São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 2002

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VENEZUELA

Guarnição é leal a prefeito de Caracas, inimigo político do presidente

Chávez intervém em polícia opositora

DA REDAÇÃO

O Exército entrou em choque com opositores do governo ontem em Caracas, no dia seguinte à intervenção do presidente venezuelano na polícia metropolitana da capital venezuelana.
Dezenas de tanques e veículos blindados saíram às ruas da cidade. Centenas de membros de Guarda Nacional, leal a Chávez, participaram da operação. Os militares utilizaram bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes.
A intervenção na polícia metropolitana aconteceu, segundo o governo, para garantir a ordem no país, uma vez que 400 dos 13 mil policiais da corporação estavam em greve por não receber salários atrasados.
Os grevistas estavam sendo acusados pelos demais de estarem sendo manipulados por Chávez para rachar a polícia. Durante a semana, choque entre os dois grupos chegou a deixar 11 feridos.
O comando da polícia metropolitana é do prefeito de Caracas, Alfredo Peña, um dos principais opositores de Chávez no país.
O prefeito, de acordo com o Ministério do Interior, está proibido, desde que foi implementada a intervenção, de ingressar em todos os recintos da corporação policial.
A oposição considerou a intervenção na polícia como ilegal.
Segundo o presidente venezuelano, a medida é temporária e visa resolver uma crise política. "Assim que a polícia for reestruturada, a intervenção será encerrada", disse Chávez em seu programa dominical no rádio. O presidente acrescentou que seus opositores estavam utilizando os oficiais para fins políticos.
"A polícia metropolitana está uma anarquia. É obrigação do Poder Executivo nacional se envolver em um problema de segurança e de ordem pública", disse o presidente. O presidente acrescentou que "a Venezuela é uma só república, não quatro".
Segundo Chávez, "a democracia não pode relaxar, quando alguns interpretam a democracia como uma anarquia". A intervenção na polícia metropolitana, afirma o presidente, "está respaldada pela Constituição".
As Forças Armadas venezuelanas foram colocadas nas ruas ontem após policiais leais ao governo nacional começarem a trocar tiros com os que permaneciam do lado da prefeitura de Caracas após o anúncio da intervenção na noite de sábado. Não houve vítimas nos confrontos.
O governo já nomeou um novo chefe para a polícia metropolitana, mas não se sabia quantos ficariam leais a eles. O chefe da polícia que estava sendo substituído, Henry Vivas, afirmava ontem que continuava no cargo.
Para analistas, a intervenção de Chávez na polícia metropolitana tem como objetivo neutralizar uma força armada hostil ao seu governo.
Opositores de Chávez divulgaram comunicado afirmando que o presidente não pode intimidá-los ao "colocar nas ruas veículos blindados. Nós precisamos mostrar a ele que iremos restaurar a democracia na Venezuela".
O prefeito de Caracas acusou ontem Chávez de estar criando um caos que pode arruinar a iniciativa de diálogo mediada pelo secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), Cesar Gaviria.
Tanto Chávez quanto os opositores haviam concordado em dialogar sobre um possível plebiscito para decidir se o presidente deve ou não seguir no cargo. A oposição quer que a votação seja realizada o quanto antes. Já Chávez afirma que a Constituição somente permite a convocação do plebiscito após julho de 2003.
Em abril deste ano, Chávez chegou a ser deposto por cerca de 48 horas em golpe comandado por civis e militares.


Com agências internacionais


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