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São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 2003

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Saddam está no Iraque, diz conselho

DA REDAÇÃO

O Conselho de Governo Iraquiano reiterou ontem que o ex-ditador Saddam Hussein, capturado pelas forças americanas no último sábado, está detido na região de Bagdá e será submetido a julgamento público no Iraque.
"Saddam Hussein está na grande Bagdá. Ele não foi levado para o Qatar. Essa informação foi desmentida pelo [chefe da Autoridade Provisória da Coalizão, Paul] Bremer", disse Mowaffaq al Rubaie, integrante do conselho. "Se Deus quiser, ele será julgado por um tribunal público iraquiano."
Anteontem, o presidente dos EUA, George W. Bush, disse que caberia aos iraquianos decidir o destino do ex-ditador. Na semana passada, o conselho, submetido aos EUA, instituiu um tribunal especial para julgar membros do regime deposto, inclusive Saddam.
A questão gerou discussão internacional e questionamento pelas organizações de direitos humanos, que põem em dúvida a isenção dos iraquianos, bem como a estrutura jurídica do país -que passou décadas submetida a uma ditadura- para um julgamento desse porte.
Outro ponto nebuloso é o paradeiro de Saddam após sua captura. Os EUA não revelam onde o mantêm, mas já negaram que ele tenha sido retirado do país.
A dúvida está alimentando a crença no Iraque de que as imagens da prisão de Saddam não passem de uma encenação, difundida entre os moradores do Triângulo Sunita. A região, ao norte e a oeste de Bagdá, concentra simpatizantes do regime deposto e se tornou o maior foco de violência no pós-guerra.
Fallujah, Samarra, Mossul e Tikrit -cidade onde Saddam cresceu e perto da qual estava escondido no momento da captura- são palco de manifestações diárias a favor do ex-ditador, a maioria das quais resulta em confronto com soldados dos EUA.
Tamanho é o apoio a Saddam na região que as forças americanas se viram obrigadas a anunciar, em carros de som, que é falsa a notícia de que a prisão seria uma encenação e que o homem que aparece nas imagens seria um dublê de Saddam.
"As forças de coalizão prenderam Saddam Hussein. Informações de que se tratava de um dublê de Saddam são falsas", diz o anúncio, em árabe. "O regime deposto não vai voltar nunca. Esse é o fim do partido Baath", segue, referindo-se ao extinto partido, comandado pelo ex-ditador, que governava o Iraque desde 1968.
Mas nem todos acreditam. "É alguém usando uma máscara de Saddam", disse o borracheiro Waleed Ibrahim, 25, à agência de notícias Associated Press. "É um truque para ajudar o presidente Bush a se reeleger."
O ceticismo é o mesmo que tomou o Triângulo Sunita quando os EUA mataram Uday e Qusay Hussein, filhos de Saddam (um sunita), em julho. Reflete, em parte, o ressentimento com a perda de prestígio da região que, sob o antigo regime, era privilegiada em detrimento das áreas habitadas por xiitas ou curdos - que juntos perfazem 80% dos iraquianos.


Com agências internacionais

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