São Paulo, domingo, 18 de julho de 2004

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Para a ONG, Brasil é modelo bom e ruim

FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES

Um dos principais exemplos da realidade "extrema" vivida hoje por homossexuais está no Brasil, segundo a Anistia Internacional.
Em alguns aspectos, o país é apontado como modelo para outras nações subdesenvolvidas, pelo força dos ativistas gays, por algumas iniciativas legais para eliminar a discriminação e pelo fato de o assunto ter deixado de ser tabu. Por outro lado, é no Brasil que se encontram alguns dos níveis mais alarmantes de violência contra gays, principalmente travestis, e de impunidade.
"O Brasil é realmente um exemplo da situação de extremos em que vivemos, porque você tem coisas muito boas acontecendo e uma terrível quantidade de violência. Existe um paradoxo muito claro", diz a autora Vanessa Baird.
O livro diz que são cerca de 90 assassinatos por ano e que apenas 5% resultam em punição, mas não cita as fontes. Ao mesmo tempo, o país tem uma influente comunidade gay, responsável pela já célebre passeata anual em São Paulo, que atrai mais de 1 milhão de pessoas, e por trabalhos de prevenção à Aids entre gays.
A pesquisadora também elogia campanhas criativas no Brasil, como uma realizada por grupos da Bahia, em 1995, em que os ativistas ameaçavam divulgar os nomes de políticos homossexuais que se opusessem a maiores direitos para a comunidade gay.
A razão para o paradoxo, segundo ela, está na "cultura do machismo" de alguns países latinos e no fato de o homossexualismo no Brasil, principalmente entre travestis, ser em geral "explícito", o que atrai violência.
Baird elogia o histórico do PT no combate à discriminação, mas diz que esperava mais do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Ela se disse "decepcionada" com o fato de Brasil ter recuado, no início do ano, de uma moção que apresentou na ONU condenando o preconceito contra gays.
Ouvida pela Folha, a Secretaria de Direitos Humanos disse que se tratou de uma "retirada estratégica". "A falta de consenso era tão grande que nenhum outro país, por mais progressista, propôs o tema, por ter o mesmo entendimento que o governo brasileiro", disse a assessora Renata Pelizon.


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