São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 2002

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ORIENTE MÉDIO

Dois homens-bomba palestinos se explodem em frente a um cinema; Jihad Islâmico reivindica o atentado

Suicidas matam 3 e ferem 30 em Tel Aviv

Associated Press
Corpos de vítimas do duplo atentado palestino, perto de um cinema na região central de Tel Aviv


DA REDAÇÃO

Dois terroristas suicidas palestinos mataram ontem pelo menos três pessoas e feriram outras 40, cinco delas gravemente, na entrada de um cinema próximo à velha estação rodoviária de Tel Aviv, em Israel. O grupo extremista Jihad Islâmico reivindicou a autoria do ataque.
A operação ocorreu por volta das 22h25 (16h25 em Brasília). Segundo o chefe de polícia de Tel Aviv, Yossi Sedbon, a dupla carregava sacolas que foram detonadas. "Eles se explodiram a 15 metros de distância um do outro. As cargas explosivas não eram grandes", afirmou Sedbon.
Há diversos bares e pequenas lojas na região atingida, um bairro de classe baixa habitado por muitos trabalhadores estrangeiros. Pelo menos um dos mortos e a maioria dos feridos tinham nacionalidade estrangeira.
Cerca de 300 mil estrangeiros trabalham hoje em Israel substituindo a mão-de-obra barata palestina, que deixou de ser usada em razão dos enfrentamentos.
Foi a primeira ação terrorista suicida dentro do território de Israel desde 19 de junho, e coincidiu com o feriado de Tisha Be Av, data em que os judeus lamentam a destruição de seus dois grandes templos em Jerusalém.
Dutu Raduian, um trabalhador romeno, contou que as luzes de seu apartamento se apagaram após o barulho de uma explosão. "Eu desci [para a rua". Foi horrível, havia pessoas mortas por toda a parte, e os feridos gritavam. Nunca vi nada assim em minha vida", disse, afirmando que voltaria com sua família à Romênia.
Israel viveu um intervalo de relativa tranquilidade nas últimas quatro semanas, período em que o Exército, em retaliação a dois grandes ataques em Jerusalém, reocupou as principais cidades da Cisjordânia para impedir a atuação de terroristas suicidas.
David Baker, porta-voz do premiê Ariel Sharon, disse que a "ANP (Autoridade Nacional Palestina) continua não fazendo nada para impedir esses ataques assassinos vindos de seu território".
Segundo ele, o ataque de ontem "prova que os terroristas palestinos estão determinados a assassinar e aterrorizar o maior número possível de israelenses, pensando que, com isso, podem pressionar Israel a fazer concessões".
Raanan Gissin, assessor de Sharon, também atacou a liderança palestina e fez ameaças. "É responsabilidade da liderança palestina decidir o que quer. Eles querem uma contínua guerra terrorista, que pode levar à destruição da sociedade palestina?"
A ANP condenou o atentado. "Condenamos essa operação. Isso não ajudará em nada o povo palestino", disse Ahmed Abdelrahman, secretário do gabinete do presidente da ANP, Iasser Arafat.
Israel atribui a Arafat a responsabilidade pelos atos terroristas. O líder palestino nega a acusação e se diz incapaz de impedir os atentados após Israel ter destruído suas forças de segurança.
O duplo atentado evidencia novamente a dificuldade do governo de Israel em combater o terrorismo. Uma emboscada anteontem contra um ônibus de colonos do assentamento de Emmanuel, na Cisjordânia, resultou na morte de oito pessoas (leia texto ao lado).
Os ataques dos últimos dois dias voltam a diminuir as chances de negociação de paz entre Israel e a ANP. Após o ataque na Cisjordânia, as autoridades israelenses já haviam cancelado ontem um encontro que tinha por objetivo discutir formas de aliviar o sofrimento da população palestina.
Sob ocupação israelense, cerca de 800 mil palestinos têm sido obrigados a observar toques de recolher, além de serem impedidos de trabalhar e se movimentar entre as cidades dos territórios.
Desde o início da Intifada (levante palestino contra a ocupação), em setembro de 2000, ao menos 1.447 palestinos e 558 israelenses já morreram.

Quarteto
Em Nova York, o grupo apelidado de "quarteto", formado por EUA, ONU, União Européia e Rússia, concluiu encontro para debater soluções para o conflito e as reformas na ANP.
EUA e Israel exigem mudanças administrativas na ANP e a saída de Arafat de sua liderança como condições para que se possa retomar um processo de paz significativo. Os outros integrantes do quarteto não descartam Arafat como o líder dos palestinos.
O presidente americano, George W. Bush, disse ontem que Arafat se tornou irrelevante para o processo de paz e, portanto, não será motivo de divergências entre os EUA e seus aliados. "Isso é muito maior que uma só pessoa", disse. "Arafat gostaria que toda a questão dissesse respeito a ele. Foi assim no passado, mas uma análise de seu histórico mostra que ele decepcionou o povo palestino."
Um assessor de Arafat chegou a dizer ontem que ele pode aceitar a nomeação de um premiê.
No comunicado final do encontro, o quarteto elogiou as reformas efetuadas até agora na ANP, que devem "levar ao estabelecimento de um Estado democrático palestino". Eles condenaram os atentados, mas exigiram que Israel diminua a pressão militar sobre os palestinos.

Com agências internacionais

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