São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 2000


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"COMPENSAÇÃO"
País usou cerca de 10 milhões de escravos ou trabalhadores forçados em empresas durante a 2ª Guerra
Alemanha pagará US$ 4,8 bi a escravos

Associated Press - Arquivo
Judeus trabalham em fábrica de munição no campo de concentração de Dachau, na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial


DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A Alemanha assinou ontem um acordo para o pagamento de indenizações aos trabalhadores forçados e os escravos usados por empresas durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
O acordo prevê a criação de um fundo de 10 bilhões de marcos (US$ 4,8 bilhões), divididos em partes iguais entre o governo alemão e as indústrias do país que se utilizaram dessa mão-de-obra durante o regime nazista.
O documento foi assinado um ano e meio após iniciadas as negociações, por representantes dos governos de Alemanha, EUA, Israel, Rússia, Belarus, República Tcheca, Polônia e Ucrânia, além de advogados representando as vítimas.
O governo alemão e as indústrias do país deverão contribuir com 5 bilhões de marcos para o fundo de compensações, embora até agora as contribuições somem apenas 3,2 bilhões, de 3.100 empresas. O chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schroeder, disse confiar que mais empresas contribuam para atingir os 5 bilhões.
Durante a guerra, a Alemanha usou cerca de 10 milhões de civis e prisioneiros estrangeiros em trabalhos forçados nas grandes indústrias do país, em pequenas empresas e até em organizações religiosas.
As indenizações deverão ser pagas a cerca de 900 mil sobreviventes. Pelo acordo, eles receberão entre US$ 2,4 mil e US$ 7,2 mil.
"Com esse acordo, nós podemos encerrar o último capítulo do passado ainda aberto", disse Schroeder após a assinatura. "É um sinal de nossa responsabilidade moral e histórica", disse o chanceler, cujo pai morreu lutando pela Alemanha na guerra, quando ele ainda era bebê.
"Esse acordo não encerra a responsabilidade moral sobre o Holocausto", disse Stuart Eizenstat, que representou os EUA na negociação, durante a cerimônia de assinatura. "Nada pode apagar a memória daqueles que morreram ou o sofrimento dos sobreviventes", disse. "Ao mesmo tempo, esse gesto histórico ajuda a encerrar um capítulo para aqueles que esperaram tanto tempo por alguma medida de justiça."
A Alemanha já pagou US$ 60 bilhões em indenizações desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o equivalente, segundo Eizenstat, a US$ 100 bilhões em valores atuais.
Apesar de o fim do comunismo no Leste Europeu ter aberto o caminho para as vítimas da região receberem compensações diretas, foram as ameaças de ações coletivas -há 55 delas nas cortes federais americanas- que motivaram a ação 55 anos após o fim da guerra.
"Nós precisamos ser francos: foram os advogados americanos e as ações propostas por eles na Justiça americana que trouxeram para a agenda internacional os erros das empresas alemãs durante a era nazista", disse Eizenstat.
Os advogados americanos deverão receber cerca de 100 milhões de marcos (US$ 48 milhões). Um segundo acordo foi assinado entre os EUA e a Alemanha para proteger as empresas alemãs contra futuras ações coletivas tratando do mesmo assunto.

Muito pouco, tarde demais
Alguns representantes de países do Leste Europeu no acordo reclamaram ontem que o montante era pouco e que demorou demais.
"Não é muito, considerando a escala de nosso sofrimento, o tratamento brutal a que nós fomos submetidos e os prejuízos que ficaram para o resto de nossas vidas", disse Marian Nawrocki, da Associação de Vítimas do Terceiro Reich.
A Polônia, primeiro campo de batalha da Segunda Guerra Mundial e local dos mais conhecidos campos de concentração nazistas, deverá receber cerca de 1,8 bilhão de marcos (US$ 860 milhões) pelo acordo, para ser dividido entre cerca de 500 mil vítimas.
Ao contrário das vítimas dos países ocidentais, os europeus do leste só agora começarão a receber compensações pelos sofrimentos da época da guerra.
Markiyan Demidov, diretor da União de Vítimas do Nazismo da Ucrânia, disse que a Alemanha e os EUA forçaram os países do Leste Europeu a aceitar um acordo oferecendo menos do que eles queriam.
Segundo Bartosz Jalowiecki, chefe da agência polonesa que administra as indenizações alemãs, os países da Europa Oriental e Central, que sofreram as maiores perdas materiais e humanas na guerra, só receberam cerca de 1% das compensações anteriores.

Judeus búlgaros
O presidente búlgaro, Pétar Stoyánov, admitiu ontem que 11.343 judeus foram deportados da Bulgária durante a ocupação nazista, quando o rei Boris 3º estava no poder. Placa em homenagem ao rei foi retirada de um bosque em Jerusalém.


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