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A PRÓXIMA GERAÇÃO
Programa da Heritage, uma das principais organizações conservadoras do país, custa US$ 570 mil anuais
Fundação forma direita do futuro nos EUA
JASON DEPARLE
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON
São jovens, inteligentes e partidários ardorosos da direita. Decoram as divisórias de seus postos
de trabalho com calendários enfeitados por fotos de Ronald Reagan, e almoçam nas praças, conversando sobre as teorias de livre
mercado de Friedrich von Hayek.
Vêm de 51 faculdades, e 28 Estados norte-americanos, e querem
impostos baixos, defesa forte e
alojamentos estudantis com vista.
E vamos deixar bem claro: não estão aqui para operar copiadoras.
Os estagiários de verão da Heritage Foundation chegaram a
Washington formando um corpo
de elite entre os pesquisadores da
principal organização conservadora de pesquisa na capital.
Os 64 jovens receberão ajuda de
custo de US$ 2,5 mil por suas dez
semanas de estágio, e cerca de
metade deles estão hospedados
em um alojamento subsidiado na
sede da fundação, com acesso a
uma sala de ginástica.
Incomum por suas dimensões
(e pelos armários imensos que os
alojamentos oferecem), o programa, no qual a Heritage investe
US$ 570 mil ao ano, é tanto um
dos postos mais ambicionados no
movimento dos jovens conservadores americanos como um
exemplo dos esforços da direita
para cultivar a juventude.
Scott Hurff, estudante de terceiro ano na Universidade Wake Forest, queria tanto o estágio que se
candidatou três vezes. Rachel Seidenschnur estava de olho na Heritage Foundation desde sua juventude, em Little Rock, Arkansas, onde, no segundo grau, ela
reabriu o clube dos jovens republicanos na Central High School.
Kenneth Cribb chegou com
contatos familiares e um livro do
escritor conservador Russell Kirk,
que, segundo ele, "me causa arrepios". Daren Stanaway e Brian
Christiansen dizem que consideram a Heritage como uma oportunidade para escapar da ortodoxia liberal que encontraram nas
universidades Harvard e Yale.
"Diante das críticas, muitos
conservadores jovens e inteligentes responderam simplesmente
escondendo suas crenças e se deixando levar pelos grupos que freqüentam", escreveu Stanaway no
ensaio que acompanhava sua inscrição ao estágio. "Recuso-me a
ser um deles".
Como todos os inscritos no programa da Heritage, ela também
respondeu a um questionário de
12 perguntas cujo objetivo é detectar traços latentes de liberalismo quanto a controle de armas,
aborto, seguro social e defesa contra mísseis.
Se os inscritos concordam com
a afirmação de que "aumentos de
impostos são a maneira mais
apropriada de equilibrar o orçamento", por exemplo, o estágio
na Heritage provavelmente não é
adequado para eles.
Fábrica de líderes
Sentado em seu grande escritório no topo da organização que ele
passou três décadas construindo,
Edwin J. Feulner, presidente da
Heritage há muito tempo, menciona a placa que pende sobre um
dos auditórios da fundação
"construindo para a próxima geração"- como prova da importância dessa missão de desenvolvimento de lideranças.
"Se conseguirmos que os jovens
se envolvam, eles continuarão a
apoiar a Heritage, nossa idéia e
nossas causas", disse Feulner.
"Pensamos sobre nós quase como
se fôssemos uma faculdade".
Argumentando que os liberais
dominam a maioria dos campus,
Feulner disse que "temos de cultivar nossa alternativa".
É uma alternativa com poucos
rivais. O Instituto Brookings, grupo centrista criado mais de 50
anos antes da Heritage, não tem
estágios pagos. O mesmo se aplica
ao Instituto de Política Progressista, que promove uma versão
centrista do liberalismo.
O Centro de Prioridades Políticas e Orçamentárias, um dos mais
conhecidos grupos de combate à
pobreza, tem dez estagiários remunerados. Já o People for the
American Way, um dos bastiões
do liberalismo em Washington,
conta com 40 estagiários mas não
oferece alojamento.
"Não restam dúvidas de que a
direita, ao longo dos últimos 25
anos trabalhou muito melhor na
criação de um sistema de desenvolvimento de líderes", disse
Ralph G. Neas, presidente da People for the American Way.
Como muitos outros grupos liberais, o dele recentemente expandiu as atividades conduzidas
fora de suas instalações, em um
esforço para acompanhar o ritmo
de atividade da direita.
"Eles investiram nos jovens",
disse Neas. "Estamos tentando
acompanhá-los".
Embora o prestígio da Heritage
seja parte de sua atração, o mesmo se aplica ao trabalho destinado aos estagiários de verão, que
raramente envolve tarefas como
servir café ou operar copiadoras.
Joel Peyton, que acaba de se formar na Universidade do Oeste do
Kentucky, está ajudando a escrever um estudo sobre serviços privatizados em parques nacionais.
Trata-se de uma tarefa para a
qual ele pode se considerar muito
bem preparado: depois de passar
três verões como estagiário em
um parque estadual do Kentucky,
publicou um trabalho este ano em
que denuncia "a ineficiência do
sistema de parques gerido pelo
governo".
Quando a inscrição de Peyton
chegou à mesa de Ronald D. Utt,
um pesquisador sênior da Heritage, conta Utt, ele disse "precisamos desse cara". Especialista em
privatização, Utt vinha querendo
apresentar os mesmos argumentos sobre o Serviço Nacional de
Parques, que ele define como "o
maior serviço mundial de limpeza
e jardinagem". Peyton passará o
verão em sala anexa ao escritório
de Utt, ajudando-o a defender seu
argumento.
A Heritage sempre usou estagiários, em pequenos números,
desde sua fundação, em 1973. Mas
intensificou seus esforços há cerca
de 15 anos, contratando um coordenador de estagiários para trabalhar em período integral.
Outro salto adiante aconteceu
em 1999, quando um dos patrocinadores da instituição, Tom
Johnson, se ofereceu para doar
um edifício adjacente à sua sede.
Feulner deu início a uma campanha de arrecadação de fundos para levantar US$ 12 milhões com o
objetivo de reformar o edifício e
abrir espaço para a criação de 30
quartos. Por US$ 10 mil, o doador
tem seu nome exposto em placa
de bronze anexa à porta de um
dos dormitórios.
O médico C. N. Papadopoulos,
conhecido como Gus, patrocinou
dois quartos, com os nomes de
sua mãe e de sua sogra. Papadopoulos, um imigrante grego que
hoje vive em Houston, deixou seu
emprego como anestesiologista
para trabalhar em bancos e com
imóveis, e se tornou doador da
Heritage uma década atrás, depois que um pedido de dinheiro
enviado por mala direta atraiu seu
interesse porque se enquadrava à
crença do empresário na livre empresa.
Papadopoulos disse que ajudou
a financiar o alojamento porque
desejava que "esses jovens fossem
a Washington para descobrir o
que esse país significa".
"Essa é a terra da oportunidade", disse Papadopoulos, "e sempre será, desde que você não dependa de ajuda do governo federal para fazer qualquer coisa".
Katharine Rogers, aluna de primeiro ano na Universidade Georgetown, está passando o verão no
quarto Keith e Lois Mitchell, no
piso Sr. e Sra. Theodore Smyth,
logo acima do salão Norma Zindahl para estagiários, que fica adjacente ao centro de estagiários
William J. Lehrfeld.
O pai de Rogers doa dinheiro à
Heritage há muito tempo, e ela está trabalhando no setor de contato com doadores, o que acredita
ser útil para a carreira que pretende seguir, no segmento de lobby
para a indústria farmacêutica.
"Tudo gira em torno de criar relações pessoais", disse Rogers. "É
assim que o negócio começa".
Prata da casa
Entre os notáveis ex-estagiários
da Heritage temos Rich Lowry,
editor da "National Review", e
Thad T. Viers, eleito aos 24 anos
para a assembléia estadual da Carolina do Sul.
Agora com 27 anos e estudando
direito, além de manter seu mandato, Viers descreve sua passagem pela Heritage como um "momento muito precioso" em uma
trajetória que se estende de uma
infância vivida em um trailer, levando-o a uma faculdade na Cidadel e, enfim, à vida política.
"É sempre uma carta que tenho
no arsenal, se alguém pretende
contestar minhas credenciais
conservadoras", disse Viers. "Um
verdadeiro trunfo". Outros antigos estagiários têm cargos no
Congresso e na Casa Branca.
Lowry teoriza que os jovens
conservadores estão especialmente interessados nas idéias que
embasam a política, porque muitas vezes estudaram em universidades liberais onde têm de se defender constantemente.
A teoria encontra apoio entre a
leva atual de estagiários da Heritage, que freqüentemente falam de
viver em inferioridade numérica
diante de colegas de estudo mais
esquerdistas.
Entre as vantagens oferecidas
pelo disputado programa de verão há uma série de almoços nos
quais os internos debatem o panteão literário conservador.
"Porque fui criado como cristão, com sólidos valores familiares, quero garantir que tenha sólido embasamento filosófico", disse Hurff, 21, estudante da Universidade Wake Forest.
"Simplesmente mágico"
Seidenschnur, 21, aluna do terceiro ano na Universidade Washington and Lee, se viu em minoria política desde o segundo grau,
quando trabalhou em três clubes
republicanos.
"Eu estava cheia de ser ridicularizada pelos meus professores por
ser republicana. "Oh, lá vem a republicana", diz ela.
Estagiária experiente, ela já fez
estágios no Senado, com o senador Tim Hutchison, na Casa
Branca (com o Serviço de Iniciativas Religiosas e Comunitárias) e
em uma organização de arrecadação de fundos (o Comitê Nacional
da Campanha Republicana).
"A maior parte dos meus estágios envolviam campanhas e o lado ativo da política", explicou Seidenschnur.
"Eu queria vir à Heritage para
ver mais o lado intelectual da política e o movimento do pensamento conservador. Quando analisei
meu currículo, achei que me faltava uma experiência assim", diz.
Para Seidenschnur, a Heritage
tem ainda outra atração. "Tenho
uma sacada", afirma. "É simplesmente mágico".
Tradução de Paulo Migliacci
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