São Paulo, terça-feira, 18 de junho de 2002

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AMÉRICA LATINA

Governo anuncia vitória no referendo sobre o regime; para dissidentes, intenção é responder a pressões por reformas

Cubanos aprovam socialismo "intocável", diz Havana

DA REDAÇÃO

Autoridades cubanas reagiram a uma campanha pró-reformas anunciando os resultados de seu próprio referendo, que mostraria que a população quer fazer do socialismo um sistema "intocável" no país.
Líderes dissidentes que coletaram assinaturas para a realização de um referendo para decidir sobre as liberdades civis, como direito de expressão, direito de ter negócios particulares, anistia para prisioneiros políticos e reforma eleitoral, disseram que a intenção do ditador Fidel Castro era manter o sistema de partido único no país e evitar debates sobre reformas.
O jornal "Granma" (oficial) disse que 7,4 milhões de cubanos (cerca de 67% da população total, de 11 milhões de pessoas, e mais de 90% dos eleitores, segundo um representante do governo) assinaram o referendo que deixaria o sistema cubano "intocável", tornando-o imune a reformas.
A proposta também diz que "as relações econômicas, diplomáticas e políticas com qualquer outro Estado não poderão jamais ser negociadas sob agressão, ameaça ou pressão de uma potência estrangeira".
Segundo a agência Reuters, muitos cubanos disseram não ter outra opção a não ser firmar a proposta para evitar que o governo os considerasse oposicionistas.
Os críticos afirmam que Fidel quer esvaziar o Projeto Varela, proposta de referendo, feita por opositores, para acabar com o regime de partido único.
Poucos cubanos tiveram conhecimento do Projeto Varela até o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter (1977-81) divulgá-la em discurso na TV durante a sua histórica visita no mês passado.
O governo cubano afirma que o Projeto Varela é financiado pelos EUA "com o intuito de destruir a sociedade igualitária" de Cuba.
Os EUA apoiaram a campanha dos poucos e fragmentados dissidentes cubanos que vivem na ilha. Eles conseguiram 11 mil assinaturas, mais do que o exigido pela Constituição, por um referendo.
Fidel, 75, disse que os cubanos deram a resposta ao presidente George W. Bush, que defendeu eleições livres e economia de mercado para Cuba no mês passado.
Já Bush disse que não apoiaria a "tirania" e bloqueou articulações nos EUA para relaxar o embargo contra Cuba. Bush se ofereceu para reduzir as sanções se Cuba promovesse reformas democráticas.

"110% de aprovação"
Os cubanos que se opõem a Fidel nos EUA responderam com ironia ao referendo pró-socialismo. "Fidel é capaz de obter o apoio a seu regime de 110% dos cubanos", afirmou, em Miami, Mariella Ferretti, porta-voz da Fundação Nacional Cubano-Americana.
"Advertimos os cubanos das graves consequências de manter esse regime político em vez de exercer o direito soberano de mudar e escolher seu sistema político e econômico", disse um comunicado do grupo dissidente Todos Unidos pela Liberdade.
Oswaldo Paya, defensor do Projeto Varela, disse que o governo não queria publicar as reivindicações porque os cubanos estavam cada vez mais interessados. "Eles têm medo de promover um referendo porque, se houver um voto sobre o Projeto Varela, as pessoas vão votar a favor dele."


Com agências internacionais


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