São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 2006

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Traslado do corpo de Perón termina em tiros

Kirchner, que pretendia transformar novo enterro do predecessor em comício próprio, cancela presença

BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

Em um dia de choro e violência, Juan Domingo Perón (1895-1974), três vezes presidente da Argentina, teve ontem, 32 anos após sua morte, um novo funeral. Ao longo de 12 horas, nos vários locais por onde passou o caixão com seus restos mortais, houve tiros, quebra-quebra, brigas com ao menos 50 feridos, pedradas, garrafadas, gás lacrimogêneo, desmaios, pessoas pisoteadas, saque e vandalismo contra bens que pertenceram a Perón, incêndio no telhado do prédio do Ministério da Agricultura provocado por pessoas que viam o cortejo do alto do edifício e até infarto.
O caixão saiu do cemitério da Chacarita, em Buenos Aires, por volta das 7h. Às 11h30, na sede da Confederação Geral do Trabalho, levado por um jipe militar escoltado pela cavalaria do Exército, recebeu homenagens de grupos sindicais.
O novo enterro ocorreu às 19h em uma quinta na cidade de San Vicente (ao sul de Buenos Aires) que pertencia a Perón e era um de seus refúgios. O local foi preparado para ser o "museu do peronismo". Ali, no governo do presidente Eduardo Duhalde, começou a ser construído o mausoléu de Perón. No local, há também um espaço para o corpo de Evita Perón, atualmente no cemitério da Recoleta -mas sua família não aceitou transferi-lo.
No mausoléu, está gravada a frase "Meu único herdeiro é o povo", dita por Perón, que "oficialmente" não teve filhos, em seu último discurso na praça de Maio, em 1974. Ironicamente, além da disputa pela herança política do líder argentino, há uma mulher que tenta provar ser filha de Perón. Na sexta-feira, o corpo foi exumado por ordem judicial para retirar amostras para um exame de DNA.
O túmulo já havia sido aberto antes. Em 1987, as mãos do cadáver foram roubadas, em episódio nunca esclarecido.

Desafetos e Kirchner
A cerimônia de ontem, organizada por 62 entidades peronistas para ser um dia de festa transformou-se numa amostra dos embates internos do peronismo, recordando episódios violentos dos anos 70 e 90.
O presidente Néstor Kirchner, do partido peronista, queria fazer do ato um grande comício a seu favor, mas cancelou sua ida devido à violência.
Para brilhar sozinho, o presidente havia convencido os sindicalistas a retirar o convite feito a Hugo Chávez, presidente da Venezuela, e vetara a presença na quinta de ex-presidentes peronistas como Carlos Menem e Eduardo Duhalde. Duhalde, porém, teve seu momento de glória: foi a principal estrela da homenagem na CGT.
À tarde, na vez de Kirchner, a cerimônia, que já vinha marcada por brigas e empurrões, foi tomada pela violência. Um homem atirou contra a multidão, e um policial foi ferido na cabeça. O local virou um campo de batalha, e mulheres e crianças deixaram a festa.
A briga começou porque dois grupos disputavam um lugar para ver o ato. Depois, sindicalistas disseram que havia pessoas contratadas para "causar confusão" para impedir o ato e a ida de Kirchner.


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