São Paulo, quinta-feira, 18 de novembro de 2010

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Mortes elevam tensão no Saara Ocidental

Conflito mais antigo da África opõe Marrocos e líderes pró-independência; 12 pessoas morreram nos últimos dias

Apesar de confrontos na ex-colônia espanhola controlada pelo governo de Marrocos, ONU não deve investigar o caso

SAMY ADGHIRNI
DE SÃO PAULO

A Frente Polisario, que disputa com o Marrocos a soberania sobre o Saara Ocidental, criticou ontem a França por ter vetado na véspera o envio de uma missão da ONU para apurar recentes episódios de violência que deixaram ao menos 12 mortos.
O território no oeste africano é uma ex-colônia espanhola controlada pelo governo marroquino desde 1975, rica em fosfato e com grande potencial pesqueiro.
Os incidentes, ocorridos na cidade de El Aiun, capital do território em disputa, jogaram luz sobre o conflito mais antigo da África e um dos mais antigos do mundo, ao lado do árabe-israelense e do que afeta a Caxemira.
Causou irritação à Polisario o fato de Paris ter usado seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU para se alinhar à posição do Marrocos, que tem relações econômicas e políticas privilegiadas com a França.
O Conselho se limitou a "deplorar a violência" e exigiu que as partes demonstrassem "mais vontade política" de resolver o conflito, mediado pela ONU e monitorado por uma missão de paz.
A ONU reconhece a Polisario como movimento político, mas não a República Árabe Saaraui Democrática (RASD), que os militantes defendem na região conhecida como Saara Ocidental.
A crise atual começou há um mês, quando ao menos 12 mil saarauis de todas as idades se instalaram num imenso acampamento nos arredores de El Aiun para protestar contra Marrocos.

VERSÕES
Apesar das reivindicações por melhores condições de vida, a manifestação foi imediatamente tida como um levante dos saarauis, que se consideram vivendo sob ocupação marroquina.
O protesto foi orquestrado em meio à retomada das conversas na ONU entre as partes e às vésperas do dia 6 de novembro, data do 35º aniversário da Marcha Verde, na qual 350 mil marroquinos caminharam até o Saara.
A tensão gerada pelo acampamento se espalhou pelas ruas de El Aiun. Houve destruição e saques de bancos, lojas e supermercados.
O Exército invadiu o campo no último dia 8.
A Polisario diz que houve massacre de civis. A ONG Human Rights Watch, além da França, defendem a versão do Marrocos de que 12 pessoas foram mortas, entre elas dez militares marroquinos.
O Marrocos acusa a vizinha Argélia de ter insuflado os protestos. Diz ainda que os argelinos querem transformar uma eventual República Saaraui em Estado satélite para ter acesso ao Atlântico.
Os marroquinos afirmam que a Argélia quer sabotar o plano de autonomia apresentado por Rabat em 2007.
Já o governo argelino diz que as autoridades marroquinas praticam atrocidades diárias contra os saarauis, e que o Marrocos ocupa ilegalmente o vizinho do sul.
Segundo Argel, EUA e França apoiam Marrocos em troca de apoio na guerra ao terror e de contratos de compra de armas por Rabat.


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