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VIZINHO EM CRISE
Medida poderá ser tomada se ficar comprovada ação de ex-general para desestabilizar governo paraguaio
Brasil ameaça Oviedo com expulsão do país
IURI DANTAS
SILVIA FREIRE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo brasileiro endureceu
o tratamento dado ao ex-general
Lino Oviedo ontem, após reunião
no Ministério da Justiça. O paraguaio foi notificado de que qualquer atividade política que suscite
ameaça ao país vizinho poderá
gerar sua retirada compulsória do
Brasil. Além disso, o Depes (Departamento de Estrangeiros) decidiu mantê-lo sob vigilância
ininterrupta da Polícia Federal.
"Caso a advertência não seja
cumprida, o governo brasileiro
não hesitará em tomar todas as
medidas ao seu alcance para a retirada compulsória do senhor
Oviedo do território brasileiro",
disse o ministro Paulo de Tarso
Ramos Ribeiro (Justiça).
O endurecimento é consequência das manifestações ocorridas
no Paraguai na última segunda-feira. Convocado ao ministério
para apresentar sua defesa, o ex-general teria admitido "em parte"
manter contatos com paraguaios
envolvidos no quebra-quebra, segundo Luiz Paulo Barreto, diretor
do Depes.
Oviedo não falou após a reunião
no ministério, mas iria dar uma
entrevista à noite na casa de um
primo que mora em Brasília.
A Folha apurou que o governo
não deve expulsar Oviedo a menos que ele infrinja a legislação. A
expulsão seria uma ação dura tendo em vista a forma como o Brasil
é visto no exterior -um país de
fortes convicções democráticas.
O governo paraguaio acusa
Oviedo de incitar compatriotas
contra o poder constituído naquele país. Anteontem, o embaixador Luiz González apresentou
um vídeo no qual Oviedo aparece
discursando em Mato Grosso do
Sul. Segundo o secretário-executivo do ex-general, Fernando Rasera, ele conclama, na gravação, os
paraguaios a promover uma "revolução democrática pelo voto".
Caso a investigação da PF comprove que Oviedo insufla ou incentiva atos de violência contra o
governo paraguaio, o governo
brasileiro poderá expulsá-lo. O
destino ainda não está certo, mas
Barreto eliminou a possibilidade
de que ele volte para seu país natal: isso seria uma forma de extradição -o Supremo Tribunal Federal negou por unanimidade a
extradição do paraguaio.
Segundo Barreto, Oviedo entrou com pedido de visto no Brasil em junho para exercer atividades de pesquisa na Universidade
de Cuiabá. Não haveria, afirma,
prazo legal para a análise da autorização. Os acontecimentos de segunda-feira precipitariam a análise, de acordo com o diretor.
Segundo a legislação, Oviedo
não está proibido de fazer discursos, escrever artigos ou manifestar sua opinião sobre qualquer assunto que envolva o Paraguai,
pois a liberdade de expressão é assegurada na Constituição brasileira. Ele não pode, no entanto,
"atentar contra a segurança nacional", contra a "ordem política
ou social" e contra a "tranquilidade pública". Na prática, apenas
um discurso ou manifestação explícita podem ser enquadrados
nesses casos. À PF cabe o levantamento dessas informações. Caso
seja flagrado em ato ilegal, Oviedo
será expulso, levado compulsoriamente à fronteira com algum
país vizinho.
Já o visto, atualmente em análise sem prazo para conclusão no
Ministério da Justiça, pode ser negado caso não se comprove a real
necessidade de Oviedo de permanecer no país. Se isso acontecer,
ele receberia um prazo das autoridades brasileiras para deixar o
território nacional.
O governo paraguaio vem pressionando o Brasil a tomar atitudes
fortes em relação a Oviedo, porque crê ter indícios suficientes para garantir que ele não só está envolvido como também lidera parte do levante popular que tentou
depor o atual presidente Luiz
González Macchi.
O Ministério da Justiça aplicou
ontem apenas uma notificação
formal. Questionado sobre a pressão paraguaia e a atitude tomada
pelo governo brasileiro, o ministro Paulo de Tarso Ramos Ribeiro
afirmou que o assunto é prioridade para o ministério.
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