São Paulo, quinta-feira, 18 de outubro de 2007

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Turquia aprova ação militar no Iraque

Decisão do Parlamento vale "no prazo de um ano" e visa conter separatistas curdos; Bush adverte Ancara contra incursão

Eventual operação colocaria em confronto tropas turcas e americanas, aliadas na Otan; Bagdá promete agir para controlar rebeldes

Mustafa Ozer/France Presse
Soldado turco acompanha crianças perto da fronteira com Iraque; tensão na divisa cresce, e EUA tentam conter ânimos de Ancara

DA REDAÇÃO

O Parlamento turco aprovou ontem por 507 votos a 19 moção que autoriza o governo do premiê Recep Tayyip Erdogan a lançar uma ofensiva militar contra autonomistas curdos que recebem apoio no Iraque.
Em Washington, o presidente George W. Bush de imediato pressionou para bloquear esse novo foco de tensão. "Estamos deixando bastante claro à Turquia que isso não seria de interesse dela." O porta-voz do Pentágono, Geoff Morrell, disse que não há "um grande apetite" entre os turcos para tal operação militar, "que teria implicações enormes para nós e para eles também".
Como os EUA, a Turquia é membro da Otan, o bloco militar ocidental. Tal fato tornaria insólita uma eventual invasão turca do norte do Iraque, a qual colocaria em confronto as tropas de Ancara e as norte-americanas, que ocupam o país árabe desde 2003. Ontem, o secretário-geral da Otan, Jaap de Hoop Scheffer, telefonou ao presidente turco, Abdullah Gul, e recomendou comedimento a todos os envolvidos.
Embora distante, a possibilidade de um novo confronto na região petrolífera levou a cotação do barril do produto a alcançar, em Nova York, US$ 89.
Há o precedente de três operações militares turcas no Iraque. A maior delas, em 1997, envolveu 200 mil homens, sem no entanto neutralizar os autonomistas do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), engajados em operações de guerrilha no Curdistão turco.
Em Bagdá, o premiê iraquiano, Nuri al Maliki, telefonou a Erdogan e disse que seu governo estava disposto a eliminar as atividades dos rebeldes.
É possível que a votação parlamentar tenha por objetivo acalmar o público interno. O texto aprovado autoriza a operação "no prazo de um ano". Além disso, a Chancelaria turca convocou embaixadores em Ancara de oito países, entre eles os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, e esclareceu, disse um porta-voz, que "a moção não significa que haverá no dia seguinte uma ação militar". "Nossa prioridade é a diplomacia."
Mesmo assim, foi incessante a pressão para impedir que a Turquia cometesse algum desatino. Um dos vice-presidentes iraquianos, Tariq al Hashimi, enviado anteontem a Ancara, disse "já existir uma nova atmosfera na atual crise".
A única voz dissonante foi a do ditador sírio, Bashar Assad, que em visita a Ancara apoiou a possível ação turca: "As potências que invadiram o Iraque [menção aos EUA e seus aliados menores] são responsáveis indiretos pelo terrorismo, pois são elas que controlam o país".

Voto do genocídio
A presidente da Câmara americana, Nancy Pelosi, disse ontem que são incertas as possibilidades de votação em plenário da moção, já aprovada em comissão, que qualifica como genocídio a eliminação pelos turcos de 1,5 milhão de armênios em 1915. O texto, criticado pela Casa Branca e que gerou protestos da Turquia, deixou de ser apoiado por deputados democratas e republicanos que de início pretendiam votá-lo.


Com agências internacionais


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