São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

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Lula rechaça proposta de Morales contra Washington

ENVIADO ESPECIAL À COSTA DO SAUÍPE

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rejeitou proposta de seu colega boliviano Evo Morales de dar um prazo ao governo norte-americano para eliminar o embargo a Cuba, sob pena de retirada dos embaixadores em Washington de todos os 32 países da América Latina e do Caribe (menos Cuba, que não tem relações com os EUA).
A proposta de Morales foi apresentada na sessão plenária da cúpula da América Latina e do Caribe e teve o endosso do equatoriano Rafael Correa: "É necessário ver em quantos meses vão levantar esse absurdo embargo a Cuba", disse Correa.
Lula, na entrevista coletiva de encerramento das cúpulas, sentado ao lado de Morales, também condenou enfaticamente o bloqueio. "Não consigo entender o bloqueio a Cuba, a não ser por birra."
Mas se disse "mais cuidadoso" do que o colega boliviano. Por isso, prefere esperar que Barack Obama tome posse (no dia 20 do mês que vem), "para ver qual é a sua proposta para a América Latina, para Cuba, para o Oriente Médio".
Só depois, acha Lula, caberia "aprovar ou questionar" as propostas. Mas a retirada de embaixadores nem sequer foi por ele mencionada como hipótese a curto, médio ou longo prazo.
O presidente brasileiro, eterno otimista, se disse também esperançoso de que o governo Obama implemente de fato mudanças. Chegou a brincar com a hipótese de que Obama visite a Venezuela, que Hugo Chávez visite Obama, com o que se abriria espaço para convidar o presidente dos Estados Unidos para a próxima cúpula da Organização dos Estados da América Latina e do Caribe (em 2010, portanto com tempo suficiente para que a esperança de Lula seja confirmada ou desmentida).
O presidente brasileiro acha que os EUA têm que enxergar as mudanças ocorridas na América Latina, que resumiu assim: nos anos 70, havia luta armada, bipolaridade, Guerra Fria. "Tudo isso acabou", afirmou, para lembrar em seguida que o Foro de São Paulo, criação do PT nos anos 80, era um esforço de "unificação das esquerdas latino-americanas", inclusive as de luta armada. "Hoje, vejo muitos companheiros no governo de seus países", completou, para apontar o grau de mudanças ocorridas na região e que Obama deveria ver.
Já na sessão plenária, Lula havia elogiado Cuba e criticado anteriores governos latino-americanos, ao dizer: "Todos os países ficaram apostando para ver quem era mais amigo de quem governava os EUA". Emendou: "É importante ter relações com todos os países, mas a subserviência não ajuda nenhum país a crescer."


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