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ARTIGO
É hora de agir no Sudão, e o Brasil tem de apoiar uma resolução da ONU
IAIN LEVINE
ESPECIAL PARA A FOLHA
Quando chegou ao poder, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
deu esperança a milhões de pessoas no Brasil e no exterior ao declarar guerra contra a fome.
Essa declaração prometia combater não só os efeitos da fome
mas também suas causas. Lula
não limitou sua preocupação com
a fome ao Brasil e também prometeu fazer sua parte para pôr o
tema da fome mundial na agenda
da comunidade internacional, insistindo em que os países ricos fizessem sua parte para combater o
problema, que afeta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo.
Nesta semana, Lula e o governo
brasileiro terão a oportunidade de
tomar medidas decisivas contra
as causas da fome numa das regiões de situação mais crítica do
mundo atualmente: Darfur, no
Sudão ocidental.
A região de Darfur tem sido descrita pela ONU como aquela em
que há hoje a pior crise humanitária do mundo. Milhões de pessoas
sofrem de fome e de desnutrição.
Segundo o Programa Mundial de
Alimentação da ONU, 2 milhões
de pessoas precisarão de ajuda
alimentar para sobreviver.
Estima-se que 50 mil pessoas tenham sido mortas, mais de 1 milhão deslocadas de suas casas e
200 mil forçadas a fugir para o vizinho Chade. Milhares de mulheres e meninas foram estupradas.
Esse nível terrível de sofrimento
não não existe por causa da distribuição desigual de recursos nem
de uma calamidade natural. Trata-se do resultado direto das ações
do governo sudanês, que declarou guerra à sua própria população. Desde o ano passado, milicianos armados (conhecidos como
janjaweed), que são controlados
pelo governo, protagonizam uma
guerra contra civis não-árabes.
Na semana passada, o secretário
de Estado dos EUA, Colin Powell,
declarou que essas ações constituem atos de genocídio.
Por ora, a comunidade internacional tem agido tarde e insuficientemente. O Conselho de Segurança da ONU, do qual o Brasil
faz parte, fez alarde e ameaçou o
Sudão, mas não tomou nenhuma
medida concreta para pôr fim aos
assassinatos, à destituição e à fome que resultam dessa limpeza
étnica.
Agora á a hora de agir. O Conselho de Segurança está, neste momento, negociando uma resolução que autoriza a ação em Darfur. E imprescindível que medidas sejam tomadas para mandar
tropas da União Africana ao local
para proteger civis, impor embargo de armas ao governo e estabelecer uma comissão internacional
de inquérito para identificar os
principais responsáveis pelas
atrocidades e pelas violações aos
direitos humanos lá cometidas.
O Brasil, como membro atual
do Conselho de Segurança, tem
uma ótima oportunidade para ter
um grande impacto no mundo. Se
o governo Lula é serio no que tange à luta contra a fome mundial, a
situação em Darfur é uma ótima
oportunidade para começar a
agir. Somente uma resolução forte e uma ação rápida no local poderão pôr fim ao sofrimento
enorme da população de Darfur.
Iain Levine é diretor de programas da
Human Rights Watch
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