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Montenegro faz reacender sentimento separatista na Europa
Separação de República que formava com a Sérvia o último resquício da antiga Iugoslávia estimula referendos que podem criar micropaíses no continente
ADRIANA MARCOLINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O nascimento de mais um
pequeno país no território da
antiga Iugoslávia praticamente
já teve repercussões no delicado equilíbrio dos Bálcãs e promete refletir em toda a Europa.
Com quase 700 mil habitantes e uma área de 13.812 km2
(menor que Sergipe), Montenegro conquistou a independência em referendo no último
dia 21, sob a supervisão de observadores internacionais.
Ciente do precedente que
pode trazer para o continente
europeu o surgimento de um
país por meio do instrumento
legal do referendo, a União Européia fixou em 55% o percentual requerido para a maioria.
Foi por um fio, mas o premiê
montenegrino, Milo Djukanovic, conseguiu: com 55,4% de
votos, Montenegro deixou a
união de Estados que formava
com a Sérvia, último resquício
do que foi a Iugoslávia.
Os desdobramentos do resultado, porém, vão além. Para
o professor francês Jacques
Rupnik, membro da Comissão
Internacional Independente
sobre Kosovo, a Sérvia deverá
oferecer ainda menos cooperação nas negociações internacionais para determinar o futuro de Kosovo, Província sérvia
administrada pela ONU desde
o fim dos bombardeios da Otan
(aliança militar ocidental), em
junho de 1999. "Isto poderá dificultar uma alternativa satisfatória para ambas as partes e,
no limite, levar à imposição de
uma solução vinda da União
Européia", alerta.
Bósnia
A faísca lançada por Montenegro chegou à República Sérvia (RS), entidade que, ao lado
da Federação Muçulmano-Croata, forma a Bósnia-Herzegóvina. Na semana passada, políticos nacionalistas propuseram a convocação de um referendo para decidir se a RS deve
permanecer na Bósnia ou ser
um país independente, o que
seria uma violação ao acordo de
paz de Dayton.
"A proposta não irá adiante",
afirma Nicholas Whyte, responsável pela região da Europa
no International Crisis Group,
ONG sediada em Bruxelas especializada na análise de conflitos. Ele salienta que a RS foi
construída com base no genocídio, o que é bem diferente de
Montenegro. "Há ainda uma
grande dose de retórica na proposta, pois este é um ano eleitoral na Bósnia", argumenta.
O ar de referendo se estendeu até a Moldova, uma ex-república soviética vizinha à Romênia. Desde a guerra civil em
1990, o país está dividido em
dois: a Moldova, que goza de reconhecimento internacional, e
a região separatista da Transdnístria. O sopro balcânico esquentou os ânimos dos separatistas, que já anunciaram o seu
referendo em setembro. E não
deve poupar a região do Cáucaso. Lá estão as "repúblicas autônomas" da Abkázia e da Ossétia do Sul, na Geórgia, que não
têm reconhecimento oficial, e o
território de Nagorno-Karabakh, foco de conflito entre a
Armênia e o Azerbaijão.
E ainda a república russa da
Tchetchênia. Na direção da Europa Ocidental está lançada a
pergunta: se Montenegro pôde
conquistar sua independência
legitimamente, por que não o
podem o País Basco, na Espanha, ou a Córsega, na França?
Ao aprovar o referendo, a UE
pode ter dado o sinal verde para
que novos micropaíses venham
a surgir no continente, justamente quando consolida sua
ampliação e planeja receber futuros parceiros.
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