São Paulo, segunda, 19 de janeiro de 1998.



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CRISE NO GOLFO
Bagdá quer formar força de um milhão de voluntários; diplomata iraquiano é assassinado na Jordânia
Iraque declara 'guerra santa' a sanções

das agências internacionais

O Iraque declarou uma "jihad" (guerra santa) contra o embargo da ONU ontem e convocou os iraquianos para formarem uma força de um milhão de voluntários para lutar pelo fim das sanções, impostas em 1991.
"Nós estamos determinados a empreender uma grande 'jihad' para suspender as sanções", disse o vice-presidente iraquiano, Taha Yassin Ramadan. "Não há outra alternativa, após sete anos de paciência e cooperação com a ONU e seus comitês", disse ele.
"O Ministério da Defesa convoca todos os homens e mulheres do Iraque a se alistarem em treinamento popular que ocorrerá em todas as regiões do país a partir de 1º de fevereiro", anunciou a agência oficial de notícias "INA".
"O treinamento vai envolver um milhão de combatentes, de diferentes idades e níveis, homens e mulheres", disse a "INA", citando Ramadan.
"Nós entramos no oitavo ano das sanções. O povo iraquiano está sofrendo com mortes, fome e doenças. E não há nada que indique que as sanções serão suspensas pelo Conselho de Segurança (da ONU)", disse Ramadan.
No sábado, falando na TV por ocasião do sétimo aniversário do início da Guerra do Golfo, Saddam já havia convocado voluntários para a luta.
"Nós devemos mostrar a determinação do povo, sob a liderança do grande (Partido) Baath, para lutar para que o Iraque continue existindo do jeito que é", disse o ditador iraquiano.
A crise atual entre o Iraque e a ONU começou quando Bagdá barrou este mês o trabalho de uma das equipes de inspeção da ONU, acusando-a de espionagem.
Saddam ameaça expulsar todas as equipes da ONU em seis meses se não houver perspectivas de suspensão das sanções.
Washington não descarta o uso da força para obrigar Bagdá a aceitar as inspeções incondicionalmente, como determinam as resoluções da ONU. Segundo elas, as sanções só serão suspensas após as equipes de inspeção certificarem que o Iraque eliminou o seu arsenal de armas de destruição em massa.
A secretária de Estado dos EUA, Madeleine Albright, disse ontem que Saddam está "cavando um buraco mais fundo na areia" em relação às sanções. "Ameaçar expulsar as equipes da ONU não vai resolver a situação", disse ela.
Richard Butler, que chefia a Unscom (a comissão da ONU encarregada de eliminar o arsenal iraquiano), deve chegar hoje ao Iraque. "Eu tenho uma mensagem do Conselho de Segurança para os iraquianos. Espero que eles restabeleçam a cooperação com a ONU", disse Butler.
Assassinato
Em Amã, capital da Jordânia, o encarregado de negócios iraquiano Hikmat al-Hajou foi morto junto com outras sete pessoas, incluindo um egípcio.
Os assassinatos foram cometidos a facadas no sábado à noite, na casa de um rico empresário. Algumas fontes em Amã disseram que o crime poderia estar relacionado a disputas comerciais.
Uma grega que sobreviveu ao ataque, ferida gravemente, teria dito que os atacantes seriam cerca de seis e falariam árabe com sotaque iraquiano. Bagdá pediu uma investigação rigorosa do caso.
Iraque e Jordânia, aliados no passado, estão com as relações estremecidas por causa da aproximação da Jordânia com os EUA e com Israel.
No mês passado, o rei Hussein da Jordânia atacou o Iraque pela execução de quatro jordanianos acusados de contrabando. Há suspeitas de que estariam envolvidos em tentativa de golpe contra Saddam.
A "INA" disse ontem que Saddam decidiu libertar imediatamente todos os prisioneiros jordanianos detidos nas cadeias do Iraque, independente do crime cometido.



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