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ÁSIA
Para esquivar-se de represálias do governo, atual geração de milionários adota retórica social e comportamento discreto
Novos ricos da China evitam ostentação
ANDREW YEH
RICHARD MCGREGOR
DO "FINANCIAL TIMES"
Meia hora depois da decolagem
do jato privado que transporta
Zhang Yue de Pequim para sua cidade natal, na Província de Hunan, localizada no centro da China, o patrão decide que é hora de
tirar um cochilo.
Zhang, o confiante presidente
da empresa Broad Air Conditioning, vinha discursando animadamente sobre os problemas de
pobreza da China, mas em breve
está roncando sob um cobertor
azul atoalhado.
Quando se trata da desfrutar
dos grandes luxos da vida, a nova
geração de empresários chineses
ricos voa tão alto quanto Zhang,
que amealhou fortuna estimada
em US$ 229 milhões vendendo
sistemas industriais de refrigeração para edifícios.
Mas os empresários que podem
arcar com esse estilo de vida estão
descobrindo que a riqueza também pode ser uma dificuldade:
com a promessa dos líderes chineses de que combaterão a crescente disparidade entre os ricos e
os pobres do país, manter um perfil de destaque pode ser perigoso.
Dois dos mais ricos empresários
do país em 2001, Yang Bing e
Yang Rong, caíram em desgraça
nos anos que se seguiram, e suas
fortunas foram muito reduzidas.
Um terceiro, Zhou Zhengyu, incorporador imobiliário de Xangai, está na prisão depois de um
escândalo com imóveis.
Não surpreende que a leva mais
nova de empresários chineses esteja tentando criar um perfil mais
respeitável, combinando um histórico sólido nos negócios e preocupações politicamente corretas
sobre os problemas sociais.
Ranking dos mais ricos
A questão vem se tornando
mais sensível à medida que cai a
idade e aumenta o patrimônio
médio dos empresários chineses.
Nos quatro anos desde que a
China começou a publicar a lista
das pessoas mais ricas do país, o
ponto de inclusão para os cem
empresários mais ricos subiu de
US$ 60 milhões em 2001 para US$
141 milhões no ano passado. Três
dos seis mais ricos empresários da
lista de 2004 eram pessoas na casa
dos 30 anos.
Eles incluem Huang Guangyu,
35, rei da eletrônica, que detém
patrimônio de US$ 1,5 bilhão, e
Chen Tianqiao, 32, co-fundador
da Shanda Inter-active Entertainment, uma empresa de jogos online com ações cotadas na bolsa
Nasdaq, cujo patrimônio atinge
US$ 1,3 bilhão.
Huang, que dirige o gigantesco
grupo de varejo Gome, talvez sirva como um exemplo típico. Em
entrevista, o bilionário com rosto
de menino e sorriso franco gosta
de discutir o caminho que o levou
ao topo. Chegou a Pequim no final dos anos 80, um adolescente
ingênuo cujo objetivo era comercializar eletrodomésticos baratos
e satisfazer a demanda da classe
média emergente.
Ele agora dirige uma das mais
populares cadeias de lojas de eletrodomésticos e produtos para a
casa do país, e também investe em
imóveis. "O processo não foi tão
complicado", sorri Huang.
Mas, enquanto relembra sua ascensão triunfal, ele toma cuidado
em enfatizar sua determinação de
sempre pagar impostos e de criar
mais empregos. Esses sinais são
transmitidos a seus funcionários.
Os funcionários da Gome trazem as três regras da empresa impressas em destaque no verso de
seus cartões de visitas: não podem
aceitar presentes, não podem
aceitar comissões e não podem
aceitar favores especiais.
"Sou apenas um empresário cuja esperança é que o ambiente e o
sistema judicial se mantenham
estáveis", afirma Huang.
Zhang também se preocupa
com a imagem. Não é tímido ao
exibir sua riqueza; um dos pouquíssimos jatos privados do país é
o seu Cessna Citation, pintado
com as cores do arco-íris e o nome de sua companhia.
Ele também tem uma cópia em
escala reduzida de uma pirâmide
egípcia, um helicóptero e uma
frota de carros de luxo entre os
quais uma Ferrari amarela, um
Hummer cor de cereja e uma limusine Mercedes prateada.
Mas, a despeito dessas extravagâncias, ele professa ser um homem simples, que poderia ter sido um artista de sucesso caso não
se tivesse dedicado aos negócios.
Diz que gosta de manter contato
com seus subordinados, e que vai
com eles a karaokês e come com
eles no refeitório.
Freqüentemente, ele fala sobre
como Pequim deveria perder menos tempo "correndo atrás do
Produto Interno Bruto", ou promovendo o crescimento econômico a todo custo.
Também gosta de discutir suas
reuniões com funcionários das
agências ambientais e de uma organização de assistência à educação que dirige.
"Venho pensando mais sobre
essas coisas, recentemente, porque tenho mais tempo", avalia
Zhang, que diz que no passado
"era mais egoísta".
Ding Lei, 33, presidente do portal de Internet NetEase.com, cujo
patrimônio é avaliado em US$
668 milhões, expressa sentimento
semelhante.
Ding, cuja empresa tem ações
cotadas na Nasdaq, declarou em
fevereiro que nem mesmo tinha
casa própria até o ano passado, e
que passara anos morando em
apartamentos dilapidados.
"As coisas mais felizes continuam a ser os assuntos pessoais
de cada um", refletiu Ding em um
especial para o Ano Novo chinês
publicado pelo "Southern Weekend", semanário do sul da China. No momento em que desce de
seu jato particular, Zhang insiste
em que prefere usar o terno azul
marinho que a empresa distribui
a seus funcionários do que marcas dispendiosas.
"As pessoas são simples", diz o
milionário, se jogando em um sofá. "Aquilo de que você gostava
antes será aquilo de que continuará gostando agora."
Tradução de Paulo Migliacci
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