São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 2001

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ORIENTE MÉDIO
Grupo diz que matou executivo ligado a Arafat por causa de sua suposta corrupção, em desafio ao líder palestino
Palestinos assumem morte de chefe de TV

PHIL REEVES
DO "THE INDEPENDENT", EM GAZA

Um grupo militante palestino reivindicou ontem o assassinato de Hisham Mekki, diretor da TV estatal palestina. Se a afirmação for verídica, trata-se de um dos mais sérios desafios internos lançados em anos ao presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, e seu círculo de assessores mais próximos.
Um grupo chamado Brigada de Mártires Al Aqsa (nome de mesquita em local disputado de Jerusalém Oriental) divulgou um comunicado dizendo que sua "unidade de combate à corrupção" matou o executivo de 54 anos, abatido a tiros por dois pistoleiros encapuzados numa mesa de um restaurante à beira-mar na faixa de Gaza, anteontem.
Mekki, famoso por seu envolvimento com corrupção, foi o primeiro membro do círculo de Arafat a ser morto na Intifada atual. O levante palestino, que já dura 16 semanas e tem um saldo de mortos de 309 palestinos, 45 israelenses e 13 árabes israelenses, vem aumentando a confiança e a influência dos grupos militantes que se opõem aos acordos de paz com Israel. Mekki era associado com Arafat, embora não fossem muito próximos, e ocupava um escritório situado no quartel-general do líder palestino em Gaza.
Os ressentimentos provocados pela corrupção em altas esferas vêm fervilhando há anos nas ruas da Cisjordânia e da faixa de Gaza. Anteontem já corriam boatos de que o assassinato de Mekki teria sido um aviso lançado a altos funcionários palestinos por um grupo radical. A pouco conhecida Brigada de Mártires Al Aqsa, que reivindicou vários ataques recentes a alvos israelenses, disse que matou Mekki porque ele desviou milhões de dólares para contas próprias e assediou sexualmente funcionárias mulheres.
"O fato de... a Autoridade Nacional Palestina e o presidente (Arafat) não terem punido essas pessoas sujas nos obrigou" a cometer o assassinato, disse o comunicado do grupo.
A Autoridade Nacional Palestina atribuiu o atentado, que teve as características de um crime cometido por profissionais, sob encomenda, a "colaboradores" com Israel. Mas, o que é significativo, não a Israel propriamente dito.
O governo israelense negou qualquer envolvimento com o incidente. Israel vinha acusando a TV palestina de reproduzir cenas sangrentas da Intifada e incitar ataques contra israelenses.
Cerca de mil pessoas acompanharam o enterro de Mekki, inclusive Arafat, que ajudou a carregar o caixão.



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