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"Se embaixador dos EUA tinha ingerência na política, Evo está certo ao expulsá-lo", diz Lula
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a decisão do seu colega boliviano,
Evo Morales, de expulsar o embaixador dos EUA, Philip Goldberg, é justificada caso o diplomata realmente tenha mantido
contatos com opositores.
"Papel de embaixador não é
fazer política dentro do país.
Ele está como representante do
seu país, numa relação de Estado com Estado, ele representa o
Estado. Se o embaixador estava
tendo ingerência na política lá,
o Evo está correto."
Morales expulsou Goldberg
sob acusação de fomentar o separatismo na Bolívia. Deputados governistas divulgaram um
dossiê contra Goldberg, mencionando reuniões que ele teve
com congressistas da oposição
e governadores autonomistas.
Lula condenou a "famosa interferência das embaixadas
americanas" na região, comentando episódio que ocorreu no
Brasil. "Uma vez, uma embaixadora americana [Donna Hrinak], em um jornal brasileiro,
respondeu uma crítica que eu
tinha feito ao Bush. Eu mandei
o [chanceler] Celso Amorim
chamá-la e dizer que não era
admissível dar palpite sobre a
entrevista do presidente da República", disse Lula, em entrevista concedida à TV Brasil.
O embaixador dos EUA no
Brasil, Clifford Sobel, manifestou ontem no Rio estranheza
quanto às declarações de Lula.
"Eu trato com muitos governadores aqui, sejam eles parte da
oposição ou do partido do presidente. São pessoas eleitas pelo povo, e trabalhamos com líderes eleitos neste país, como
fazemos em qualquer país."
Sobre a expulsão de seu colega em La Paz, Sobel afirmou:
"Eu não estava lá, não comentaria os tipos de encontros, mas
o que eu ouvi -posso estar errado- foram referências a líderes eleitos que representam as
pessoas com quem ele estava se
encontrando".
Caminhões
Na entrevista de ontem, Lula
disse ainda que o governo tentará facilitar a venda de caminhões e ônibus brasileiros ao
Exército boliviano e que haverá
ajuda da Polícia Federal na
fronteira com o país. Ele disse
ter pedido aos ministros Tarso
Genro (Justiça) e Nelson Jobim (Defesa) para negociarem
com o país vizinho.
"Evo pediu para a gente ver
se pode vender caminhões para
as tropas dele. Pediu também
para tentar estabelecer uma
ação conjunta da Polícia Federal na fronteira para evitar
trânsito de pessoas, de gente
com armas, evitar contrabando, evitar o narcotráfico."
Na entrevista, Lula disse ter
conversado "várias vezes" com
George W. Bush, recentemente, por causa da crise política
boliviana. Ele contou que o
pressionou a aprovar "tarifas
especiais" para produtos bolivianos. Segundo o presidente,
as negociações estavam avançadas, mas foram suspensas em
razão da expulsão de Goldberg.
Lula disse esperar que a Bolívia aceite na prática a ajuda da
Unasul (União das Nações Sul-Americanas), que decidiu em
reunião em Santiago na última
segunda atuar como mediadora
na crise. "Nem sempre a decisão de uma instância como a
Unasul e tantas outras da ONU
são tomadas e as pessoas cumprem. Nesse caso, nós esperamos que cumpram, porque eu
acho que as pessoas estão percebendo que nós estamos bem-intencionados com a Bolívia".
Colaborou a Sucursal do Rio
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