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Líder indígena exige mudanças e quer revolução
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
O líder indígena Felipe Quispe,
61, um dos protagonistas da revolta popular existente na Bolívia,
afirmou ontem, para a Agência
Folha, que a renúncia do presidente Gonzalo Sánchez de Lozada
e a posse do vice, Carlos Mesa, são
um primeiro passo para pacificar
a Bolívia, mas ainda insuficiente.
"Se não forem aceitas nossas 72
exigências, seguiremos com os
protestos e trataremos de tomar o
poder", disse ontem, após a indicação de que Sánchez de Lozada
renunciaria. Para Quispe, na realidade, só há uma forma de os índios chegarem ao poder: ""A revolução armada, que um dia virá".
Mesmo que ele ou o outro líder
indígena de expressão, o cocaleiro
Evo Morales, torne-se presidente
transitório, segundo Quispe, não
bastará. ""Não teremos chegado
ao poder, mas só ao governo."
Quispe, que é presidente da
Confederação Sindical Única de
Trabalhadores Camponeses da
Bolívia, deputado pelo Movimento Indígena Pachacuti e fundador
do Exército Guerrilheiro Tupac
Katari, projeta ""para algum dia" a
tomada do poder com a ""derrubada de tudo", incluindo as Forças Armadas, ""que servem aos interesses norte-americanos, da polícia e do poder econômico". Ele
define o governo de Sánchez de
Lozada como ""racista", por não
ter presença de índios. ""A saída é
a revolução", para os indígenas de
Bolívia, México, Peru, Guatemala
e Equador chegarem ao poder.
Agência Folha - O que vocês farão
a partir de agora, com a mudança
do presidente?
Felipe Quispe - O primeiro passo
foi a renúncia do assassino. Muito
bem. Agora, vamos ver o que
ocorre no Congresso. Assumindo
o vice, tentaremos negociar. Se ele
não atender a todas as nossas 72
exigências, continuaremos os
protestos, as mobilizações. Se não
forem aceitas nossas exigências,
trataremos de tomar o poder.
Agência Folha - Vocês já mantiveram contato com Carlos Mesa?
Quispe - Ainda não.
Agência Folha - Então, caso não
haja entendimento, a meta é a derrubada do governo à força?
Quispe - Para chegarmos ao poder, a forma é uma revolução.
Não nos basta termos o governo
para sermos donos dos nosso destino. Pelas vias institucionais, não
teremos chegado ao poder, mas
apenas ao governo. A revolução
ocorrerá algum dia. Para termos o
que é nosso [o controle do país],
deverá haver a derrubada de tudo:
as Forças Armadas, que servem
aos interesses norte-americanos,
da polícia e do poder econômico.
Agência Folha - Por que não há índios no governo? Há racismo?
Quispe - Há conotação racista,
sim, na elite. Somos 90% [cerca de
60%, segundo números oficiais]
da população e não temos o poder. Como pode isso? A estrutura
não nos permite chegar a ele. A
saída é a revolução, para nós e para indígenas de Guatemala, Equador, México e Peru. Pacificamente, o índio não chegará ao poder, e
está mais do que na hora de tomarmos conta do nosso destino.
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