São Paulo, sábado, 18 de junho de 2005

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EUROPA

Encontro esbarrou nas divergências entre a França e o Reino Unido sobre o orçamento para o período de 2007 a 2013

Termina em fracasso a cúpula européia

DA REDAÇÃO

Terminou ontem em fracasso a reunião dos presidentes e premiês dos 25 países-membros da União Européia, pois eles não conseguiram definir critérios para o orçamento plurianual que o bloco aplicaria entre 2007 e 2013.
O presidente em exercício da UE, Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro de Luxemburgo, constatou o impasse e a impossibilidade de um acordo por volta das 23h, hora de Bruxelas.
A delegação britânica, chefiada pelo primeiro-ministro Tony Blair, rejeitou uma proposta francesa de última hora, pela qual Londres apenas congelaria nos próximos oito anos o valor do desconto que recebe em suas contribuições ao orçamento.
Esse desconto, que a França desejava de início ver reduzido, tende a aumentar em razão do crescimento do PIB europeu.
Blair e seus adjuntos argumentaram que não poderiam dar mais dinheiro à UE, porque, na prática, estariam financiando o sistema de subsídios agrícolas, do qual a França é a grande beneficiada. No Reino Unido, os subsídios à agricultura são quase inexistentes.
A União Européia tem neste ano um orçamento de 106 bilhões. Um euro valia ontem R$ 2,92. Os subsídios agrícolas encabeçam as despesas, com 42%.
Os britânicos estão contribuindo com 15 bilhões para o bolo orçamentário. Mas um terço dessa quantia volta sob a forma de desconto em sua contribuição.
Por meio de seu porta-voz, Blair disse, por volta das 22h de ontem, hora local, que não faria concessões, a não ser em troca de "sólidas promessas" de reforma na atual estrutura de gastos com a agricultura dentro do bloco.
A mediação até a última hora foi feita por pequeno Grão-Ducado de Luxemburgo, atual presidente rotativo da UE. O premiê Jean-Claude Juncker movimentou-se para salvar um Conselho Europeu -nome da reunião de governantes- aberto na véspera sob o mau augúrio da derrota do projeto de Constituição européia nos plebiscitos francês e holandês.
A polarização entre Blair e o presidente francês, Jacques Chirac, traz dos dois lados argumentos convincentes. A França argumenta que ela e a Itália "pagam" por mais da metade do desconto que o Reino Unido recebe.
Mas Londres responde que o desconto representa só a metade dos 10,5 bilhões que os franceses retiram da União Européia para subsidiar sua agricultura.
É provável que, a portas fechadas, os participantes não tenham discutido apenas números. O fato é que, por trás da discussão, existiam duas concepções de Europa. Os britânicos falam em competitividade do bloco no mundo globalizado, e os franceses em solidariedade interna e manutenção de alimentos baratos.
De simbólico, por volta da meia-noite, havia a declaração conjunta dos dez países no ano passado incorporados à UE (como Polônia, Chipre ou Letônia). Eles disseram não aceitar o malogro e pediram "novos esforços" para que se chegue a um acordo.
O Conselho Europeu já havia decidido, anteontem, ampliar até meados de 2007 o prazo de ratificação do projeto de Constituição.
A questão fortalecia a sensação de crise, antes mesmo que os governantes chegassem para o encontro de Bruxelas. Com a decisão de ampliar o prazo, a Dinamarca, Portugal e a Irlanda decidiram suspender seus plebiscitos, enquanto o Parlamento de Luxemburgo decide na próxima terça se manterá sua própria consulta, marcada para 10 de julho.


Com agências internacionais

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