São Paulo, sábado, 18 de junho de 2005

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EUA

Remédio que trata insuficiência cardíaca mostrou melhores resultados em afro-americanos; analistas temem racismo

Grupo da FDA avaliza droga "para negros"

DA REDAÇÃO

Um painel consultivo da FDA, a agência de fármacos e alimentos dos EUA, recomendou ontem a aprovação de um medicamento para doenças cardíacas direcionado especificamente para pacientes negros, o primeiro do gênero a chegar perto do mercado. A FDA pode contestar a recomendação, mas não deve fazê-lo.
Segundo o jornal "The Washington Post", o remédio, cujo nome comercial é BiDil, provocou reações contraditórias entre cientistas e grupos de defesa de minorias nos EUA. Enquanto alguns saudaram a chegada de uma arma específica contra a insuficiência cardíaca entre pessoas de ascendência africana (que sofrem mais com o problema do que os brancos no país), outros disseram temer que o BiDil possa reforçar a idéia de que as raças humanas são biologicamente distintas -e, portanto, a discriminação racial.
Dados da NitroMed, empresa que pretende comercializar a droga, mostram que ela reduz a mortalidade por insuficiência cardíaca em 43% entre pacientes negros, além de diminuir a chance de ser hospitalizado em 39%. Os resultados em brancos foram muito menos animadores, o que levou a empresa a decidir "segmentar" os consumidores do remédio.
"Basicamente, nós só seguimos os dados", disse Michael Loberg, presidente da NitroMed. "Acho que este é um grande dia, mas de maneira nenhuma queremos sugerir que ela funciona em todos os afro-americanos." A crítica de alguns cientistas se refere justamente a esse fato: para eles, o remédio também poderia ser útil para outros grupos.
Mais de 700 mil negros americanos sofrem de insuficiência cardíaca, causada principalmente por ataques do coração, diabetes e pressão alta. A etnia tende a ser diagnosticada com a doença mais cedo e morre mais dela que a média da população. No entanto Troy Duster, sociólogo da Universidade de Nova York, criticou o direcionamento do produto: "Esse é o primeiro passo do que poderíamos chamar de medicina racializada. Devíamos olhar para as características bioquímicas de cada indivíduo, e não para o fato de que ele é branco ou negro".
Estudos genéticos sugerem que, quanto à susceptibilidade a doenças, existem diferenças sutis, mas importantes, entre os vários povos do planeta. Sabe-se, por exemplo, que os africanos são mais resistentes à malária, mas têm maior tendência a sofrer de um tipo de anemia.


Com "The Independent"

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