor da Universidade da Cidade de Nova York, é autor "The Magic State: Nature, Money and Modernity in Venezuela" (O estado mágico: natureza, dinheiro e modernidade na Venezuela, The University of Chicago Press, 1997), considerado um clássico moderno sobre o Estado venezuelano, a relação com o petróleo e a tradição de presidentes fortes. (FM)
FOLHA - Dos presidentes que falam de "segunda independência", Chávez é o que mais se dedica a ligar sua imagem à de Bolívar. Vale a pena o investimento? FERNANDO CORONIL - Sempre nas Américas as elites usaram a independência como um momento fundacional. Agora, há duas coisas novas. Os governos "esquerdistas" também anunciam uma segunda independência, mas os momentos fundacionais já não são só as guerras de independência: para Evo Morales, são 500 anos de luta anticolonianista; para os Kirchner, são as lutas do peronismo progressista; para Michelle Bachelet, a empreitada allendista. Para Chávez, é fundamentalmente a guerra da independência porque isso lhe permite se apresentar como um "segundo Bolívar". Mas até Chávez expandiu a genealogia da Revolução: ontem [13 de abril], falou de 200 anos de luta, mas também de 500 anos, uniu Bolívar com a lutas de Guaicaipuro, o cacique conhecido por sua resistência aos colonizadores. Para o povo, Chávez representa o mestiço, Bolívar, mas também Guaicaipuro. Chávez não é o Bolívar das elites, mas o popular que encontramos no imaginário popular, tanto secular como religioso. Essa reiteração de heróis do passado ocorre porque há uma crise de futuro. Nenhum sistema oferece um futuro confiável, viável. Então, todos os presidentes esquerdistas, sem modelos de futuro, têm de negociar no presente com o capitalismo, prometendo um futuro vago, e buscar modelos sólidos no passado. A constante celebração revela a necessidade de ter um fundamento sólido quando o horizonte de futuro parece falso. FOLHA - O sr. diz que, com os discursos, Chávez quer produzir a "história" e a "revolução". Mas, se a fala
se distancia tanto da realidade, não
pode se desfazer o "encanto"?
FOLHA - Que lugar Chávez tem na
história da Venezuela?
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