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São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 2003

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VENEZUELA

Presidente veio pedir a entrada de países como Rússia e Jamaica no grupo pela paz, mas ouve argumentos contrários em Brasília

Chávez recua e diz aceitar Grupo de Amigos

Vitor Soares/Radiobrás
Hugo Chávez dá entrevista ao chegar na base Aérea de Brasília


ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA



O presidente venezuelano, Hugo Chávez, chegou ontem a Brasília criticando a formação do Grupo de Amigos da Venezuela. Depois de se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Chávez voltou para seu país resolvido a dar um "crédito de confiança" ao Brasil, mas ainda achando que o grupo deveria ser ampliado.
Segundo o chanceler Celso Amorin, "nós explicamos que o equilíbrio encontrado para a participação dos países é um equilíbrio delicado e importante para que estejam representadas diversas opiniões". "Creio que ele entendeu. Provavelmente continuará pensando que deveriam participar outros países, mas decidiu dar um crédito de confiança ao grupo como está funcionando."
O chanceler disse que assuntos como envio emergencial de petróleo não foram tratados.
O mandatário venezuelano havia dito que iria tratar de um intercâmbio energético entre a Petrobras e sua correspondente venezuelana, a PDVSA. Chávez dissera também que a viagem serviria para "dar [a Lula" um diagnóstico mais preciso da crise".
Chegando a Brasília, ele criticou a "pré-configuração" do grupo. "Esse é o primeiro grupo, não é o grupo. É só um embrião", afirmou, criando constrangimentos para o governo brasileiro. As críticas foram feitas na Base Aérea, antes até da reunião com o presidente Lula, o chanceler Amorim, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia e o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Guimarães, que o esperavam desde cedo na Granja do Torto.
Antes de sair da Venezuela, Chávez havia também dito que poderia deixar a mesa de negociações que seu governo participa com a oposição. Essa iniciativa é mediada pelo secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), o ex-presidente colombiano César Gaviria.

Chá de cadeira
Chávez era esperado às 7h30, mas só desembarcou às 9h50. Mesmo atrasado, ainda deu entrevista na Base Aérea e só então rumou para a granja, residência oficial do presidente nos fins de semana. Chegou lá às 10h40, uma hora e meia depois de Lula.
Foi a segunda vez que Chávez deu chá de cadeira no presidente brasileiro, um de seus maiores defensores no cenário internacional. A primeira foi no dia de estréia de Lula na Presidência, 2 de janeiro, quando recebeu a deferência de ser a primeira audiência formal no mandato do presidente e chegou uma hora atrasado para o café da manhã.
O grupo de Amigos da Venezuela foi criado na terça-feira, em Quito, sob a coordenação da OEA e incluindo seis países: Brasil, autor da idéia, EUA, Espanha, Portugal, Chile e México. O objetivo é promover o improvável diálogo entre Chávez e a oposição para tentar uma saída constitucional para a crise política no país.
A Folha apurou com autoridades do governo americano que o primeiro encontro do grupo deve se dar mesmo no Brasil, daqui a cerca de duas semanas.
Para o presidente venezuelano, o grupo precisa ser ampliado para incluir mais amigos do seu país -ou do seu governo- em praticamente todos os continentes. Falou, especificamente, em Rússia, Cuba e França -que já vinha citando- e acrescentou uma novidade à reivindicação: a Jamaica.
"A Rússia tem solicitado participação. O Putin [Vladimir Putin, presidente russo" é um grande amigo, e não queremos que a Rússia fique de fora", disse Chávez, acrescentando que Fidel Castro (Cuba) não se recusaria a integrar o grupo e elogiando o premiê da Jamaica, Percival Patterson.
Quando indagado sobre a participação dos EUA e da Espanha, países que apoiaram o golpe contra ele em 2001, Chávez se escorou na posição brasileira: "Não temos nenhum temor, porque está presente [no grupo" o Brasil", disse.
A Venezuela vive uma greve geral desde 2 de dezembro, com o comprometimento da exploração, do refino e da distribuição de petróleo, principal produto da economia do país.


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