São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 2002

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MAR MEDITERRÂNEO

Operação foi rápida, mas gerou protestos em território marroquino; ONU e Europa são cautelosas

Espanha retoma ilha invadida por Marrocos

DA REDAÇÃO

Numa ação surpreendente, militares espanhóis de elite-que chegaram de helicóptero- retomaram ontem o controle da ilha de Perejil (Leila, para os marroquinos). Ela havia sido tomada por 12 militares marroquinos na última quinta, que não reagiram à ação de ontem.
A reação do governo marroquino foi confusa. O ministro das Relações Exteriores do país, Mohamed Benaissa, afirmou que a operação militar espanhola "equivale a uma declaração de guerra", mas salientou que os dois países tinham chegado a um acordo antes do início da operação.
Mas ele não revelou que tipo de acordo teria sido feito. Rabat classificou o ato de "impensado e perigoso" em carta enviada ao Conselho de Segurança da ONU e exigiu que a Espanha deixe a ilha.
As relações entre os dois países, que são separados pelo estreito de Gibraltar -um dos pontos de maior importância estratégica do planeta-, se deterioraram bastante desde que Marrocos retirou seu embaixador de Madri, no ano passado. Anteontem, o governo espanhol fez a mesma coisa, chamando de volta seu embaixador.
Os dois países trocam acusações relacionadas à imigração ilegal, ao tráfico de canabinóides (sobretudo haxixe), aos direitos de pesca e ao Saara Ocidental, um território anexado por Marrocos nos anos 70 e ainda ocupado pelos marroquinos. Madri insiste em que haja um plebiscito para definir a situação de sua ex-colônia.
Segundo analistas políticos, a resposta do governo do premiê espanhol, José María Aznar, foi comparável à da administração do Reino Unido em 1982, então liderada por Margaret Thatcher. A disputa pelas ilhas Malvinas gerou uma guerra entre o Reino Unido e a Argentina.
Porém os analistas dizem que a hipótese de uma verdadeira guerra entre a Espanha e Marrocos pode ser descartada. Para eles, Aznar quis enviar uma mensagem ao governo marroquino ao ordenar a retomada da ilha, que tem cerca de 300 metros de comprimento e é desabitada. Essa mensagem seria a de que nenhum país pode atacar uma potência européia sem arcar com as consequências.
Após o desembarque de marroquinos na ilha, na última quinta, a Espanha enviou cinco navios de guerra para proteger seus encraves de Ceuta e de Melilla, situados no norte da África. Entretanto, desde o início da disputa, Madri deixou claro que queria resolver a questão por meio diplomáticos.
O ministro da Defesa espanhol, Federico Trillo, não deixou de levar a sério o tema. "A Espanha foi atacada num ponto sensível de sua geografia", declarou no Parlamento do país, membro da Otan (aliança militar ocidental).
Pouco antes do nascer do sol, cinco helicópteros militares espanhóis voaram em direção à ilha. Antes de aterrissar, os espanhóis exortaram os militares marroquinos a soltar suas armas e a capitular "sem demora".
Três helicópteros -com 28 militares espanhóis a bordo- pousaram na ilha, detiveram os marroquinos e montaram uma base em Perejil, segundo Trillo. Pouco depois, uma bandeira espanhola já tremulava na ilha. Os marroquinos foram levados para Ceuta.

Protestos
A ação espanhola provocou protestos em Marrocos. "Chega de colonialismo espanhol!", gritavam alguns marroquinos em Jebel Leila.
"Não se trata apenas de um rochedo, a ilha faz parte de nosso país", afirmou Fatima, 56. "Essa ilha pertence a Marrocos, não à Espanha", disse Rashid Harsal, 22, na cidade de Tetuan.
Tanto a União Européia quanto a ONU saudaram o "restabelecimento do status quo", mas evitaram criar polêmica em torno do tema. Autoridades européias e americanas afirmaram que esperam ver uma solução negociada para o problema. Funcionários das Nações Unidas também exortaram as duas partes a dialogar.


Com agências internacionais


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