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Estilo Taleban resiste em cidade liberada
TRADIÇÃO
Em Jalalabad, etnicamente identificada com a milícia, homens mantêm a barba, e mulheres, a burga
IGOR GIELOW
ENVIADO A JALALABAD (AFEGANISTÃO)
A vida em Jalalabad, depois de
mais de cinco anos de domínio do
Taleban, não registrou as cenas de
"libertação explícita" de Cabul ou
Mazar-e-Sharif nem tampouco,
até agora, chacinas dos novos donos do poder. Na verdade, o Taleban deixou de existir na cidade
como poder, não como prática.
Tanto o clima quanto a ausência
de represálias até agora se explicam pelo fato de a região ser um
centro pashtu, a etnia-base do Taleban. Logo, não há um boom de
barbeiros na cidade, as mulheres
não jogaram fora suas burgas
nem há rádios espalhados pela cidade. Ao contrário: diante da sugestão de uma jornalista americana para que ligassem um walkman a um alto-falante, um soldado pashtu reclamou de forma
veemente.
"Na verdade, há um sentimento
de alívio porque ninguém gostava
do Taleban. Mas acho que ainda
vai demorar um pouco para que
uma mulher se atreva a sair sem
burga aqui, até porque muitas já
andavam cobertas antes dos mulás tomarem o poder", diz Faizad
Khaler, um professor de 28 anos
que mora há dez em Jalalabad.
Com efeito, nas regiões mais
fortemente pashtus do vizinho
Paquistão, como em Peshawar, as
mulheres usam a tradicional roupa que cobre todo o corpo. Em Jalalabad, em três horas de caminhada a Folha viu apenas quatro
mulheres, todas devidamente
empacotadas.
No mais, a vida parece relativamente nos trilhos na cidade
-que, embora grande e miserável, não é mais pobre do que um
bairro da periferia paulistana.
"As coisas não mudaram não.
Mas preferimos o comandante
Abdul Qaddir ao Taleban", disse
o estudante Sefullah Mahmud, 18,
antes de entrar na mesquita central da cidade para as orações da
sexta-feira. O rapaz reproduz o
sentimento geral da região, muito
mais ligada a figuras tribais carismáticas do que a doutrinas politico-teológicas.
Vendedores nos bazares estão
ativos, em especial em seu apetite
para ludibriar estrangeiros incautos. E as crianças, até agora, ainda
vão às aulas.
Ou melhor, os meninos. O veto
do Taleban à educação para meninas, talvez a mais obscurantista
das medidas da milícia extremista
islâmica, é oficialmente o alvo número um da nova gestão pashtu.
"Vamos abrir 10 mil vagas rapidamente nas escolas", afirmou o
governador Abdul Qaddir. O que
se entende por rapidamente é algo vago, de todo modo, e o número não parece muito animador
para uma população de 700 mil
habitantes.
Já diante de perguntas sobre o
destino dos milicianos do Taleban, as respostas são mais ou menos uniformes. O grosso das forças foi para o sul, mas cerca de 800
dos "árabes-afegãos" ligados à Al
Qaeda de Osama bin Laden estão
espalhados pelas montanhas em
volta de Jalalabad. Eles são vistos
como um perigo constante, porque não contam com a simpatia
de ninguém -os pashtus têm
forte preconceito contra árabes
como os sauditas e egípcios ligados a Bin Laden, seus mais capazes e fanáticos soldados.
Mas há um componente interessante: o fato de que membros
da administração do mulá Mohamad Omar ficaram em Jalalabad.
A reportagem ouviu cinco relatos
diferentes de pessoas que simplesmente tiraram seus turbantes
pretos à Taleban, colocaram um
chapéu típico da região e voltaram para suas antigas ocupações.
Por motivos óbvios, essas pessoas estão refratárias a contatos
com jornalistas. "Mas é o seguinte: o sujeito que fazia parte da gestão do Taleban e não era soldado
simplesmente voltou para casa.
Pôs o turbante na gaveta", diz
Khaler.
O fato é que, com a crescente incerteza sobre quem vai mandar
no país, aparentemente a população de Jalalabad está optando por
seguir o folclorizado conselho
atribuído ao presidente George
W. Bush: "Vamos a ver".
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