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VIZINHO EM CRISE
Avião que devia trazer 53 brasileiros chega ao país superlotado com 107 passageiros, incluindo estrangeiros
Resgatados cantam hino ao entrar no Brasil
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
TALITA FIGUEIREDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DO RIO
Superlotado com 107 passageiros resgatados em La Paz, na Bolívia, o avião Hércules C-130 da
FAB (Força Aérea Brasileira) pousou às 11h25 (horário de Brasília)
no aeroporto internacional de
Campo Grande (MS), dando fim
à missão iniciada às 4h de ontem.
A aeronave transporta normalmente 80 pessoas.
A previsão era fazer o resgate de
53 turistas, mas vieram também
brasileiros que estavam a trabalho
ou morando na Bolívia, além de
17 estrangeiros (sete chilenos, três
mexicanos, uma espanhola, uma
colombiana, três uruguaios, um
boliviano e um argentino).
O piloto do avião, major Fernando Colnago, 38, disse que,
quando anunciou a entrada do
avião no espaço aéreo brasileiro,
os passageiros bateram palmas e
cantaram o Hino Nacional.
Para a Agência Folha, Colnago
afirmou que em situações normais não levantaria vôo com um
excedente de 27 passageiros a
bordo. "Era uma situação de
emergência, de guerra", explicou.
Os sete tripulantes do avião chegaram por volta das 7h20 a La Paz.
O motor da aeronave permaneceu ligado durante 40 minutos.
"Se houvesse qualquer risco, nós
iríamos embora", disse Colnago.
A FAB não usou os dois helicópteros Super Puma que estavam
em Corumbá (418 km de Campo
Grande), na divisa com a Bolívia.
Segundo o comandante da Base
Aérea de Campo Grande, coronel-aviador Ademilton Tenório
de Albuquerque, 48, as duas aeronaves seriam utilizadas caso o
Hércules não pudesse resgatar todas as pessoas.
A maioria dos brasileiros estava
no hotel Esplanada. Todos as pessoas ouvidas pela Agência Folha
relataram que já havia falta de alimentos em La Paz.
Entre os estrangeiros que conseguiram ajuda da embaixada
brasileira para sair de La Paz estava a colombiana Patrícia Londoño, sobrinha do ministro do Interior e da Justiça da Colômbia, Fernando Londoño.
Por volta das 13h30, o avião
Hércules voltou para o Rio de Janeiro, de onde saíra na quarta-feira. Segundo informações da Base
Aérea, 80 passageiros seguiram
para o Rio. Os outros 27 embarcaram em Campo Grande para as
cidades onde moram.
Caminhada de 50 km
Na chegada ao Rio ontem à tarde, a auditora fiscal do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social)
Maria Rita Carvalho Dutra, 50,
lembrou os momentos de terror
vividos com a tia Alda Dutra Batista, 64, e com o marido, cujo nome ela não quis revelar.
Os problemas dos três turistas,
que tinham entrado na Bolívia no
dia 6, por terra, e planejavam chegar ao Peru, começaram na estrada que liga Cochabamba a La Paz.
Eles seguiam em um microônibus
quando a viagem foi interrompida por manifestantes que montaram barricadas na estrada.
Sem ter para onde ir, Dutra, o
marido e a tia decidiram caminhar até El Alto, a cerca de 50 km.
Ela não revelou quanto tempo levaram para chegar a El Alto, onde
conseguiram abrigo em uma fábrica de macarrão.
"A gente não aguentava mais
andar quando vimos um senhor
abrindo a porta da fábrica e pedimos socorro", disse ela.
Eles dormiram na fábrica. Dutra disse que, no dia seguinte, o
dono do estabelecimento tentou
levá-los a La Paz, mas teve o carro
apedrejado. Também apedrejaram a fábrica, segundo ela.
"Para eles [os manifestantes],
não interessa se é criança, mulher,
adulto. Se você passa e a sua cor é
diferente, você é gringo", disse.
Segundo Dutra, eles conseguiram voltar à fábrica, onde passaram mais quatro dias, e apenas na
quarta-feira conseguiram telefonar para parentes em São Paulo,
que entraram em contato com a
embaixada brasileira.
"Ontem [anteontem] saímos de
madrugada com dois empregados da fabrica e fomos para o aeroporto de El Alto, onde ficamos
o dia inteiro. O aeroporto não estava funcionando, mas, por sorte,
deram um copo de sopa para a
gente. Água a gente pegava do banheiro. De madrugada foram nos
buscar e nos levaram para o local
onde estava o avião do Exército."
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