São Paulo, quarta-feira, 18 de dezembro de 2002

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AMÉRICA LATINA

Washington apóia resolução da OEA que pede saída "institucional'; oposição anuncia desobediência civil

Crise piora na Venezuela, advertem EUA

Juan Barreto/France Presse
Simpatizantes do presidente Hugo Chávez participam de ato pelo 172º aniversário da morte de Simón Bolívar, ontem, em Caracas


DA REDAÇÃO

Os EUA disseram ontem que a situação política na Venezuela, após mais de duas semanas de greve geral, está "se deteriorando rapidamente" e que esperam que uma solução possa ser encontrada depressa. O porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, também manifestou apoio do governo dos EUA a uma resolução da OEA (Organização dos Estados Americanos), aprovada anteontem à noite, que declara apoio "à institucionalidade democrática na Venezuela".
A greve geral, iniciada no dia 2, foi chamada pela oposição para forçar o presidente Hugo Chávez a aceitar um referendo sobre seu mandato. Mas a maioria dos líderes grevistas já exige a renúncia do presidente ou a convocação de eleições antecipadas. A paralisação vem afetando seriamente a indústria petrolífera venezuelana, principal fonte de divisas do país. A Venezuela é o quinto maior produtor mundial de petróleo.
Os líderes da oposição ignoraram ontem as declarações feitas na véspera pelo comandante-geral do Exército, Julio García Montoya, que chamou a greve de "agressão à sobrevivência do Estado", e anunciaram um movimento de desobediência civil.
A estratégia da oposição inclui uma marcha, ainda sem data definida, ao palácio presidencial de Miraflores, em Caracas. Naquela região, em 11 de abril, ao menos 17 pessoas morreram em confrontos que antecederam o golpe frustrado que tirou Chávez da Presidência por dois dias.
O vice-presidente da Venezuela, José Vicente Rangel, afirmou que a retórica da oposição contra Chávez poderia levar a uma tentativa de assassiná-lo. Rangel acusou a oposição de tentar "demonizar o chefe de Estado" e fazê-lo "alvo para alguma ação irresponsável, seja um golpe, um ato terrorista ou um assassinato".

Situação "volátil"
A resolução aprovada anteontem pela OEA, após 25 horas de debates, com o voto unânime de seus 34 membros, foi elogiada tanto pelo governo venezuelano quanto pela oposição.
O texto pede uma saída institucional à crise, mas não manifestou um apoio direto a Chávez, como desejava o embaixador venezuelano na organização, Jorge Valero. "Alcançamos um consenso sobre como chegar perto da verdade", afirmou Valero.
A resolução deixa ainda aberta a possibilidade de novas resoluções serem aprovadas se a situação no país piorar. O texto pediu ao governo e à oposição que cheguem a um acordo para "uma solução constitucional, democrática, pacífica e eleitoral".
O secretário-geral da OEA, César Gaviria, que está em Caracas há mais de um mês para tentar mediar um diálogo entre o governo e a oposição, vem dizendo que, até agora, as tentativas de negociação têm sido infrutíferas.
O embaixador dos EUA na Venezuela, Charles Shapiro, pediu ontem uma "solução urgente" para a crise, após se reunir com Gaviria. "Estamos chegando a uma situação muito volátil. Por isso, é mais importante do que nunca que encontremos uma solução pacífica e democrática", disse.
O chanceler venezuelano, Roy Chaderton, disse que a resolução da OEA defende os interesses não somente da Venezuela, mas de toda a sua vizinhança. "Se prosperar uma conspiração golpista em algum país latino-americano, isso terá um efeito negativo em todo o continente", disse.

Bolívar
Um dia após um protesto da oposição ter bloqueado por várias horas estradas e avenidas na capital, provocando grandes congestionamentos, uma nova passeata antichavista se dirigiu ontem para o memorial onde estão as cinzas de Simón Bolívar, herói nacional da independência.
Horas antes, o próprio Chávez, que utiliza a memória de Bolívar para justificar suas orientações políticas, havia participado, no local, de uma homenagem ao 172º aniversário de sua morte. O memorial fica a menos de um quilômetro do palácio presidencial.
Chávez diz que não renunciará e que seguirá a Constituição, que só permite a realização de um referendo sobre seu mandato a partir de agosto do ano que vem, quando seu governo chega à metade. O mandato termina em 2007.

Com agências internacionais

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