São Paulo, domingo, 18 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Americanos pagam avião para levar mexicanos de volta

WILL WEISSERT
DA ASSOCIATED PRESS

Os EUA, em parceria com o México, inauguraram há uma semana um programa piloto no qual mexicanos capturados tentando entrar ilegalmente no país são levados de volta a seu país em avião pago pelo governo americano.
Os 138 migrantes escolheram esse modo de voltar em lugar de serem simplesmente deportados através da fronteira mais próxima, de onde os mexicanos sem documentos com freqüência dão meia-volta e tentam novamente entrar nos Estados Unidos.
""Assaltaram-me e levaram todo o meu dinheiro. Não havia outro jeito de voltar para casa", disse Estella Navapaco, migrante de 40 anos do Estado de Guerrero, no sul do país, que disse ter sido atacada quando tentava chegar a solo americano. Ela afirmou não ter planos de tentar atravessar a fronteira ilegalmente outra vez, mas estava em minoria no grupo.
Não está claro até que ponto o programa será eficaz. A maioria dos deportados disse que iria descansar algum tempo com a família e então voltar ao norte para tentar mais uma vez.
""Não existe trabalho aqui. Os empregos são muito poucos", explicou Martin Islas, 22. Ele chegou em cadeira de rodas -machucou a perna durante a tentativa de entrar no território americano.
A seu lado, Juan Cortez disse que estava voltando para casa definitivamente, depois de ter sido capturado pelas autoridades de fronteira americanas quatro vezes. ""Estou cansado, quero ir para casa", disse o rapaz, natural da Cidade do México. ""Todo mundo tem direito a um descanso."
Agentes federais proibiram a maioria das pessoas que chegavam de falar com os jornalistas, mas alguns afirmaram ter sido ludibriados para que assinassem formulários de deportação para suas cidades de origem.
As autoridades mexicanas disseram que não foi esse o caso. ""Este é um programa 100% voluntário. O governo mexicano está apenas concretizando aquilo que os migrantes solicitaram", disse Bosco Marti, da Chancelaria mexicana. Marti disse que o programa vai incluir dois vôos por dia para a Cidade do México e para Guadalajara, no oeste do país.
A imensa maioria dos imigrantes mexicanos ilegais simplesmente tem suas impressões digitais registradas, tem seus nomes processados administrativamente e é levada de carro de volta à fronteira, com freqüência sem dinheiro no bolso e longe de casa.
Sob o Programa de Repatriação Interior do Departamento da Segurança Interna dos EUA, os ilegais podem ser devolvidos voluntariamente ou à Cidade do México ou a Guadalajara, em vôos comerciais gratuitos de companhias aéreas mexicanas.
""Trata-se de um passo crucial, necessário por razões tanto humanitárias quanto legais", disse Asa Hutchinson, subsecretário americano da Segurança das Fronteiras e dos Transportes. ""A morte no deserto é uma tragédia que precisa acabar."
Andy Adame, porta-voz do setor Tucson (Arizona) da Patrulha da Fronteira, disse que 30 dos passageiros do vôo de deportação da segunda-feira eram vistos como candidatos de alto risco a morrer no deserto se tentassem atravessar a fronteira a pé outra vez. Entre esses 30 estavam idosos e mulheres solteiras levando crianças.
Segundo Adame, seu departamento está financiando o programa, que, com dois vôos diários, teve seu custo estimado em entre US$ 12 milhões e US$ 13 milhões.
Cada vôo irá transportar até 150 imigrantes ilegais. A previsão é que o programa termine até 30 de setembro, quando será avaliado.
O reverendo Robin Hoover, da Humane Borders, ONG que deixa água no deserto para os imigrantes, disse que "o novo programa é uma maneira ridícula de abordar o problema", mas admitiu que ele "pode até salvar algumas vidas".


Tradução de Clara Allain


Texto Anterior: ONG traz água para salvar ilegais nos EUA
Próximo Texto: América Latina: Bolívia testa democracia hoje em plebiscito
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.