São Paulo, sábado, 18 de setembro de 2004

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O trem não pára, falta padre para missa

DE BUENOS AIRES

As duas bodegas de vinho da pequena Villa Antigüa, na Província de Mendoza, foram fechadas. Falta gente para trabalhar no parreiral, que está abandonado. A igreja fica fechada a maior parte do tempo porque falta padre para rezar a missa. Em Godoi, na Província de Santa Fé, o trem não passa mais desde 1994, e o teatro, única atração da cidade, com espaço para abrigar 400 pessoas e outrora disputado pelos moradores, raramente funciona e nunca mais lotou.
Godoi e Vila Antigüa são duas das 602 cidades ou povoados argentinos sob risco de desaparecer. Em 1991, viviam em Godoi 1.537 habitantes. No recenseamento oficial realizado dez anos depois, foram contadas 1.424 pessoas. A cidade já chegou a 4.000 moradores, de acordo com a administradora Nora Mendonça.
Segundo Nora, depois que o trem deixou de parar em Godói, ficou difícil o acesso a Villa Constitución, o município de 25 mil habitantes que fica mais próximo. "Os jovens ficaram sem opção de trabalho e foram se mudando. Com isso, a população foi envelhecendo.
Foi o que aconteceu com os amigos da professora primária Rosa Virgílio, 36. Rosa testemunhou os seus conhecidos, um a um, abandonarem Villa Antigüa. "Quem não tem o que fazer vai embora. É muito ruim abandonar a cidade da gente por falta de opção, afirma.
O centro tecnológico montado para ensinar informática aos jovens de Villa Antigüa nunca foi usado. "Não há internet nem professor", diz Marcela Benitez, da ONG Responde. Ao contrário do que ocorreu em Godoi, a população de Vila Antigüa aumentou desde 1991. O povoado, que tinha 183 moradores naquele ano, passou a ter 281, de acordo com o Censo 2001.
Mesmo assim, os moradores tiveram a iniciativa de pedir que a pequena cidade fosse incluída na lista de localidades sob risco. "Eles mesmo perceberam que estavam ficando isolados". (CD)


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