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DIPLOMACIA
Apesar de permissão de Saddam para inspeções, Powell pede resolução contra Bagdá; Rússia e França resistem
Iraque divide Conselho de Segurança da ONU
DA REDAÇÃO
A decisão do Iraque de permitir a volta das inspeções de armas da ONU ao país, anunciada anteontem, provocou um racha dentro do CS (Conselho de Segurança)
da organização. Os EUA, que receberam com ceticismo a decisão, pedem que o CS aprove, ainda assim, uma nova resolução para garantir o desarmamento do país.
Mas essa posição foi rechaçada
pela Rússia, que disse não ver necessidade de uma nova resolução
após a decisão iraquiana. A França também adotou posição mais
cautelosa, afirmando que a comunidade internacional deve verificar se o compromisso do ditador
Saddam Hussein é sério para depois tomar alguma atitude.
As declarações conflitantes indicam que os EUA terão dificuldade em impor sua posição na
ONU, apesar do apoio internacional que haviam arregimentado
após o discurso do presidente
George W. Bush, na quinta-feira,
acusando Saddam de desenvolver
armas de destruição em massa.
Bush havia dito em seu discurso
que a ONU não deveria mais permitir que o Iraque descumprisse
uma longa lista de resoluções desde a Guerra do Golfo (1991).
Após a guerra, a ONU determinou inspeções para verificar se os
programas iraquianos de desenvolvimento de armas de destruição em massa haviam sido desativados. As inspeções foram interrompidas em 1998, quando o Iraque acusou os inspetores de espionar para os EUA e os expulsou.
"Já vimos esse jogo antes", afirmou o secretário de Estado dos
EUA, Colin Powell. "A questão
não é a inspeção, é o desarmamento. O CS deve se expressar
novamente", afirmou. "É apropriado que o conselho considere
as circunstâncias nas quais as inspeções podem voltar, o que elas
devem fazer e quais instruções
adicionais seriam apropriadas."
Até anteontem, o Iraque condicionava a volta dos inspetores ao
fim das sanções econômicas impostas pela ONU e das zonas de
exclusão aérea no sul e no norte.
"Não necessitamos de uma resolução especial para que as inspeções comecem", afirmou o
chanceler russo, Igor Ivanov. "Todas as resoluções e decisões necessárias já existem."
"Os procedimentos que devem
seguir, todos já sabem. Todas essas questões foram acordadas durante as inspeções anteriores",
afirmou Ivanov. "Se podemos ou
não acreditar nessa carta [do Iraque", só os fatos poderão dizer."
Rússia, China, França, Reino
Unido e EUA são membros permanentes do CS, com poder de
veto sobre suas resoluções. Para
aprovar uma resolução, é necessário o apoio de nove dos 15 países do conselho.
Na mesma entrevista coletiva na
qual Powell e Ivanov manifestaram suas posições conflitantes, o
secretário-geral da ONU, Kofi
Annan, fez um apelo para que se
mantivessem unidos. "Isso é o começo, não é o fim", disse ele. "Deveríamos tentar manter o propósito único que vinha aparecendo."
Para a China, a decisão do Iraque abre o caminho para a solução da crise. "Esperamos que o
Iraque cumpra as resoluções da
ONU para criar as condições para
uma solução ordenada e pacífica
dessa questão", afirmou o chanceler chinês, Kong Quan.
A França, outro membro permanente do CS que havia expressado reservas a um ataque ao Iraque, disse que a comunidade internacional deve agora testar o
comprometimento iraquiano enviando rapidamente os inspetores. "Vamos deixar que as palavras de Saddam Hussein falem
por si mesmas", disse um porta-voz da chancelaria francesa.
O Reino Unido, que desde o início da crise vem se colocando como o mais forte aliado dos EUA,
disse que continuará trabalhando
por uma nova resolução do CS sobre o Iraque.
Segundo fontes diplomáticas, o
CS deve se reunir até quinta-feira
ou sexta-feira para discutir a nova
posição iraquiana e os próximos
passos a serem seguidos.
"Sociedade ineficiente"
Bush desafiou ontem a ONU a
provar que é "mais que uma sociedade ineficiente de debates".
"Pelo bem da liberdade e da justiça para todos, o Conselho de Segurança da ONU precisa agir para
não ser ludibriado e para ser relevante para manter a paz", disse.
"Os EUA permanecem convictos de que não podemos permitir
que os piores líderes mundiais
mantenham os EUA e nossos
amigos e aliados sob chantagem
ou ameaças com as piores armas
do mundo", afirmou Bush, sem
mencionar a decisão iraquiana de
permitir a volta das inspeções.
Ari Fleischer, porta-voz da Casa
Branca, disse que não se deve confiar em Saddam e que o fracasso
da ONU em aprovar uma nova resolução permitiria ao Iraque continuar desenvolvendo armas de
destruição em massa.
"As palavras de Saddam não devem ser tomadas pelo valor de face", disse Fleischer. "Se suas palavras tivessem algum significado,
ele já teria se desarmado há muito
tempo", afirmou. Segundo ele, a
história mostra que o país não
cumpriu suas promessas no passado. "Agora não é a hora de tirar
a pressão sobre o Iraque."
A permissão do Iraque para a
volta das inspeções também não
reduziu a pressão militar dos
EUA. O Pentágono anunciou ontem que cerca de 2.000 marines
começarão no fim do mês um
exercício militar de quatro semanas no Kuait, vizinho do Iraque.
Com agências internacionais
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