São Paulo, sábado, 18 de setembro de 2004

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CONE SUL

Privatização de ferrovias sob Menem acelerou esvaziamento de pequenos povoados, onde vivem mais de 270 mil pessoas

600 vilas argentinas correm risco de sumir

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

Isolados, empobrecidos e com escassa infra-estrutura de comunicação com grandes centros urbanos, pelo menos 602 povoados estão sob perigo de extinção na Argentina. São lugares classificados como "localidades de risco", ou seja, que podem desaparecer ou simplesmente virar cidades-fantasmas. Em uma década, 90 desses lugares já deixaram de figurar nas estatísticas.
O impacto causado pela crise econômica -e, em muitos casos, pelo isolamento provocado pela privatização das linhas de trem nos anos 90- tornou difícil a vida nesses subdistritos, o que levou a população a migrar para centros urbanos próximos em busca da sobrevivência.
A informação sobre o número de localidades em via de desaparecer é da organização não-governamental Recuperação Social de Povoados Nacionais que Desaparecem (Responde), responsável pelo processamento dos dados brutos do último censo realizado na Argentina, em 2001.
"As cidades que estão em risco são aquelas que apresentaram crescimento populacional negativo nos últimos censos. Das cidades com menos de 2.000 habitantes, consideradas localidades rurais, 40% são consideradas sob risco, ou seja, 602 lugares", disse a geógrafa Marcela Benitez, coordenadora da Responde.
Ao todo, existem 276.664 pessoas vivendo em regiões isoladas cuja população está diminuindo. Em 1991, havia 423 povoados, que abrigavam 163.066 argentinos, nessa mesma condição.
O processo de concessão das linhas de trem à iniciativa privada começou no início dos anos 90, durante a administração do presidente Carlos Menem (1989-1999).
De 35 mil quilômetros de linhas ativas, restaram 8 mil quilômetros em funcionamento. "As empresas privadas mantiveram apenas as linhas que consideravam lucrativas. Com isso, os trens, que eram a conexão e o instrumento de industrialização dessas cidades, deixaram de parar nessas localidades, isolando-as", afirma o secretário-geral de um dos quatro sindicatos de ferroviários do país, Elido Veschi.
"As linhas de trem são uma ferramenta para o desenvolvimento. Quando se quer transformar isso em um negócio lucrativo, como ocorreu na Argentina, o resultado é o aumento da pobreza", disse Veschi.
De acordo com o sindicalista, além de conectar essas cidades com os centros urbanos, transportar pessoas e mercadorias, as linhas de trem movimentavam a economia nessas localidades, gerando empregos.


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