|
Texto Anterior | Índice
Para advogada, cultura não é pretexto para violação
DA REDAÇÃO
Fatores culturais não devem
servir de pretexto para violações
aos direitos humanos, segundo a
advogada norte-americana Layli
Miller, que obteve asilo nos EUA
para uma africana que fugiu do
Togo a fim de evitar a mutilação
genital: Fauziya Kassindja.
"A fronteira entre cultura e violação se faz clara nos documentos
internacionais de defesa dos direitos humanos, elaborados por representantes de diversos países. O
mundo já definiu o que é uma violação. Não é correto dizer: "O que
acontece com muita gente está
certo". Já houve escravidão nos
EUA, mas isso não abona a prática", disse Miller à Folha.
"Há uma distinção evidente entre uma parte saudável de uma
determinada cultura e uma violação. Uma mulher pode escolher
usar um véu. Não há problema algum nisso. Mas impor o uso é diferente", argumenta Miller, 29, diretora da organização não-governamental Tahirih Justice Center,
que oferece assistência jurídica a
mulheres de vários países, incluindo 400 afegãs.
"As afegãs são mais de 50% da
população e muitas não podem
trabalhar nem estudar. Elas têm
de pintar as janelas de preto para
que não sejam vistas e não devem
usar sapatos que façam barulho e
denunciem sua presença. Em algumas regiões, a punição para
pintar as unhas é a amputação
dos dedos. Elas só podem ser
atendidas por médicas, mas o Taleban as impede de trabalhar."
No último dia 8, Miller participou do seminário "Advocacia pro
bono, em defesa da mulher", realizado em São Paulo.
"Antes dos ataques pedíamos
que os EUA fizessem algo pelo
Afeganistão. O modo como as
mulheres costumavam ser tratadas era um sintoma de uma doença grave. Se as mulheres são maltratadas, isso é um reflexo da situação da sociedade", afirma.
Entre as formas de discriminação contra mulheres, a advogada
cita o tráfico de mulheres, a violência doméstica e os "honor killings" (assassinatos motivados
por ofensas à "honra").
"Crimes de honra também são
um problema no Brasil. Parecem
diferentes do que ocorre no Paquistão, onde uma mulher pode
ser morta por se recusar a casar-se
com o homem indicado por seu
pai, mas traduzem a mesma idéia:
a honra de um homem é um pretexto para assassinatos. Por
exemplo, se ele descobre que a
mulher o trai, ele a mata e não necessariamente é enviado à prisão.
Isso também é crime de honra."
Segundo Miller, "uma em cada
quatro brasileiras é vítima de violência doméstica. No ano passado, apenas 2% dos casos relatados
resultaram em algum tipo de punição. No Brasil e em vários países, há uma grande lacuna entre a
lei e sua implementação".
(PDF)
Texto Anterior: Direitos Humanos: "Mutilação genital feminina tem de acabar" Índice
|