São Paulo, sábado, 18 de setembro de 2004

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TERROR NA RÚSSIA

Em mensagem na internet, Shamil Basayev acusa Putin e diz que atentado do dia 3 custou US$ 9.800

Líder tchetcheno assume terror de Beslan

DA REDAÇÃO

Uma mensagem na internet assinada com o nome do terrorista tchetcheno Shamil Basayev assume a responsabilidade pelo seqüestro em escola da cidade russa de Beslan, em que morreram, no dia 3 de setembro, mais de 300 reféns, entre eles muitas crianças.
O terrorista nega ter agido em nome da Al Qaeda e diz que o presidente Vladimir Putin tem a culpa pela carnificina. "Os primeiros tiros partiram das forças especiais", diz a mensagem.
Basayev diz que por dez dias treinou pessoalmente, numa floresta a 20 km de Beslan, os extremistas que participaram da ação. Havia, segundo ele, 12 tchetchenos, nove inguches, três russos, dois árabes e cinco cidadãos russos de outros grupos étnicos.
Ele propõe que Putin reconheça a independência da Tchetchênia em troca do abandono do terrorismo contra alvos civis.
A autenticidade da mensagem não pode ser comprovada. No entanto, ela foi veiculada por um site (www.kavkazcenter.com) em geral utilizado por Basayev. Ele assina com seu pseudônimo de clandestinidade, Abdallah Shamil.
Basayev assume também a responsabilidade por outros atentados, como o de agosto, num ponto de ônibus em Moscou, o ataque suicida numa estação do metrô moscovita na semana seguinte e a queda dos dois aviões civis Tupolev, além do seqüestro de Beslan. Nessa série de atos do terrorismo islâmico, mais de 430 morreram.
Segundo o texto, o plano do comando era libertar as crianças com menos de dez anos se a Rússia recolhesse suas forças aos quartéis da Tchetchênia, primeiro passo de sua retirada da região.
Negou que tenha sido financiado por Osama Bin Laden, embora dissesse que não recusaria dinheiro dele. Afirmou que só recebeu do exterior este ano US$ 19.700. Disse por fim que o atentado de Beslan custou a seu grupo US$ 9.800, e que para a queda dos dois Tupolev foram gastos US$ 7 mil.

Ataques preventivos
Sem se referir à mensagem, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou ontem que os militares russos estão em treinamento para participar de "ataques preventivos" contra bases terroristas. Não disse se os alvos seriam na Rússia ou no exterior.
Putin acusou o Ocidente de ingenuidade, por considerar que há autonomistas tchetchenos radicais e moderados, estes dispostos a negociar. Numa resposta a EUA e União Européia, descartou qualquer tipo de negociação.
Em Varsóvia, o subsecretário de Estado americano Richard Armitage disse que, se confirmada a responsabilidade de Shamil Basayev pelo massacre de Beslan, o líder terrorista "não merece viver".
Na Lituânia, o primeiro-ministro Algirdas Brazauskas declarou que o site utilizado por Basayev "deveria ser fechado". O site é hospedado pelo provedor Elneta, que funciona naquele país.

Asilo político
O alto comissário da ONU para refugiados, Ruud Lubbers, disse ontem, em Varsóvia, que os países europeus devem se abrir a refugiados tchetchenos, diante da impossibilidade de resolver a curto prazo a crise humanitária surgida com os conflitos na região. A Polônia recebe hoje 40 pedidos diários de asilo de tchetchenos.
O clima entre russos e tchetchenos tende a se deteriorar após a decisão de uma comissão de anistia que libertou um coronel russo, Yuri Budanov, preso por assassinar uma mulher tchetchena suspeita de ser franco-atiradora.

Boris Ieltsin
Em artigo publicado pelo semanário "Moskovskiye Novosti", o ex-presidente Boris Ieltsin abandonou a atitude reservada dos últimos anos e criticou seu sucessor, Vladimir Putin, pela proposta de reforma política que centraliza o poder do Kremlin como forma de combater o terrorismo.
"Diminuir a democracia é que seria uma vitória para os terroristas", disse Ieltsin, ao advertir que "a integridade da Constituição russa" deve ser preservada.


Com agências internacionais


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