São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2006

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ESTRANHOS NO PARAÍSO

Projeto impede que imigrantes com antecedentes criminais optem pela cidadania americana

Senado dos EUA aprova cerca com México

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Senado americano aprovou ontem a construção de uma cerca de três camadas com 595 quilômetros de extensão na fronteira com o México. É o equivalente a um pouco mais que a distância rodoviária entre São Paulo e Belo Horizonte.
Também foi votada a criação de barreiras para veículos espalhadas por 805 quilômetros de fronteira. Aprovada por 83 a 16 votos, essa é a primeira grande vitória dos conservadores em dois dias de debates da reforma da lei de imigração no Senado.
Por unanimidade, os senadores também aprovaram que imigrantes ilegais com antecedentes criminais (um delito grave ou três delitos menores) não terão possibilidade de solicitar a cidadania americana.
Para conseguir o respaldo unânime, foram abertas algumas exceções. Imigrantes que tenham como antecedente penal o fato de ter ignorado uma ordem de deportação não entram nessa nova norma. Eles podem permanecer nos Estados Unidos se sua saída do país provocar "dificuldades extremas" a seus parentes que continuem no país legalmente.
"Os conservadores não ficaram tão convencidos com o discurso do [presidente George W.] Bush para criar um programa que conceda cidadania aos ilegais", diz o analista político Michael Barone, colunista da revista "U.S. News". "A única coisa que é consenso entre senadores e deputados é a construção da cerca".
Nos 3.200 quilômetros que separam os Estados Unidos do México já existe uma barreira com 112 quilômetros, concentrada na Califórnia. A cerca tripla de 595 quilômetros votada ontem pelos senadores é menor que a aprovada pelos deputados em dezembro, de 1.125 quilômetros. "Em vários outros temas da imigração, a posição dos deputados continua bem menos flexível que a dos senadores", diz Barone.
O senador republicano Jeff Sessions disse à agência Associated Press que a construção da barreira vai "dar um sinal de que os dias da fronteira aberta estão acabados". "Boas cercas fazem bons vizinhos", declarou.
As emendas aprovadas pelos senadores serão debatidas na Câmara dos Representantes (deputados) na semana que vem. Depois, a lei será discutida em uma comissão parlamentar composta por membros das duas casas, o Comitê de Conferência. O projeto aprovado pelos deputados em dezembro não previa nenhum processo para a concessão de cidadania aos ilegais.

Cidadania
Hoje, o Senado deve discutir a criação de um programa para trabalhadores temporários defendido por Bush, além de formas e exigências para regularizar cerca de 12 milhões de ilegais.
Bush fez um raro discurso televisionado na segunda-feira defendendo o projeto do Senado. O assunto é extremamente sensível em um ano de eleições legislativas. Mais de um milhão de imigrantes, em sua maioria latino-americanos, saíram às ruas em março e em abril para exigir mudanças na lei.
Dentro da ofensiva do presidente para aprovar seu projeto, ele enviou um de seus principais assessores, Karl Rove, para discutir ontem o assunto com parlamentares republicanos.
Bush planeja viajar hoje ao Arizona para explicar as mudanças propostas na lei. Alguns Estados da fronteira são os maiores opositores a qualquer flexibilização na política de imigração.
A polêmica da nova lei começou em dezembro de 2005, quando os deputados aprovaram um projeto que transformava em criminoso o imigrante ilegal e previa um programa de deportação em massa. Também penalizava empresários que ajudassem os ilegais.


Com agências internacionais

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