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São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2003

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APAGÃO AMERICANO

Cooperação e falta de incidentes graves, como em episódios anteriores, são vistas como sinal positivo

Após blecaute, EUA vêem sociedade "melhor"

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

Bastou a energia voltar para os americanos passarem a discutir qual o saldo de toda a confusão. A depender da conclusão uníssona de sua imprensa, o "blecaute de 2003", como vem sendo chamado, é um episódio de moral positiva sobre a sociedade dos EUA.
"O maior blecaute da história da América do Norte mostrou o melhor de milhões de cidadãos", aponta a revista "Time" na edição desta semana. "Há algumas coisas que você só pode ver quando as luzes vão embora. Ficou claro que estamos vivendo em novos tempos. Em vez de explodirem, as cidades ficaram quietas."
Em entrevista à revista "Newsweek", o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, comparou a situação da semana passada com a de 1977, quando ocorrera o último grande blecaute. "Muito do dissenso que existia em nossa sociedade e na cidade [de Nova York] nos anos 70 não está mais aqui. As pessoas queriam fazer a cidade funcionar. Há um sentimento de cooperação entre as pessoas", afirmou.
O tablóide "Daily News", o de maior circulação na cidade, traçou a história da seguinte forma: "Quando as luzes se apagaram em Nova York, o poder das pessoas se acendeu. Para cada tropeço no escuro, havia uma mão de auxílio. Para cada momento de pânico, uma palavra confortadora de um estranho. Dezenas de civis assumiram posições perigosas controlando o trânsito. Funcionários de lojas distribuíram água e comida. Motoristas deram carona".
O diário "The New York Times" escreveu ontem em sua capa: "O apagão revela uma Nova York melhor que a do passado". Dentro, um editorial apontava: "Quando a luz voltou, havia muitas histórias de cooperação entre os vizinhos e de bons samaritanos, mas poucas de saques ou violência, que acompanharam o blecaute dos anos 70".
Se a população aparentemente "passou" no teste, hoje é a vez de o sistema elétrico ir a prova, com a volta das pessoas ao trabalho e o aumento do consumo.
"Não estamos fora de perigo", disse Pat Woods, presidente da Federal Energy Regulatory Comission, à rede NBC, repetindo uma expressão ("We're not out of the woods") que virou lugar-comum na boca de autoridades públicas americanas desde que a energia começou a ser restabelecida, na sexta-feira.
O North American Electric Reliability Council continua focando suas investigações sobre a causa do problema na área próxima a Cleveland, em Ohio. Sua hipótese é que a queda de uma linha de transmissão por lá tenha desencadeado o blecaute. Ontem, a entidade levantou a possibilidade de que uma falha humana tenha contribuído para aumentar o tamanho da crise.
O órgão aproveitou também para esclarecer os dados que divulgara sobre a extensão do blecaute. Diz ter calculado que o problema atingiu uma área na qual vivem cerca de 50 milhões de pessoas, mas que o número de moradores sem luz foi certamente menor -embora desconhecido. O ruído chegara a tal ponto que o próprio secretário de Energia dos EUA, Spencer Abraham, vinha dizendo, com base nesta estimativa, que o blecaute atingira 50 milhões de pessoas.
No Meio-Oeste, onde a luz voltou mais tarde do que em Nova York, o abastecimento de água segue preocupando. Em Detroit, as pessoas são agora aconselhadas a ferver a água até pelo menos depois de amanhã, dada a possibilidade de contaminação das reservas por esgoto não-tratado.


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