|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
APAGÃO AMERICANO
Cooperação e falta de incidentes graves, como em episódios anteriores, são vistas como sinal positivo
Após blecaute, EUA vêem sociedade "melhor"
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
Bastou a energia voltar para os
americanos passarem a discutir
qual o saldo de toda a confusão. A
depender da conclusão uníssona
de sua imprensa, o "blecaute de
2003", como vem sendo chamado, é um episódio de moral positiva sobre a sociedade dos EUA.
"O maior blecaute da história da
América do Norte mostrou o melhor de milhões de cidadãos",
aponta a revista "Time" na edição
desta semana. "Há algumas coisas
que você só pode ver quando as
luzes vão embora. Ficou claro que
estamos vivendo em novos tempos. Em vez de explodirem, as cidades ficaram quietas."
Em entrevista à revista "Newsweek", o prefeito de Nova York,
Michael Bloomberg, comparou a
situação da semana passada com
a de 1977, quando ocorrera o último grande blecaute. "Muito do
dissenso que existia em nossa sociedade e na cidade [de Nova
York] nos anos 70 não está mais
aqui. As pessoas queriam fazer a
cidade funcionar. Há um sentimento de cooperação entre as
pessoas", afirmou.
O tablóide "Daily News", o de
maior circulação na cidade, traçou a história da seguinte forma:
"Quando as luzes se apagaram em
Nova York, o poder das pessoas se
acendeu. Para cada tropeço no escuro, havia uma mão de auxílio.
Para cada momento de pânico,
uma palavra confortadora de um
estranho. Dezenas de civis assumiram posições perigosas controlando o trânsito. Funcionários
de lojas distribuíram água e comida. Motoristas deram carona".
O diário "The New York Times"
escreveu ontem em sua capa: "O
apagão revela uma Nova York
melhor que a do passado". Dentro, um editorial apontava:
"Quando a luz voltou, havia muitas histórias de cooperação entre
os vizinhos e de bons samaritanos, mas poucas de saques ou violência, que acompanharam o blecaute dos anos 70".
Se a população aparentemente
"passou" no teste, hoje é a vez de o
sistema elétrico ir a prova, com a
volta das pessoas ao trabalho e o
aumento do consumo.
"Não estamos fora de perigo",
disse Pat Woods, presidente da
Federal Energy Regulatory Comission, à rede NBC, repetindo
uma expressão ("We're not out of
the woods") que virou lugar-comum na boca de autoridades públicas americanas desde que a
energia começou a ser restabelecida, na sexta-feira.
O North American Electric Reliability Council continua focando suas investigações sobre a causa do problema na área próxima a
Cleveland, em Ohio. Sua hipótese
é que a queda de uma linha de
transmissão por lá tenha desencadeado o blecaute. Ontem, a entidade levantou a possibilidade de
que uma falha humana tenha
contribuído para aumentar o tamanho da crise.
O órgão aproveitou também
para esclarecer os dados que divulgara sobre a extensão do blecaute. Diz ter calculado que o problema atingiu uma área na qual
vivem cerca de 50 milhões de pessoas, mas que o número de moradores sem luz foi certamente menor -embora desconhecido. O
ruído chegara a tal ponto que o
próprio secretário de Energia dos
EUA, Spencer Abraham, vinha
dizendo, com base nesta estimativa, que o blecaute atingira 50 milhões de pessoas.
No Meio-Oeste, onde a luz voltou mais tarde do que em Nova
York, o abastecimento de água segue preocupando. Em Detroit, as
pessoas são agora aconselhadas a
ferver a água até pelo menos depois de amanhã, dada a possibilidade de contaminação das reservas por esgoto não-tratado.
Texto Anterior: Guerra ao terror: Ataque rebelde deixa 22 mortos no Afeganistão Próximo Texto: Episódio pode melhorar imagem de Bloomberg Índice
|