São Paulo, Domingo, 18 de Julho de 1999
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DE VOLTA A HAVANA
Clinton anuncia mudanças no bloqueio econômico contra a ilha e aumenta fluxo entre os países
EUA abrem "frestas" no embargo a Cuba

MARCIO AITH
de Washington

As frestas abertas nos dois últimos anos no bloqueio econômico dos EUA contra Cuba estão aumentando sensivelmente o fluxo de bens e de pessoas entre os dois países e já reduzem os efeitos do embargo norte-americano de 37 anos contra a ilha do Caribe.
A tímida aproximação começou em março do ano passado, quando o presidente Bill Clinton autorizou vôos diretos de Miami para Havana, diminuiu as exigências para viagens de norte-americanos a Cuba e facilitou as exportações de medicamentos a comerciantes autônomos da ilha.
As medidas, anunciadas como sendo de caráter humanitário em razão da visita do papa João Paulo 2º a Cuba, estão mudando o perfil da relação entre os dois países.
Os medicamentos exportados para Cuba por empresas norte-americanas somaram US$ 20 milhões de março de 1998 até o mês passado. Entre janeiro de 1992 (quando essas exportações foram autorizadas pela primeira vez) e março de 1998, os atacadistas e fabricantes de remédios dos EUA haviam vendido apenas US$ 1 milhão aos cubanos.
O aumento no número de visitas a Cuba também é expressivo. Em 1998, cerca de 50 mil norte-americanos receberam autorizações dos EUA para visitarem a ilha, supostamente para fins educacionais, humanitários e para promover o capitalismo -as exceções previstas no embargo. Em 1995, apenas 12 mil pessoas requisitaram autorizações de viagem.
Pelo embargo, cidadãos dos EUA são proibidos de fazer turismo na ilha, mas ao menos duas universidades da capital levam regularmente seus alunos ao país e agências de turismo vendem abertamente pacotes de viagem.
Estima-se que para cada norte-americano que vai a Cuba com autorização outros cinco fazem a viagem através de um terceiro país sem comunicar ao governo.
Os EUA cortaram relações diplomáticas com Cuba em 1961, dois anos depois do fim da revolução que levou Castro ao poder. Em 1962, Washington impôs o embargo econômico contra Cuba que vigora até hoje, restringindo o acesso dos cubanos ao capital e a produtos estrangeiros para forçar o fim do regime socialista.
Na semana passada, o governo dos EUA deu mais três passos para estreitar as relações com Cuba.
Autorizou a exportação de comida e de sementes, permitiu à empresa Western Union mandar dinheiro dos norte-americanos (US$ 1.500 por ano) a cubanos que não tenham relação com o governo socialista e patrocinou a viagem a Cuba do presidente da Câmara de Comércio dos EUA.
Essas medidas poderão transformar o embargo numa lei distante da realidade. A autorização para a exportação de comida e de sementes foi também produto de lobby dos fazendeiros dos EUA.
Representantes do setor agrícola nos EUA vêem Cuba como um mercado potencial para seus produtos. Cuba importa 900 mil toneladas de trigo por ano, basicamente de países europeus.
A aproximação entre os dois países não conseguiu ainda alterar o discurso dos dois governos.
Comentando os resultados da viagem de empresários norte-americanos a Cuba, o porta-voz do Departamento de Estado, James Foley, disse que, apesar do maior fluxo entre os dois países, "não há oportunidade real de comércio enquanto Castro estiver no poder. Não acho que a visita o fará mudar de mentalidade."
Na Venezuela, o ministro das Relações Exteriores de Cuba, Felipe Perez Roque, deu boas-vindas às novas medidas relaxando o embargo, mas alertou: "Podemos aguentar por mais mil anos".


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