São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2001

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Governo americano vive clima de euforia

BOM HUMOR

Em uma semana, Washington passa da melancolia ao otimismo diante das vitórias no Afeganistão

R.W. APPLE JR.
DO "THE NEW YORK TIMES"

Que diferença uma semana faz. Na semana passada, Washington pertencia aos céticos e aos cheios de dúvidas. Porta-vozes na Casa Branca foram bombardeados com perguntas sobre a campanha contra o terrorismo. A estratégia no Afeganistão jamais funcionaria, diziam as pessoas. Confiava muito nos bombardeios pesados, afirmavam. Seria necessário usar tropas terrestres, diziam.
Nenhum dos profetas pessimistas teria mesmo concebido a sugestão de que forças amigáveis aos Estados Unidos controlariam todas as principais cidades do Afeganistão antes do Natal.
Então, de repente, a supostamente fraca Aliança do Norte atacou o norte de Cabul, controlado pelo Taleban, e continuou avançando. Cabul caiu na terça-feira, Jalalabad, na quarta-feira, e as forças anti-Taleban estavam movendo-se na direção de Candahar.
E, enquanto as tropas do Taleban se retiravam, o mesmo fazia o dúbio, senão inequívoco, clima melancólico em Washington, para ser substituído por uma suspeita eufórica de que as coisas haviam mudado para melhor.
O vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, afirmou que a campanha militar havia sido "enormemente bem-sucedida e o Taleban estava em péssima forma".
O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, principal aliado de Bush na campanha contra o terrorismo, disse que, com seu apoio "evaporando", o Taleban estava perto de um colapso.
Militares de alto escalão no Pentágono e os planejadores na Casa Branca fizeram o melhor para manter o otimismo sob controle.
John Stufflebeem, conduzindo o relatório militar, advertiu que "pode ser uma presunção perigosa acreditar que está sendo observado um colapso e, consequentemente, o desmantelamento do Taleban até o ponto em que ficarão ineficientes".
Claramente, como na Guerra do Golfo (1991), o poder aéreo provou ser mais potente do que os seus críticos esperavam.
"A Aliança do Norte não chegou a lugar nenhum sem apoio aéreo", afirmou um senador democrata que pediu para não ser identificado. "Não achava que fosse chegar a algum lugar com ele, mas eu estava errado."
Acontecimentos no solo ultrapassaram a capacidade dos políticos de planejar um novo governo em Cabul. Nem os britânicos nem os russos "jamais descobriram uma maneira de governar o local", comentou um advogado.
Poucas pessoas em Washington se sentem seguras sobre o que precisamente aconteceu. O Taleban sofreu grandes perdas de homens e equipamentos que tornaram impossível a defesa das cidades? Eles foram desmoralizados? Ou eles acharam melhor desistir das cidades e ficar nas cavernas e montanhas onde a tecnologia é menos eficaz?
E crucialmente: onde está Osama bin Laden? Seu protetor, o mulá Mohamad Omar, ainda está livre, lançando ameaças contra os EUA, e assim estão muitos da rede Al Qaeda, no Afeganistão e em outros lugares.


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