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Terrorista hoje, Basayev já foi bem mais contido
C. J. CHIVERS
DO "NEW YORK TIMES", EM MOSCOU
O homem mais desprezado da
Rússia se movimenta em segredo
ao longo das fronteiras de um país
cujos serviços de segurança eram,
no passado, vistos como oniscientes. Deve ser difícil para ele se
manter oculto, já que só tem um
pé, utiliza a cabeça raspada e porta uma barba que lembra a dos líderes do Taleban, milícia afegã.
Shamil Basayev sempre teve
senso do espetáculo na preparação de atentados. Antes, porém,
mostrava maior capacidade de
contenção. Seu primeiro ataque
terrorista ocorreu em 1991. Basayev, que tinha 26 anos, seqüestrou
um avião de passageiros à frente
de um grupo de combatentes armados. Forçou o jato a levá-los à
Turquia e, depois, a Grozni, capital tchetchena. Após provar seu
ponto de que a Tchetchênia era
uma nação soberana, afirmou,
permitiu a saída dos 171 reféns.
Basayev optou por não usar a
força e atraiu muita atenção, o
que é sempre um de seus objetivos. "Queríamos demonstrar que
recorreríamos a qualquer instrumento para defender nossa soberania", disse ele à TV de Moscou.
Do seqüestro de 1991 aos cadáveres infantis de Beslan, a história
da carreira de Basayev reflete a ascensão, a radicalização e a decadência moral de um líder rebelde.
Durante sua longa temporada à
frente da lista de homens mais
procurados da Rússia, Basayev
abandonou por algum tempo sua
imagem de terrorista, nos anos
90, e se tornou um prestigiado líder guerrilheiro, esbanjando destreza tática e sarcasmo no comando dos combatentes que expulsaram o Exército russo do território
tchetcheno. Naquela época, ele
raramente exibia os hábitos ascéticos dos extremistas islâmicos
que mais tarde viria a adotar.
Mesmo com as vitórias, porém,
essa personificação do guerreiro
tchetcheno começou a sofrer com
a guerra, na qual perdeu boa parte
da família. Após passar uma temporada em contato com militantes islâmicos estrangeiros, assumiu uma forma mais sombria.
Basayev se tornou um homem dedicado à guerra total.
A Rússia ofereceu uma recompensa de US$ 10,3 milhões pela
cabeça calva de Basayev. Enquanto a caçada humana prossegue de
maneira ainda mais urgente, as
pessoas que o conheciam ficam a
imaginar de que maneira o separatista se transformou em niilista?
Ainda jovem, vivendo em Moscou, foi às barricadas ao lado de
Boris Ieltsin, para resistir ao golpe
de Estado que resultou na desintegração da URSS, em 1991, decisão que descreveu como calculada, alegando que, se a linha dura
soviética tivesse obtido sucesso na
tentativa de golpe, "podíamos dizer adeus à independência tchetchena". Meses mais tarde, após a
Tchetchênia se declarar independente, ele chegou a Grozni com o
jato seqüestrado. Reapareceu em
1992, como líder dos guerrilheiros
da Abkházia, que eram apoiados
pelos russos, para tentar criar um
Estado separado da Geórgia.
Esse conflito acabou, em 1993,
com a retirada das forças georgianas e o estabelecimento da pequena república da Abkházia, proclamada localmente. Basayev voltou
à Tchetchênia acompanhado por
mais de 500 combatentes. Há suspeitas sobre suas atividades no
início da carreira de guerrilheiro.
Muitas pessoas que estudaram
sua vida alegam que os serviços de
inteligência russos o treinaram
para a guerra da Abkházia. A Rússia nega tê-lo ajudado.
Basayev teria ido ao Afeganistão, em 1994, para treinar num
acampamento terrorista. Basayev
já disse ao "New York Times" que
isso não procede, mas outras fontes alegam que ele confirmou a informação. A guerra na Tchetchênia irrompeu no final de 1994, Basayev organizou as defesas de
Grozni e emergiu como o mais
competente dos comandantes da
resistência. Em maio de 1995, os
russos destruíram as casas de sua
família. Os ataques teriam matado 11 de seus parentes, incluindo a
mulher, duas filhas e um irmão.
Em 1997, ele perdeu a eleição
para a Presidência tchetchena.
Mas o novo governo o nomeou
premiê, posto para o qual suas habilidades não servem muito. A
Tchetchênia se tornou um Estado
sem lei, e a situação foi explorada
por extremistas islâmicos.
Um comandante árabe estabeleceu campos de treinamento na
região, dizem funcionários do governo russo e de Estados ocidentais. A colaboração de Basayev estava implícita, pois os campos se
localizavam em zona sob seu controle. Os estudiosos da carreira de
Basayev dizem que isso parece ser
um casamento de conveniência.
Marginalizado na política, ele se
uniu aos islâmicos e obteve acesso
ao exterior e a fontes de renda.
Basayev começou, então, a se
aproximar do islamismo. Sua luta
passou a ser vista como causa islâmica. Em 2000, quando a Rússia
atacava de novo a Tchetchênia, só
um governo reconheceu a independência tchetchena: o do Taleban. Sob pressão de uma nova
ofensiva, ele se retirou de Grozni.
Mas Basayev pisou numa mina.
Seu pé foi amputado. Desde então, raramente foi visto e comanda de esconderijos sua rede.
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