|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PROTESTO
Boris Berezovski acusou o presidente Vladimir Putin de tentar instaurar um governo autoritário em Moscou
Oligarca da Rússia renuncia a cadeira no Parlamento
VÉRONIQUE SOULÉ
DO "LIBÉRATION", EM MOSCOU
O empresário Boris Berezovski,
tido como o mais poderoso oligarca da Rússia, anunciou ontem
sua renúncia da cadeira que ocupava na Duma (Câmara Baixa do
Parlamento). Disse ter tomado a
decisão em protesto contra o ataque que o presidente Vladimir
Putin vem comandando contra os
grandes empresários e líderes políticos regionais do país.
Berezovski acusou Putin de tentar instaurar em Moscou um governo autoritário "de estilo latino-americano". Desde que tomou
posse, em maio, o ex-espião da
KGB escolhido pelo ex-presidente
Boris Ieltsin para sucedê-lo vem
ordenando devassas fiscais nas
grandes empresas russas.
Os negócios de Berezovski, que
aproveitou-se de sua proximidade com Ieltsin para construir sua
fortuna, não foram poupados.
"Essa campanha (contra os oligarcas) é bem orquestrada e tem
como objetivo destruir os grandes
negócios independentes da Rússia", disse Berezovski.
A iniciativa do mega-empresário marca o início de uma guerra
aberta pelo poder entre o Kremlin
e o grande empresariado.
Seria um erro acreditar que Berezovski esteja agindo em defesa
da democracia e contra as tendências autoritárias do presidente.
Longe de ser ideológico, trata-se
de um conflito mais prosaico. Putin quer criar as novas regras do
jogo, no qual o Kremlin controlaria todo o cenário político, a mídia, assim como os fluxos financeiros e os setores mais importantes da economia.
Os oligarcas ficariam submetidos a ele. Na retórica "putiniana",
isso seria a chamada "ditadura da
lei". Dentro do Estado forte sonhado por Putin, a Justiça, dita independente, não deveria preservar ninguém -rompendo, assim, com o sistema de protegidos
que o país herdou da era Ieltsin.
Os oligarcas, antes intocáveis,
estão logicamente irritados. No
início dos anos 90, esses homens
de negócios se aproveitaram de
um processo de privatização obscuro e compraram a preços irrisórios as jóias da economia russa.
Apoiaram Putin nas eleições
deste ano, acreditando que ele garantiria a continuação de sua
imunidade, passaria leis liberais
favoráveis a eles, além de proteger
o mercado russo contra a concorrência estrangeira.
O problema é que a "ditadura
da lei" de Putin não é justa nem
transparente. O presidente continua cercado de pessoas notoriamente corruptas. Alexandre Volochine, o chefe da administração
presidencial e um dos homens
mais poderosos do país, já foi citado em vários escândalos.
Tudo se passa como se houvesse
"bons" e "maus" oligarcas. Boris
Abramovitch, magnata do petróleo e do alumínio, conseguiu se
tornar um dos protegidos de Putin. Entre os empresários perseguidos pelo governo figuram os
signatários de uma carta de protesto enviada a Putin no dia seguinte à prisão de Vladimir Gusinski, proprietário do conglomerado de imprensa Media-MOST.
Tradução de Marcelo Starobinas
Texto Anterior: EUA: Nível de radiação de celular será divulgado Próximo Texto: Putin chega à China para pressionar EUA Índice
|