São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2008

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"Se embaixador dos EUA tinha ingerência na política, Evo está certo ao expulsá-lo", diz Lula

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a decisão do seu colega boliviano, Evo Morales, de expulsar o embaixador dos EUA, Philip Goldberg, é justificada caso o diplomata realmente tenha mantido contatos com opositores.
"Papel de embaixador não é fazer política dentro do país. Ele está como representante do seu país, numa relação de Estado com Estado, ele representa o Estado. Se o embaixador estava tendo ingerência na política lá, o Evo está correto."
Morales expulsou Goldberg sob acusação de fomentar o separatismo na Bolívia. Deputados governistas divulgaram um dossiê contra Goldberg, mencionando reuniões que ele teve com congressistas da oposição e governadores autonomistas.
Lula condenou a "famosa interferência das embaixadas americanas" na região, comentando episódio que ocorreu no Brasil. "Uma vez, uma embaixadora americana [Donna Hrinak], em um jornal brasileiro, respondeu uma crítica que eu tinha feito ao Bush. Eu mandei o [chanceler] Celso Amorim chamá-la e dizer que não era admissível dar palpite sobre a entrevista do presidente da República", disse Lula, em entrevista concedida à TV Brasil.
O embaixador dos EUA no Brasil, Clifford Sobel, manifestou ontem no Rio estranheza quanto às declarações de Lula. "Eu trato com muitos governadores aqui, sejam eles parte da oposição ou do partido do presidente. São pessoas eleitas pelo povo, e trabalhamos com líderes eleitos neste país, como fazemos em qualquer país."
Sobre a expulsão de seu colega em La Paz, Sobel afirmou: "Eu não estava lá, não comentaria os tipos de encontros, mas o que eu ouvi -posso estar errado- foram referências a líderes eleitos que representam as pessoas com quem ele estava se encontrando".

Caminhões
Na entrevista de ontem, Lula disse ainda que o governo tentará facilitar a venda de caminhões e ônibus brasileiros ao Exército boliviano e que haverá ajuda da Polícia Federal na fronteira com o país. Ele disse ter pedido aos ministros Tarso Genro (Justiça) e Nelson Jobim (Defesa) para negociarem com o país vizinho.
"Evo pediu para a gente ver se pode vender caminhões para as tropas dele. Pediu também para tentar estabelecer uma ação conjunta da Polícia Federal na fronteira para evitar trânsito de pessoas, de gente com armas, evitar contrabando, evitar o narcotráfico."
Na entrevista, Lula disse ter conversado "várias vezes" com George W. Bush, recentemente, por causa da crise política boliviana. Ele contou que o pressionou a aprovar "tarifas especiais" para produtos bolivianos. Segundo o presidente, as negociações estavam avançadas, mas foram suspensas em razão da expulsão de Goldberg.
Lula disse esperar que a Bolívia aceite na prática a ajuda da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), que decidiu em reunião em Santiago na última segunda atuar como mediadora na crise. "Nem sempre a decisão de uma instância como a Unasul e tantas outras da ONU são tomadas e as pessoas cumprem. Nesse caso, nós esperamos que cumpram, porque eu acho que as pessoas estão percebendo que nós estamos bem-intencionados com a Bolívia".

Colaborou a Sucursal do Rio



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