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São Paulo, sábado, 18 de outubro de 2003

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Líder indígena exige mudanças e quer revolução

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O líder indígena Felipe Quispe, 61, um dos protagonistas da revolta popular existente na Bolívia, afirmou ontem, para a Agência Folha, que a renúncia do presidente Gonzalo Sánchez de Lozada e a posse do vice, Carlos Mesa, são um primeiro passo para pacificar a Bolívia, mas ainda insuficiente.
"Se não forem aceitas nossas 72 exigências, seguiremos com os protestos e trataremos de tomar o poder", disse ontem, após a indicação de que Sánchez de Lozada renunciaria. Para Quispe, na realidade, só há uma forma de os índios chegarem ao poder: ""A revolução armada, que um dia virá".
Mesmo que ele ou o outro líder indígena de expressão, o cocaleiro Evo Morales, torne-se presidente transitório, segundo Quispe, não bastará. ""Não teremos chegado ao poder, mas só ao governo."
Quispe, que é presidente da Confederação Sindical Única de Trabalhadores Camponeses da Bolívia, deputado pelo Movimento Indígena Pachacuti e fundador do Exército Guerrilheiro Tupac Katari, projeta ""para algum dia" a tomada do poder com a ""derrubada de tudo", incluindo as Forças Armadas, ""que servem aos interesses norte-americanos, da polícia e do poder econômico". Ele define o governo de Sánchez de Lozada como ""racista", por não ter presença de índios. ""A saída é a revolução", para os indígenas de Bolívia, México, Peru, Guatemala e Equador chegarem ao poder.
 

Agência Folha - O que vocês farão a partir de agora, com a mudança do presidente?
Felipe Quispe -
O primeiro passo foi a renúncia do assassino. Muito bem. Agora, vamos ver o que ocorre no Congresso. Assumindo o vice, tentaremos negociar. Se ele não atender a todas as nossas 72 exigências, continuaremos os protestos, as mobilizações. Se não forem aceitas nossas exigências, trataremos de tomar o poder.

Agência Folha - Vocês já mantiveram contato com Carlos Mesa?
Quispe -
Ainda não.

Agência Folha - Então, caso não haja entendimento, a meta é a derrubada do governo à força?
Quispe -
Para chegarmos ao poder, a forma é uma revolução. Não nos basta termos o governo para sermos donos dos nosso destino. Pelas vias institucionais, não teremos chegado ao poder, mas apenas ao governo. A revolução ocorrerá algum dia. Para termos o que é nosso [o controle do país], deverá haver a derrubada de tudo: as Forças Armadas, que servem aos interesses norte-americanos, da polícia e do poder econômico.

Agência Folha - Por que não há índios no governo? Há racismo?
Quispe -
Há conotação racista, sim, na elite. Somos 90% [cerca de 60%, segundo números oficiais] da população e não temos o poder. Como pode isso? A estrutura não nos permite chegar a ele. A saída é a revolução, para nós e para indígenas de Guatemala, Equador, México e Peru. Pacificamente, o índio não chegará ao poder, e está mais do que na hora de tomarmos conta do nosso destino.


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