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CONE SUL
Privatização de ferrovias sob Menem acelerou esvaziamento de pequenos povoados, onde vivem mais de 270 mil pessoas
600 vilas argentinas correm risco de sumir
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
Isolados, empobrecidos e com
escassa infra-estrutura de comunicação com grandes centros urbanos, pelo menos 602 povoados
estão sob perigo de extinção na
Argentina. São lugares classificados como "localidades de risco",
ou seja, que podem desaparecer
ou simplesmente virar cidades-fantasmas. Em uma década, 90
desses lugares já deixaram de figurar nas estatísticas.
O impacto causado pela crise
econômica -e, em muitos casos,
pelo isolamento provocado pela
privatização das linhas de trem
nos anos 90- tornou difícil a vida nesses subdistritos, o que levou
a população a migrar para centros
urbanos próximos em busca da
sobrevivência.
A informação sobre o número
de localidades em via de desaparecer é da organização não-governamental Recuperação Social de
Povoados Nacionais que Desaparecem (Responde), responsável
pelo processamento dos dados
brutos do último censo realizado
na Argentina, em 2001.
"As cidades que estão em risco
são aquelas que apresentaram
crescimento populacional negativo nos últimos censos. Das cidades com menos de 2.000 habitantes, consideradas localidades rurais, 40% são consideradas sob
risco, ou seja, 602 lugares", disse a
geógrafa Marcela Benitez, coordenadora da Responde.
Ao todo, existem 276.664 pessoas vivendo em regiões isoladas
cuja população está diminuindo.
Em 1991, havia 423 povoados, que
abrigavam 163.066 argentinos,
nessa mesma condição.
O processo de concessão das linhas de trem à iniciativa privada
começou no início dos anos 90,
durante a administração do presidente Carlos Menem (1989-1999).
De 35 mil quilômetros de linhas
ativas, restaram 8 mil quilômetros
em funcionamento. "As empresas
privadas mantiveram apenas as
linhas que consideravam lucrativas. Com isso, os trens, que eram
a conexão e o instrumento de industrialização dessas cidades, deixaram de parar nessas localidades, isolando-as", afirma o secretário-geral de um dos quatro sindicatos de ferroviários do país,
Elido Veschi.
"As linhas de trem são uma ferramenta para o desenvolvimento.
Quando se quer transformar isso
em um negócio lucrativo, como
ocorreu na Argentina, o resultado
é o aumento da pobreza", disse
Veschi.
De acordo com o sindicalista,
além de conectar essas cidades
com os centros urbanos, transportar pessoas e mercadorias, as
linhas de trem movimentavam a
economia nessas localidades, gerando empregos.
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