São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 2000


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PROTESTO
Boris Berezovski acusou o presidente Vladimir Putin de tentar instaurar um governo autoritário em Moscou
Oligarca da Rússia renuncia a cadeira no Parlamento

VÉRONIQUE SOULÉ
DO "LIBÉRATION", EM MOSCOU

O empresário Boris Berezovski, tido como o mais poderoso oligarca da Rússia, anunciou ontem sua renúncia da cadeira que ocupava na Duma (Câmara Baixa do Parlamento). Disse ter tomado a decisão em protesto contra o ataque que o presidente Vladimir Putin vem comandando contra os grandes empresários e líderes políticos regionais do país.
Berezovski acusou Putin de tentar instaurar em Moscou um governo autoritário "de estilo latino-americano". Desde que tomou posse, em maio, o ex-espião da KGB escolhido pelo ex-presidente Boris Ieltsin para sucedê-lo vem ordenando devassas fiscais nas grandes empresas russas.
Os negócios de Berezovski, que aproveitou-se de sua proximidade com Ieltsin para construir sua fortuna, não foram poupados.
"Essa campanha (contra os oligarcas) é bem orquestrada e tem como objetivo destruir os grandes negócios independentes da Rússia", disse Berezovski.
A iniciativa do mega-empresário marca o início de uma guerra aberta pelo poder entre o Kremlin e o grande empresariado.
Seria um erro acreditar que Berezovski esteja agindo em defesa da democracia e contra as tendências autoritárias do presidente.
Longe de ser ideológico, trata-se de um conflito mais prosaico. Putin quer criar as novas regras do jogo, no qual o Kremlin controlaria todo o cenário político, a mídia, assim como os fluxos financeiros e os setores mais importantes da economia.
Os oligarcas ficariam submetidos a ele. Na retórica "putiniana", isso seria a chamada "ditadura da lei". Dentro do Estado forte sonhado por Putin, a Justiça, dita independente, não deveria preservar ninguém -rompendo, assim, com o sistema de protegidos que o país herdou da era Ieltsin.
Os oligarcas, antes intocáveis, estão logicamente irritados. No início dos anos 90, esses homens de negócios se aproveitaram de um processo de privatização obscuro e compraram a preços irrisórios as jóias da economia russa.
Apoiaram Putin nas eleições deste ano, acreditando que ele garantiria a continuação de sua imunidade, passaria leis liberais favoráveis a eles, além de proteger o mercado russo contra a concorrência estrangeira.
O problema é que a "ditadura da lei" de Putin não é justa nem transparente. O presidente continua cercado de pessoas notoriamente corruptas. Alexandre Volochine, o chefe da administração presidencial e um dos homens mais poderosos do país, já foi citado em vários escândalos.
Tudo se passa como se houvesse "bons" e "maus" oligarcas. Boris Abramovitch, magnata do petróleo e do alumínio, conseguiu se tornar um dos protegidos de Putin. Entre os empresários perseguidos pelo governo figuram os signatários de uma carta de protesto enviada a Putin no dia seguinte à prisão de Vladimir Gusinski, proprietário do conglomerado de imprensa Media-MOST.


Tradução de Marcelo Starobinas

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