São Paulo, sábado, 18 de setembro de 2004

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ARTIGO

É hora de agir no Sudão, e o Brasil tem de apoiar uma resolução da ONU

IAIN LEVINE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando chegou ao poder, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu esperança a milhões de pessoas no Brasil e no exterior ao declarar guerra contra a fome.
Essa declaração prometia combater não só os efeitos da fome mas também suas causas. Lula não limitou sua preocupação com a fome ao Brasil e também prometeu fazer sua parte para pôr o tema da fome mundial na agenda da comunidade internacional, insistindo em que os países ricos fizessem sua parte para combater o problema, que afeta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo.
Nesta semana, Lula e o governo brasileiro terão a oportunidade de tomar medidas decisivas contra as causas da fome numa das regiões de situação mais crítica do mundo atualmente: Darfur, no Sudão ocidental.
A região de Darfur tem sido descrita pela ONU como aquela em que há hoje a pior crise humanitária do mundo. Milhões de pessoas sofrem de fome e de desnutrição. Segundo o Programa Mundial de Alimentação da ONU, 2 milhões de pessoas precisarão de ajuda alimentar para sobreviver.
Estima-se que 50 mil pessoas tenham sido mortas, mais de 1 milhão deslocadas de suas casas e 200 mil forçadas a fugir para o vizinho Chade. Milhares de mulheres e meninas foram estupradas.
Esse nível terrível de sofrimento não não existe por causa da distribuição desigual de recursos nem de uma calamidade natural. Trata-se do resultado direto das ações do governo sudanês, que declarou guerra à sua própria população. Desde o ano passado, milicianos armados (conhecidos como janjaweed), que são controlados pelo governo, protagonizam uma guerra contra civis não-árabes.
Na semana passada, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, declarou que essas ações constituem atos de genocídio.
Por ora, a comunidade internacional tem agido tarde e insuficientemente. O Conselho de Segurança da ONU, do qual o Brasil faz parte, fez alarde e ameaçou o Sudão, mas não tomou nenhuma medida concreta para pôr fim aos assassinatos, à destituição e à fome que resultam dessa limpeza étnica.
Agora á a hora de agir. O Conselho de Segurança está, neste momento, negociando uma resolução que autoriza a ação em Darfur. E imprescindível que medidas sejam tomadas para mandar tropas da União Africana ao local para proteger civis, impor embargo de armas ao governo e estabelecer uma comissão internacional de inquérito para identificar os principais responsáveis pelas atrocidades e pelas violações aos direitos humanos lá cometidas.
O Brasil, como membro atual do Conselho de Segurança, tem uma ótima oportunidade para ter um grande impacto no mundo. Se o governo Lula é serio no que tange à luta contra a fome mundial, a situação em Darfur é uma ótima oportunidade para começar a agir. Somente uma resolução forte e uma ação rápida no local poderão pôr fim ao sofrimento enorme da população de Darfur.


Iain Levine é diretor de programas da Human Rights Watch

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