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IRAQUE
Comissão de desarmamento da ONU já prepara volta a Bagdá; chefe dos inspetores prevê um ano para encerrar trabalho
Analistas prevêem fracasso das inspeções
MARCELO STAROBINAS
DA REDAÇÃO
O chefe dos inspetores de armas
da ONU, Hans Blix, se reuniu ontem com altos funcionários iraquianos para discutir a retomada
das inspeções dos arsenais de destruição de massa do ditador Saddam Hussein. Eles marcaram novo encontro para finalizar os planos dentro de dez dias, em Viena.
A Agência Internacional de
Energia Atômica (AIEA), responsável pela verificação do programa nuclear iraquiano, disse ter 15
pessoas prontas para ir a Bagdá
assim que forem autorizadas.
Apesar da prontidão e otimismo que tomou conta dos órgãos
responsáveis pelo desarmamento
do Iraque, especialistas consultados pela Folha observam com
enorme ceticismo as chances de
sucesso da missão da Comissão
de Monitoramento, Verificação e
Inspeção da ONU (Unmovic), dirigida pelo sueco Blix.
Segundo ele, a comissão -criada em 1999 para substituir a Unscom (Comissão Especial da ONU
para o Desarmamento)- precisaria de cerca de um mês entre a
autorização de entrada de Bagdá
(concedida anteontem) e o início
dos trabalhos no país.
Depois disso, os inspetores levariam cerca de um ano -isso se
Saddam cooperar "totalmente"- para tirar suas conclusões e
preparar um relatório sobre quais
armas continuam à disposição do
líder iraquiano.
Há poucos motivos para acreditar, na visão dos especialistas, que
esse órgão tenha a capacidade de
eliminar os arsenais de Saddam.
"Da forma como estão constituídas, as inspeções da ONU nunca funcionarão", argumentam, em artigo no "New York Times", Gary Milhollin, diretor do Projeto
Wisconsin para o Controle de Armas Nucleares, e Kelly Motz, editora do IraqWatch.org.
Inexperiência
Se nem a Unscom -que, entre
1991 e 1998, destruiu mísseis e várias toneladas de armas químicas
e biológicas no Iraque- foi capaz
de erradicar os armamentos não-convencionais, diz Motz, o que será da Unmovic, que nunca antes
pôs os pés em solo iraquiano?
Criada após o fracasso da Unscom -o Iraque fechou as portas
aos inspetores daquela agência,
acusando-a de servir como braço
de espionagem dos EUA- a Unmovic possui 63 inspetores e 220
especialistas em diversas áreas
preparados para atuar em campo.
O número é pequeno diante da
complexidade da tarefa. As forças
de segurança do Iraque monitoram os movimentos dos inspetores para prevenir flagrantes. As
armas de Saddam são facilmente
transportadas -o país criou técnicas para, em poucas horas,
transferir laboratórios inteiros,
mísseis e seus componentes de
um esconderijo a outro.
Além disso, observa Motz, como Washington estará aguardando qualquer empecilho imposto
pelo governo do Iraque às inspeções como justificativa para uma
guerra, a Unmovic possivelmente
tentaria evitar confrontos -o
que prejudicaria os resultados da
missão de desarmamento.
"Há uma possibilidade de que
os inspetores não queiram fazer
um relatório com fortes acusações ou tomar posição agressiva
nas inspeções", afirma Motz. "Isso porque, após dois ou três anos
em Nova York se preparando para entrar no Iraque, eles não vão
querer voltar imediatamente para
casa para que os EUA possam
bombardear o Iraque."
Já Daryl Kimball, diretor da
Arms Control Association, organização de pesquisa sobre proliferação de armas com sede em
Washington, acha que a inexperiência da Unmovic ou a sua falta
de recursos não prenunciam o
fracasso das inspeções. A seu ver,
porém, o maior obstáculo será
Saddam, que tentará novamente
impedir o acesso dos inspetores
aos armamentos e aos seus chamados "palácios presidenciais".
Em 1998, o Iraque conseguiu
um acordo com a ONU segundo o
qual grandes propriedades do governo só podem ser inspecionadas após a agência da ONU avisar
com antecedência a sua visita e a
composição de sua equipe.
Diante do histórico iraquiano,
Kimball defende a adoção de uma
nova resolução no Conselho de
Segurança, "reiterando o que o
Iraque deve fazer e autorizando o
uso da força militar se Saddam
Hussein não cooperar". Só assim,
diz ele, com Bagdá pressionada
pela ameaça de guerra, as inspeções poderiam ter êxito.
Com agências internacionais
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